O Duque do 504

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Aperto o botão do elevador e enquanto o espero digito uma mensagem no grupo com minhas amigas avisando que chegaria em 20 minutos, isso se a chuva permitisse. Estava acontecendo um verdadeiro dilúvio do lado de fora. Minha vontade era de continuar em casa, embaixo de um edredom, comendo sorvete e assistindo filmes clichês de romance só para me deixar ainda mais carente. Eu sugeri isso no grupo, mas Maria estava irredutível em mudar nosso cronograma.
– É tradição, Amélia –ela dizia comigo no telefone quando eu olhava as nuvens negras da janela do meu apartamento, antes de começar a escolher minha roupa – Mais um dia dos namorados que estamos solteiras e merecemos um dia de diversão pra não ficar na fossa sozinha.
– Eu sei, mas irá cair um pé d'água a qualquer momento. Sabe que quando chove fica tudo parado.
– Pegue o metrô – ela sugere bem na hora que um raio ilumina meu quarto e o travão faz o vidro da janela tremer – Você não é feita de papel, amiga. Um pouco de chuva não mata ninguém e nós vamos ficar em um bar fechado. Lúcia, Sabrina e Mia já estão se arrumando. Deixa de preguiça e coloco logo uma roupa bem linda e sexy. Te esperamos lá.
Antes de eu dizer qualquer coisa, minha melhor amiga desliga o telefone. Não adianta nem dar a desculpa de que tinha provas dos alunos para corrigir já que ela sabia que eu me organizo para corrigir todos os trabalhos o quanto antes, para domingo poder estar 100% livre, sem me preocupar em organizar aula, tarefa ou qualquer outra coisa que uma professora de ciências do ensino fundamental poderia fazer. E justamente esse ano o Dia dos Namorados caiu em um Domingo.
Agora estava eu extremamente arrumada para aproveitar o dia mais romântico do ano. Eu merecia sair e me divertir um pouco, mesmo sabendo que não poderia beber muito já que amanhã teria que estar cedo na escola e ressaca no trabalho é uma combinação que nunca deu certo. Meu celular vibra com uma mensagem de Maria informando que já tinha chego e que havia um monte de homem bonito e desacompanhado. Não passa nem um minuto e ela me manda outra mensagem.
"Quem sabe aqui você não encontra o homem dos seus sonhos ao invés de ficar vivendo um romance platônico com o Duque do 504."
Dou um suspiro e guardo meu celular na bolsa. Minha melhor amiga tem razão. Já tenho 26 anos, já passei da idade de ficar suspirando por causa de um vizinho. Mesmo que ele seja um vizinho extremamente lindo, gentil, educado, charmoso e comprometido. Preciso ficar me lembrando disso sempre, de que nós nunca teríamos nenhuma chance de ficar juntos, mas falar é fácil, difícil é fazer o coração obedecer.
     Eu moro no apartamento 505, em frente ao dele. Maria, que é apaixonada por livros de romance de época, o viu a primeira vez saindo de casa com uma roupa elegante e ela sussurrou pra mim que ele tinha pose de Duque, desde então nos referimos a ele assim.
O elevador havia chegado e quando a porta do mesmo abre, não havia ninguém dentro dele. Olho-me no espelho ajeitando as ondas que havia feito em meus cabelos ruivos. Nos lábios eu havia passado um batom vinho mate. Sempre amei essa cor e nunca tive muito oportunidade de usar, já que em meu trabalho só é permito usar cores claras. Meu vestido preto era de manga cumprida e justo, indo até o meio de minha coxa. Escolhi a roupa mais sexy que eu tinha em meu armário, o que não eram muitas, mas estava feliz com o resultado. Só espero que a chuva tenha diminuído, pois não me produzi toda para chegar no bar encharcada.
– Segura para mim, por favor – meu coração dispara ao escutar essa voz tão familiar. Viro de costas para o espelho e seguro a porta do elevador que já estava quase fechando – Obrigado – ele agradece abrindo um sorriso lindo.
– Nada – digo com minha voz quase sumindo. Ele entra no elevador e a porta se fecha. Nessas horas iria amar que o elevador do prédio tivesse aquelas músicas ambiente, pois meu coração batia tão alto que tinha certeza de que Théo ouvia.
Théo, mais conhecido como o Duque do 504 ou meu vizinho que eu tenho uma queda absurda desde o dia que me mudei e ele me ajudou com todas as caixas e malas da mudança. O achei extremamente bonito, com sua pele escura e seu sorriso caloroso. Não demorou muito para nos tornarmos amigos e termos uma rotina que considero sagrada. Todos os dias acordamos cedo para levar nossos cachorros para passear e fazemos isso sempre no fim da tarde também, sendo essa última mais longa já que não temos pressa de ter que ir para o trabalho. Todo sábado à noite ele vai para meu apartamento ou eu para o dele assistir séries e filmes. Também corrigimos as provas dos alunos juntos. Ele sempre com um copo de café do seu lado e eu com meu chá. Ao final das correções lemos em voz alta as melhores respostas. Sei que logo esses nossos encontros irão acabar assim que ele se casar, o que acredito que seja em breve já que tem uns três meses que vi sua namorada com um anel bastante extravagante de noivado no dedo.
     Achei que ele me contaria sobre essa nova etapa em sua vida, mas ele não comentou nada comigo. Talvez por achar que não precisasse por estar bem óbvio, entretanto ele nunca nem mencionou seu namoro. O que eu respeito, não é todo mundo que gosta de falar em detalhes sobre sua vida pessoal.
– Você está muito bonita, Amélia – ele elogia me fazendo corar – Indo comemorar o dia de hoje com alguém especial?
– Sim, minhas amigas. Marcamos de nos encontrar em um bar – respondo olhando seus olhos escuros. Era impressão minha ou ele parecia feliz com minha resposta? Ou talvez ele esteja feliz porque Théo vive feliz. Nunca o vi de mal humor ou irritado.
Abro a boca para perguntar se ele estava indo encontrar Laís, mas nessa hora um barulho de trovão soa tão alto que de onde estávamos eu consegui ouvir. Em seguida, o elevador subitamente para e as luzes piscam.
Sem perceber eu agarro o braço de meu vizinho quando escuto outro trovão. Espero alguns minutos ele voltar a descer, mas nada acontece. Meu coração acelera e torço para não ter acontecido o que eu pensava. Não pode.
– Calma, Amélia, vai ficar tudo bem – ele diz acariciando meu braço para me tranquilizar. O Duque do 504 caminha até os números do elevador e aperta o de emergência.
     Nada acontece.
     Ele aperta o de abrir as portas.
     Nada acontece.
     Merda. Théo volta a me olhar coçando seus cabelos negros – É, pelo visto estamos presos no elevador.

***
Espero que tenham gostado desse primeiro capítulo. Essa história é um conto de 3 capítulos.
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⏰ Última atualização: Feb 13, 2022 ⏰

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