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O estacionamento escuro fazia o estômago de Lis revirar. Os pelos de seu braço se arrepiarem, ela estava tão nervosa, sentia aquilo sempre como se seu corpo fosse se desfazer, como se pudesse colocar todos os seus órgãos e sua própria alma para fora em uma demonstração nada bonita de vômito espesso. Lis abraçava o próprio estômago desejando que Parker chegasse logo, assim todas aquelas sensações iam sumir. Mas ele estava demorando mais que o costume, a moça duvidava que sua mãe acreditaria que sua corrida teria durado todo aquele tempo, precisava falar com Parker sobre tempo, sobre atrasos e principalmente sobre eles. 

Lis não se sentia decidida sobre muita coisa na vida, ela acabara de fazer 19 anos, ainda estava perdida em uma linha entre o sonho dos pais e os sonhos embaçados dela. Mas sobre Parker.. Sobre ele era diferente. Tudo relacionado a ele parecia certo, seguro, como nunca pareceu antes em nenhuma situação de sua vida. Mas ela estava cansada de mentir para todos, cansada de sair às escondidas a noite, cansada demais dos olhares furtivos serem os únicos que eles trocavam longe do escuro. Lis queria decisões, queria amor, amor de verdade, mas o medo de ser ingênua demais por querer isso a engolia, a mastigava deixando seu coração em frangalhos. Ela queria tanto poder conversar com alguém sobre eles, poder perguntar a suas amigas, a sua mãe, o que achavam, se ele realmente a amava como ela o amava…

─ Lis? ─ a voz potente de Parker atrapalhou seu raciocínio. Ele a olhava com seus grandes olhos pretos pela janela do carro. Todas as sensações dolorosas deram lugar a um sentimento inexplicável, o mesmo que tinha acabado de dar luz e cor ao estacionamento vazio. ─ Pode abrir?

Ela lançou o mais bonito sorriso que conseguia enquanto abria a porta. Parker logo se acomodou no banco do passageiro olhando para ela logo em seguida. 

─ Desculpe ter demorado tanto, eu estava em uma reunião de urgência no escritorio. ─ Ele explicou ─ espero realmente que sua mãe ache que você quer ao máximo ser saudável. 

Ele sorriu arrancando outro sorriso bonito dela.

Lis passou a mão pelo ombro dele até chegar no pescoço, ela sentiu os pelos da nuca dele se arrepiarem e sorriu com isso enquanto o puxava para um longo beijo cheio de saudades. Mas quando a mão de Parker tocou seu rosto, ela sentiu o frio do metal da aliança que ele usava na mão esquerda. Ela se afastou tão rapidamente que sentiu sua cabeça girar. 

─ Qual o problema? ─ o rosto bonito dele estava confuso, Lis sentia que poderia vomitar nos sapatos dele naquele momento. ─ O que aconteceu? 

Ela não conseguia dizer, sentia as palavras correndo para longe, se prendendo a uma sua garganta para matá-la sufocada em instantes. Como ela diria aquilo? Como ela explicaria a ele cada angústia que tomou conta do seu coração quando ela sentiu o frio metal da aliança de casamento dele em seu rosto? Como ela ao menos diria a três temidas palavras que haviam habitado seu ser no último ano?

─ Lis? Você está me assustando ─ tinha um apelo inconfundível na voz dele, mas ele tocou em seu rosto, ela sentiu de novo a aliança, mas agora ela sentiu como se queimasse. 

Perdendo todo o ar que respirava, Lis fugiu dele, saiu do carro ao tropeços quase caindo no chão. Ela não acreditava que aquilo estava acontecendo, que ela estava sendo dominada pelos seus medos, que eles estavam roubando o seu ar, fazendo-a correr de quem ela amava. 

─ Meu Deus, Lis ─ Parker gritou enquanto corria atrás dela. Ele conseguiu alcançá-la, não deixando ela ir muito longe, segurou seus braços com certa força a obrigando olhar para ele, nos olhos dele. ─ O que diabos deu em você? Você está fugindo de mim?

Ele olhou para ele, no fundo daqueles olhos bonitos que tinham encantado-a noite após noite. Fazia um ano desde que tinha visto aqueles olhos pela primeira vez, um ano desde que havia sentido o primeiro toque das mãos dele em sua pele, parecia que fazia uma vida, mas era apenas um ano recheado de mentiras, fugas e de uma traição imperdoável. Porque era isso que eles eram, eram traidores, não amantes, não confidentes, mas traidores. Lis queria acreditar em outras coisas, nas coisas bonitas que ele sussurrava quando estava ao lado dela na cama, mas ela não conseguia agora, não quando ainda sentia sua bochecha queimar.

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