Já fazem três anos desde que me mudei para Seoul. Sinceramente, eu estava um pouco cansado da vida movimentada de Los Angeles e parece que mesmo depois de tanto tempo eu ainda não consegui me acostumar com tanta informação nesse lugar.
Eu nunca havia morado sozinho antes, toda a minha família ficou na cidade em que morava antes e resolvi fazer faculdade aqui. Me pergunto o motivo dessa escolha até hoje.
Já estou no segundo ano da faculdade de Artes Cênicas, é algo que particularmente gosto desde muito novo, então já tinha muita certeza do que queria.
Às vezes, mesmo tendo muita certeza, eu me pergunto se é normal um jovem de 23 anos querer jogar tudo para o alto e desistir dessa porra de vida, além de que…
– Mark! Ei… Acorda! A gente tem que ir pro anfiteatro em cinco minutos.
Claro, também tem esses idiotas que estudam comigo. Mas acho que gosto deles.
– Eu já vou, preciso recolher minhas coisas.
– Já teria feito isso se não estivesse aí babando enquanto olha a parede. No que estava pensando?
– Em nada, vê se me erra hein. Chato.
Eu sorri e, sem demora, organizei todas as minhas coisas. Aquele que vivia me atormentando era o Jaebeom. Um cara tão certinho que chega a me dar nos nervos. Ele é meio louco às vezes, mas gosta de seguir as regras quando está na faculdade, parece até que existem duas personalizadas dentro de uma pessoa só. Uma das melhores cenas que já vi na vida foi ele bêbado, deitado no chão da minha casa e chorando porque não tinha terminado de ler um livro ainda.
Ele e eu fomos para o anfiteatro juntos quando terminei de organizar minhas coisas na sala. Tínhamos que assistir uma palestra do diretor e eu estava totalmente sem vontade de fazer isso. Vamos lá, não é o melhor programa para uma segunda-feira.
De qualquer forma, fomos para essa incrível e empolgante palestra sobre os conceitos e princípios da universidade. Era como se aquele discurso estivesse gravado na minha cabeça de tantas vezes que fomos obrigados a ouvi-lo a cada semestre.
No final, o diretor separou os alunos intercambistas dos demais, assim como fazia todas as vezes. Ao meu lado se sentou um rapaz que parecia completamente interessado na palestra. Certamente um novato.
– Você não parece intercambista.
– Na verdade você também não, se julgar apenas pela sua aparência. -Ele me respondeu com um sorriso gentil.
– De onde você é?
– Sou chinês. E você?
– Americano.
– Tem certeza?
Ele estava claramente brincando, mas por um momento eu o olhei como se tivesse uma interrogação em meu rosto.
– Eu acho que sim…?
Eu realmente acabei dando risada daquilo e o vi sorrir.
– Prazer em te conhecer, meu nome é Jackson Wang.
– Mark Tuan. -Lhe respondi de forma simpática.
– O que você estuda?
– Artes Cênicas, segundo ano. E você?
– Artes Plásticas, é meu primeiro ano.
– Eu percebi pela sua empolgação. Vai estar com uma cara de merda igual a minha quando for obrigado a ouvir esse mesmo discurso pela segunda vez. Na terceira você vai querer morrer.
– Motivador esse seu discurso. -Ele riu.
No fim, nós dois ficamos quietos para ouvir o que o diretor e os professores tinham a dizer. Achei bonitinho o tal do Jackson anotando algumas coisas que eles diziam. Eu também anotei no meu primeiro ano.
Depois de quase uma hora, finalmente fomos liberados. Mas eu esperei algumas pessoas saírem na frente pra evitar o tumulto na porta.
– Ei. Eu acho que o pessoal vai se encontrar em algum lugar pra beber com os calouros. Você vai?
– Beber? Em plena segunda?
– Você tá na faculdade, aqui não tem muitas regras pra isso.
– É, eu tô vendo que não. -Wang riu- acho que não pode ser tão ruim assim.
– A gente vai de noite, me passa seu número e eu te mando o endereço do lugar.
Nós trocamos os números de celular, e esse meio tempo foi o suficiente para Jaebeom aparecer na arquibancada me procurando.
– O que tá fazendo aqui ainda? Todo mundo já saiu, otário. Achei que tivesse fugido antes pra não assistir isso.
– Pra minha própria desgraça, eu não fugi. A gente só tava conversando aqui.
Jaebeom olhou um pouco desconfiado.
– E você, quem é?
– Jackson, sou novo na universidade, primeiro ano em Artes Plásticas.
– Entendi, me chamo Jaebeom, mas pode me chamar de JB. Seja bem vindo ao inferno, Jackson.
JB mostrou aquele sorriso meio maldoso e saiu andando na frente.
– Não liga pra ele, não é tão ruim assim, o pessoal só é bem exigente aqui.
– Deu pra perceber pelas palestras.
Por alguns breves segundos nós dois ficamos nos olhando sem dizer nada. Diria que foi um pouco constrangedor.
– Bom, eu… vou andando, ele deve estar me esperando. Te vejo de noite?
– Sim, claro… nos vemos de noite.
Eu lhe mostrei um sorriso simpático e saí em passos rápidos antes que JB me deixasse lá e fosse sozinho para casa.
Seguimos o caminho juntos, como sempre.
– E aquele cara, qual é a dele?
– Não sei, ele é novo, parece ser legal. É engraçado pelo menos.
– Ele vai com os outros calouros de noite?
– Acho que sim, mandei o endereço pra ele.
– Por que me parece que você está interessado nele?
– Eu não tô, para com isso! Você acha que eu tô interessado em todo mundo.
– Tá bom, tá bom. Desculpa! -Ele disse gargalhando. Óbvio que ele gostava de me ver estressado com qualquer besteira.
– Ele só parece ser interessante, e talvez conversar com alguém que não seja você também possa ser interessante pra mim, não acha?
– Óbvio que não! Eu sou extremamente suficiente pra você!
– Vai nessa, mané!
Eu o olhei e vi com uma mão no peito e aquela expressão de dor. Era um perfeito dramático fazendo jus a profissão que teria no futuro.
– Larga de ser idiota JB. A gente pode conhecer pessoas novas também.
– Tá, tá. Entendi. Dessa vez eu deixo.
Eu revirei os olhos ouvindo aquilo. Um cara daquele tamanho parecia mais uma criança fazendo birra por nada.
Nós dois fomos para a casa dele, ainda tínhamos muito o que estudar antes de sair. Então almoçamos, sentamos no chão. Ele começou a estudar, e eu comecei a fingir que estava prestando atenção no livro. Eu não era muito de fazer isso, minhas notas sempre foram as melhores da turma, mas tinha alguma coisa que estava realmente me atormentando há alguns dias e fazia com que eu não conseguisse me concentrar.
Talvez em algum momento eu descubra o que é.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Romeu e Eu {Markson}
FanfictionApós se mudar para Seoul buscando uma mudança de vida, Mark Tuan, um excelente estudante de Artes Cênicas, acaba descobrindo alguns sentimentos que antes não conhecia. A magia do palco o ajuda a conhecer um outro lado da vida, um lado mais colorido...