A sombra de sua silhueta musculosa, raivosa e misteriosa atravessava, impetuosamente, a minha janela sobre a luz da lua e suas estrelas apaixonadas. Do meu quarto, podia ver seus movimentos de um lado para o outro em seu quarto, como uma corda de um relógio antigo, que espera o seu horário programado para vibrar em um som de desperto. Me aproximo para que possa enxergar mais do que somente o seu reflexo lunar e acabo atraindo a sua atenção ao esbarrar em meus próprios pés e cair pateticamente sobre o parapeito vermelho da minha janela.
- Boa noite, vizinha! - Escuto a sua voz rouca e forte pela primeira vez desde que se mudou para a casa ao lado.
- É... Boa noite! - Digo deixando transparecer toda a minha ansiedade e timidez causada pelo novo vizinho. - Sou a Alicia! Muito prazer - Estico a mão direita como se realmente fosse possível ele retribuir o gesto.
- Prazer, Alicia. Sou o Pedro. - Ele senta no parapeito de sua janela igualmente vermelha e se inclina para frente perigosamente, erguendo sua mão para retribuir. Me inclino mais e nossas mãos se encontram. - Me mudei ontem de manhã. Acredito que você tenha percebido.
- Ah, sim. O bairro é pequeno. Ficamos sabendo de sua chegada uma semana antes. - Digo me acomodando na janela dura e fria.
- Era o que imaginávamos - Disse sorrindo de lado. Perdi o ar por alguns segundos. O sorriso dele é mais iluminado que todas essas estrelas e mais quente que qualquer pão de queijo recém saído do forno. - Bom, eu preciso ir. Foi um prazer, Alicia! - Ele disse olhando para trás e saindo imediatamente da janela e do quarto.
Passei o resto da noite imaginando o que causou a ação repentina, o que ele teria visto ou lembrado? Repassava em minha cabeça cada segundo da nossa curta e desajeitada conversa, lembrando de cada palavra e cada meio sorriso que ele dera enquanto falava ou esperava uma resposta minha.
Eu fiz uma pesquisa prévia assim que o proprietário nos informou que uma nova família se mudaria para a casa. Pedro era o irmão mais velho entre 4; Pedro, o mais velho e cheio de mistérios, um bad boy numa versão um pouco mais consciente, mas com um histórico de relacionamentos amorosos um pouco conturbados; Sabrina, irmã do meio, mas completamente mimada pelos 3 irmãos que dariam a vida por ela e foi campeã de justdance do antigo colégio; Felipe, irmão do meio e meio perdido, bad boy que acha que está arrasando e se mete em qualquer briga somente para manter o título e segue os passos do irmão mais velho no assunto: mulher e João, o mais novo, fofo e estudioso da família, namorou somente uma vez e teve problemas com fidelidade por parte da parceira. Os quatro filhos de uma recém divorciada, Estela Sabatina; dona de uma grande empresa de maquiagem e futura CEO da maior loja de roupas do Brasil. Não encontrei muitas informações sobre o pai, somente o seu nome e informações profissionais; Rafael Senbor. CEO da maior companhia aérea da América Latina e, aparentemente, um homem bem rígido com seus filhos e herdeiros.
- Alicia, venha jantar! - Minha mãe gritou do andar de baixo.
Ao descer as escadas encontro minha mãe, uma médica cirurgiã do hospital federal, e meu pai, policial concursado formado em direito com o sonho de ser delegado, me esperando com o prato feito e um sorriso no rosto um para o outro
- O que temos para o jantar hoje? - Digo dando um beijo na testa de cada um.
- Camila preparou uma lasanha divina, do jeitinho que você gosta! - Meu pai disse colocando um pedaço em meu prato
- Pode pegar a coca-cola na geladeira para nós, querida? - Minha mãe pede como sempre. Somos viciados nesse refrigerante.
Vou até a cozinha e reparo que da nossa janela, podemos ver a sala de estar da família Sabatina. Todos estavam na mesa, com a presença de um homem que acredito ser o pai de Pedro. Estavam todos tensos, pareciam não respirar, com medo do que poderia acontecer caso o ar saísse de forma errada. Estela estava sentada na ponta oposta ao homem, mas o olhava com severidade e rigidez, como se o desafiasse. Pego a garrafa e volto à mesa com meus pais.
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Na janela ao lado
RomanceAlicia e Pedro têm muitas coisas em comum, eles só não sabem ainda...