Capítulo único

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Todos os dias eu me pergunto: o que de fato é o amor? E para dizer a verdade, eu gostaria de saber o que é qualquer tipo de sentimento. Quais os significados por trás deles; como saber se são verdadeiros ou falsos.

Durante toda a minha entediante vida, ninguém nunca me explicou o que é o amor, muito menos o que é a felicidade.

Dizem que sentimentos é algo impossível de se explicar, principalmente o amor. A sensação de amar uma outra pessoa a ponto de querer passar a vida toda ao seu lado.

Entretanto, foi aos 15 anos de idade que eu descobri o significado do amor, mas eu simplesmente não me dei conta disso.

Eu não sabia como amar, muito menos o que era aquela emoção estranha que eu sentia quando tinha sua presença ao meu lado, quando eu fitava seu lindo corpo, que possuíam manchas tão lindas quanto as estrelas; manchas que eu simplesmente amava contar quando estava entediado ou não conseguia dormir.

Aos 16 anos, dei meu primeiro beijo na pessoa que me mostrou o significado do amor, mesmo que não tivesse dito uma palavra ao fazer isso. E desde então, meu coração retumba forte ao simplesmente olhá-lo.

Seu rosto me acalma; sua voz, seus olhos, suas sardas, você. Eu sentia a mais pura paz quando entrelaçavamos nossas mãos, juntando o frio delas e transformando num calor aconchegante, dando vontade de permanecer assim para sempre.

Às vezes, acabo por me esquecer do significado de amor ou felicidade, porque à minha volta existe somente uma nuvem negra com vozes me dizendo coisas ruins; como se um demônio sugasse todas as minhas energias e restasse somente um buraco vazio na minha alma.

Porém, há uma pessoa que sempre me lembra do significado do amor e da felicidade, porque só de encarar seus lindos olhos azuis – facilmente comparados a um belo diamante – um sentimento diferente me aquece o peito. É bom, eu gosto de senti-lo.

Essa pessoa, ou melhor, esse rapaz, diminuiu minha vontade de querer morrer, ele me fez sentir vontade de ficar o tempo todo ao lado dele, de admirá-lo, tocá-lo, beijá-lo, abraçá-lo... Ele me fez sentir vontade de dizer à ele três lindas palavras que eu nunca sequer pensei em dizer a alguém.

Nakahara Chuuya foi o meu primeiro e único amor. Alguém que chutou a porta do meu coração e entrou sem pedir licença, iniciando ali uma caminhada tranquila, procurando o jeito certo de me ensinar mais sobre a vida, ainda que ele seja um péssimo professor.

Ele não é do tipo certinho, porém, aprendemos muito um com o outro. Juntos, aprendemos o significado de confiança.

Confiança é algo difícil para ambos, e nós dois estamos no modo de alerta sempre, mas a conexão que existe entre a gente supera qualquer desconfiança, fazendo com que acreditemos na lealdade um do outro.

"Usei a corrupção porque confiei em você"

Nunca me esqueci dessa frase.

Sei que ele ficou bravo por eu ter o deixado dormindo no chão depois de uma longa e cansativa luta com a Guilda, mas espero que ele leve como uma pequena vingança por ter me batido naquele dia em que eu fui capturado pela máfia.

Sei também que ele ficou mau quando eu saí da máfia, e eu temia todos os dias que ele abusasse do álcool para poder esquecer disso. E como tudo o que eu prevejo se torna realidade... dito e feito.

Várias vezes eu o encontrei no bar bebendo muito além da conta, mas eu não podia fazer nada...

E hoje eu lhe escrevo essa carta para te pedir perdão, Chuuya. Realmente não é do meu feitio fazer isso, mas estou nos meus últimos momentos e eu precisava dizer isso.

Uma última vez, eu te escrevo uma carta...

Sabe, Chuu, Yokohama é linda vista de cima de uma ponte, devíamos ter visto isso antes juntos, talvez eu pudesse ter te beijado à luz da lua, como nos filmes.

Perdão por ser quem eu sou, você merecia alguém melhor. Espero de verdade que você seja feliz ou encontre alguém que te mostre o que é o amor e a felicidade, assim como você fez comigo.

Jamais me esquecerei dos nossos beijos e toques bobos... foram incríveis. Muito obrigado por ter me proporcionado cada momento ao seu lado, sejam eles as nossas brigas ou as horas em que ficávamos agarradinhos só aproveitando a presença um do outro.

Nunca consegui te dizer pessoalmente, porque sempre algo dentro de mim me impedia e um bolo se formava na minha garganta, mas eu te amo, Chuuya. Há anos que eu sinto isso por você, mas nunca consegui dizer, e peço perdão por isso.

É com essas palavras que eu termino esta carta, e na esperança de que os ventos a guiem para você, Nakahara Chuuya: o amor da minha vida.

Espero um dia poder te reencontrar novamente onde quer que esteja, para podermos dançar sobre as nuvens e sentir seus doces lábios colados aos meus novamente.

Ass: Dazai Osamu.

٭

E foi naquele 13 de junho que Dazai deixou tudo para trás, incluindo o seu amor.

Naquela mesma noite, os ventos de Yokohama guiaram a carta do rapaz para aquele cuja havia sido designada; como se o destino soubesse a sua missão.

Nakahara Chuuya recebeu a carta do amado através da janela de seu apartamento, que recebeu o papel de braços abertos.

Ele não acreditava no que Dazai havia feito. Ele cumpriu seu objetivo, alcançou o seu sonho de partir deste mundo miserável, mas ele também o deixou...

Dazai abandonou Chuuya novamente.

O ruivo chorou por incontáveis dias, se deixando ser visto nesse estado até por seus colegas de trabalho, dos quais jamais tinham visto sequer seus olhos lacrimejarem. Eles tentaram lhe aconselhar, mas fora em vão, e desde então Chuuya retornou ao vício do álcool.

O sofrimento assolou o Nakahara por meses, mas com o tempo, ele aprendeu a superar, e mesmo que ainda pensasse em Dazai, ele tinha que focar em seu trabalho e vida pessoal. Todavia, jurou que jamais encostaria e principalmente amaria outro homem, porque Dazai era quem deveria ficar ao seu lado. E assim ele cumpriu sua promessa.

Chuuya nunca amou ninguém como amou Dazai, e mesmo que demonstrassem seu amor através de socos, brigas e provocações, ambos sabiam que eram almas gêmeas; sabiam que algo forte os interligava.

Chuuya nunca deixou de amar Dazai, mesmo depois de sua morte, assim como Dazai nunca deixou de amar Chuuya.

Que os ventos guiem... | SOUKOKU Onde histórias criam vida. Descubra agora