I DE I
Sou um ser desgostável. Sou alguém desprezável. Mas quando estava contigo, oh, como todos os meus lugares mais escuros, floriam, e o meu sorriso abria. Era contigo. Eu tornava-me alguém que até ali nunca conhecera.
Tu despertavas todos os meus sentidos.
A maneira como os meus olhos se abriam sempre que te via. Eu nunca apreciei tanto uma imagem como aquela que guardo na minha memória, enquanto eu fingia saber tocar guitarra e tu dançavas com aquele teu vestido branco, no relvado, onde fingias ser feliz. E a maneira como o teu cabelo esvoaçava ao vento.
O seu cheiro a camomila, mesmo o teu cabelo sendo castanho continuavas a usar aquele champô com a esperança de algum dia aclarar. O teu perfume. Não era doce. Mas aquela fragrância...
Ainda a sinto nos meus lábios. Quando beijava o teu pescoço, eu provava o teu perfume. E mergulhava mais uma vez os meus lábios na imensidão do teu amor. E enquanto eu te acarinhava, tu não querias saber, não ligavas.
E como era bom ouvir a tua voz. A tua melodia, para corrigir. A melodia da roquidão da tua voz. Podia ouvir aquelas notas o dia inteiro. A maneira como te rias, a sinfonia perfeita. A tua voz tocava o mais profundo da minha alma.
Tocavas-me emocionalmente, e mais tarde fisicamente. Quando olhava profundamente os teus olhos lassos. Sempre que tocavas na minha face, e eu sentia as tuas vértebras. Quando tentava alcançar-te mas tu estavas tão longe.
Aí apenas restava a minha visão. E a perfeição dos teus defeitos físicos estavam desenhados numa silhueta de emoções. E eu permanecia ali, sentado na escuridão da minha alma.
Os teus cansados olhos acinzentados pensavam mil e uma coisas que seriam impensáveis para qualquer outro ser. A beleza da tua peculiaridade e a peculiaridade da tua beleza. E dizer que tenho saudades de tudo isto não só alimenta esse sentimento, mas faz de mim um grande hipócrita.
II DE I
A nossa segunda conversa naquele café simpático foi tão irrelevante como a primeira. Mas algo em ti incitava algo em mim, e eu nunca quis acabar nada que ainda estivesse no começo.
As vezes sem conta que te liguei, sem resposta, claro. Pensei que talvez fosses um grande desafio, e por isso lutei mais. E por ter lutado mais, não te queria largar. Foram meses a fio ali, a lutar por algo que provavelmente nem ia acontecer, ou resultar. Não por eu não querer, ou tu não estares interessada, mas sim pela minha pessoa.
E foram tantas as conversas antes de tudo. Já devia estar à espera do furacão que eras, mas sempre gostei de sonhar outras realidades. E tu eras uma realidade que desde então, eu sonhava.
Embora o mundo fosse teu, tu eras minha, e eu tinha tudo.
Sou um hipócrita de merda. Meto asco. Sou repugnante. Porém, eu amei-te. E amo-te. E amarei. E foi o maior feito da minha vida. Quão baixas são as minhas expetativas da vida? Porque não consigo sonhar mais alto? Eras tudo o que queria, e foi tudo o que consegui. E escapaste-me. Deixaste os meus braços. Qual é agora o propósito da minha vida?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Veneno da Tua Chama
Lãng mạnNunca pensei em dar um simples passo e encontrar-te. Como olhavas para os meus pés quando falavas comigo, ou como sorrias parvamente quando te elogiava. Era o calor dos teus olhos, a tua barulhenta respiração. Era tudo sobre ti. A simplicidade do te...