Refém do Desejo - Spin-off Rei Do Submundo

Capitulo 36

Bianca Kendall

  Permanecer com olhar altivo de superioridade para Patrícia se tornou difícil com a sua revelação, aquelas informações que saíram de sua boca asquerosa me atingiram da maneira mais dolorosa e cruel que poderia atingir, não, isso não pode ser verdade. Seu rosto demonstra raiva com uma mistura de desdém e escárnio, mas os seus olhos demonstram remorso e dor. O silêncio do ambiente foi absoluto, não ouvia-se sequer a minha respiração suspensa. 

— Viktor, tira Bianca daqui! — Nick quebrou o silêncio passando ordens para o pai do meu bebê, com lágrimas nos olhos e fixo em Patrícia, também ordenei:

— Fica onde está, Viktor! 

   Patrícia ficou abaixou a cabeça mostrando que estava desconfortável com a presença dos demais naquele ambiente, ela encarava a todos com inquietação, como se esperasse julgamento, mas não veio, eu olhei para trás e com lágrimas deslizando em minhas bochechas e pedi para eles saírem, em suas faces eu vi a completa confusão, talvez não sabendo o que ela iria me revelar, foi um choque para todos nós.

— Não vamos te deixar sozinha com ela. — Viktor negou meu pedido. 

— Ela não vai me ferir, está paralisada da cintura para baixo, debilitada. Me deixem a sós com ela. — Pedi uma última vez. 

  Assim que Nick e Viktor com seus soldados deixaram a sala, vi Patrícia de cabeça baixa, como se esperasse que eu dissesse alguma coisa. Imaginar que eu era sua filha e irmã me dava grandes sensações terríveis, imaginar como deve ter sido difícil, isso não muda o fato sobre o que ela me fez, ela é tão monstruosa quanto Ramon, mas agora, quando me revelou esse segredo obscuro e sujo, vejo apenas uma peça quebrada sem nenhum concerto. Enxuguei o meu rosto e engoli em seco, controlando a bola que se formava em minha garganta. 

— Se poupe dos detalhes, Bianca, nos poupe disso. — Ela pediu cansada. 

— Eu preciso saber, eu quero entender você. 

— Não precisa me entender, apenas aceitar os fatos, eu lidei com isso durante a minha vida inteira, guardado em minha garganta e na memória, agora é com você. 

— Agora eu entendo suas grosserias comigo por coisas mínimas, sua implicância para tudo o que fazia, me batia por cada erro...

— Você não sabe o quanto é difícil ver a consequência do seu trauma te chamar de mamãe todos os dias, te pedir para fazer tranças no seu cabelo, pedir para ler histórias de princesas antes de dormir. Para você era mágico, incrível, maravilhoso, mas para mim era uma palhaçada, repulsivo, uma farsa!

— Eu era uma criança, eu não sabia.. 

  Patrícia me encarou com lágrimas nos olhos deslizando por seu rosto, ela soluça como se lembrar do seu passado fosse atormentador, doloroso de voltar lá. Ela levanta a sua cabeça e olha para a lâmpada do teto, fecha os olhos e respira fundo várias vezes. 

— Você quer mesmo saber? — Ela voltou a me encarar. 

— Em detalhes.

— Em detalhes..está bem!

  Sentada sobre a cadeira eu procurei conforto suficiente para me manter ali, não imaginei que ficaria por tanto tempo nesse lugar, ainda mais ouvir a sua suposta história.   

— Eu cresci na Venezuela, minha família era da classe alta, minha mãe uma médica prestigiada com vários prêmios, o meu pai um magnata de negócios muito conhecido e influente. Meus irmãos e eu fomos muito bem criados, tínhamos tudo que queríamos, mas nem toda família é tão perfeita assim. Quando atingi nove anos o meu pai começou a me ver com outros olhos, já não me via como a sua garotinha que gostava que lesse historinhas antes de dormir.