O domingo amanheceu frio, apesar do sol. Afinal, era dezembro e o Natal se aproximava rapidamente. Devido a terem sido interrompidos no meio da noite, toda a casa - com exceção de seus criados - ainda dormia. Najla e o Sr. Ellis ainda dividiam o quarto conjugado, embora a porta que os mantinha longe um do outro ficasse destrancada a maior parte do tempo; não havia nada a temer, a senhorita havia decidido, tomado o caráter do homem que amava com integro para não ultrapassar as barreiras da boa civilidade. Lady Burmingham havia sido acomodada no único quarto de dormir livre - onde Daniela ficara pelo momento em que o Sr. Mclain frequentara a casa - fazendo, assim, seu filho e a esposa dele voltarem a dividirem o leito. A criada de Daniela ocupava-se de rearranjar os pertences da dama, movendo-os de uma gaveta para outra.
Cantarolando uma melodia que aprendera desde criança, Olívia organizou toda a lingerie da patroa, depois fez o mesmo com os vestidos nos armários - os poucos que conseguiram ser colocados nas malas às pressas, quando deixaram a casa herdada de Lorde Júlio Burmingham - e por ultimo, rearranjou os sapatos. Uma das criadas entrou ao quarto - fazendo o impossível para fingir que não viu como os patrões estavam abraçados ao dormir - e entregou à Olívia uma pilha de roupas lavadas e passadas: dois vestidos da patroa e a calça azul marinho de Afonso, aquela que Daniela havia pegado emprestado para usar às escondidas nas aulas de esgrima. Olívia prosseguiu guardando os vestidos em cabides, alisando-os perfeitamente e sorrindo para si mesma assim que se deu por satisfeita.
Observou por um momento a calça dobrada do patrão, a dúvida de repente abatendo-se sobre ela: onde era que sua patroa guardava a calça quando não a estava usando? Talvez, devesse considerar a gaveta de lingeries, pois tinha quase certeza de que seu patrão não olharia ali, ou então...
- Olívia, - a voz rouca do patrão por ter acordado subitamente a assustou e o tecido escorregou como manteiga de suas mãos. - é esta a minha calça azul marinho que eu não conseguia encontrar em lugar nenhum?
- É, sim, senhor. - ela abaixou-se para pegar o mais rápido que pode e levantou-se conseguindo ver o patrão chutar os cobertores para o pé da cama, sem, entretanto, incomodar a esposa que dormia.
- E por que está com a senhora e não com meu valete?
- Bem, - Olívia desviou os olhos para o chão, observando a gaveta de lingerie aberta por cima do ombro. Se ele a tivesse pego colocando a calça ali, ela estaria perdida. Arruinaria o segredo que jurara proteger. - parece que a Sra. Campbell não conseguiu encontra-lo e ela, então, pediu que eu trouxesse a roupa para o senhor.
- Olívia, a Sra. Campbell não é responsável por ajeitar as minhas roupas. - ele jogou as cobertas em cima de Daniela e levantou-se, vestindo um roupão para não incomodar a criada. - Diga-me a verdade: o que está fazendo com a minha calça?
- E-eu, senhor... - a criada voltou os olhos para a patroa, que se remexeu na cama. - A Sra. Burmingham... É...
- Sim, Daniela o quê? - Afonso cruzou os braços contra o peito, observando a expressão aterrorizada da jovem. - Olívia, diga-me de uma vez por todas o quê...
- Bom dia, Olívia. - foi a voz de Daniela que interrompeu a irritação do marido. - Ah! - ela esfregou os olhos, observando a calça nas mãos da criada e o modo como Afonso estava prostrado. - Bom dia, Afonso. - ela bocejou. - Oh, muito obrigada por me trazer a calça de Afonso, Olívia. Eu ia mesmo descer para ver se ela havia encontrado.
- Como assim, Daniela? - Afonso virou-se para ela para pedir uma explicação.
- O senhor - ela respirou fundo e pensou em quantas missas teria que comparecer por ser tão mentirosa, o quão boa teria de ser para o marido dali para frente por estar mentindo descaradamente - disse que não sabia onde a calça estava. Olívia me ajudou a procurar por ela e eu pedi à Sra. Campbell que cuidasse para que ela estivesse limpa e o senhor a pudesse usar. - ela fez uma pausa para tirar o cabelo dos olhos - Obrigada por ser tão prestativa e trazê-la para que ele já possa vesti-la.
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It Was Always You [EM PAUSA PARA REVISÃO]
Romance[EM PAUSA/HIATUS] Na sociedade vitoriana, a maioria esmagadora dos casamentos é arranjado pelos pais do noivo e da noiva. Com Daniela Lexfinn, isso também não seria diferente, porém, o destino se opõe as propostas que a moça recebe e faz com que a v...