Oliver esperava por Sol na quadra da escola, encarando aquele corredor imenso.
- Então... Como foi?
- O Thiago recebeu suspensão e a diretora me deu um apoio moral, inclusive... cadê todo mundo?
- O Daniel e a Maria foram para a sala de informática, fiquei aqui te esperando.- Ele sorriu de forma desajeitada.
- Ah, você é tão fofinho! Mas vamos para a sala, podemos estar atrasados.
Correram pelas salas da escola e Sol abriu a porta rapidamente:
- Opa, professora! Cheguei atrasado por certos motivos.- Explicava brevemente, quando percebeu que a professora apenas acenou a cabeça e apontou para uma mesa vazia.
- Psiu! O que aconteceu com o Thiago? Não vi ele aqui na sala.- Maria cochichava para o amigo.
- Ele foi suspenso por uma semana, mas deve ter saído mais cedo daqui só de raiva.
Em toda aula de informática, Sol lembrava do código binário, ele era o oposto daqueles números repetitivos, ele era não-binário. Ia além das duas divisões que tanto a sociedade quanto a programação tinham. Eram tantos números, palavras e programas na tela da máquina que estava quase dormindo em cima do teclado.
Daniel pegava o celular discretamente para saber que horas eram e logo se animou ao ver que o sinal bateria em poucos minutos. Todos saíram correndo quando a aula acabou, ao observar o portão da escola, lá estava Augusto, pronto buscar Sol.
- Ah, oi! V-vamos voltar pra casa.
O clima entre os dois estava estranho, mesmo que quisessem conversar, algo parecia afastá-los. O filho apenas andava e olhava para os carros que passam na rua, pensando no que o pai queria falar. Abriu a porta de casa e percebeu que a comida já estava pronta.
- O-oi mãe! Vou colocar meu pijama e logo volto para comer.
- Tudo bem, filho! Vai lá.
Logo, foi para a cozinha, vestindo o tal pijama rosa que tanto gostava.
- Hã? Você está usando rosa?- O pai encarou as roupas do filho.
- Sim... Algum problema?
- É que isso não é cor de homem, sabe?
- "Cor de homem"? Desde quando tem cor de homem, mulher...? Rosa é uma cor que pode ser usada por qualquer pessoa.- Rosa logo respondeu.
- Tá, tá! Mas eu ainda preciso entender qual é o gênero do meu filho, então, você é homem ou mulher?
- Não-binário, gosto de pronomes masculinos, e não me importo que me chamem de garoto, cara, moleque...
Augusto o encarava com um olhar confuso, mas logo continuou a comer o almoço. Sol havia se orgulhado do próprio discurso, mas ainda estava com medo da reação do pai quando soubesse que gostava de usar brincos grandes, colares de cores chamativas... Como iria continuar explicando?
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O terceiro lado da história [Não binário]
Novela JuvenilSol não possui lembrança alguma de seu pai, Augusto, que abandonou a família quando tinha apenas 3 anos. Possuindo dificuldades típicas da adolescência, tenta aceitar sua identidade não binária enquanto sente a transfobia em seu cotidiano. Sua mãe...