Querido diário.
O dia em que sairíamos para a busca chegou mais rápido do que eu imaginava, e eu até que estava gostando de morar na escola com as pessoas que estavam lá.
O fato de ter que sair, arrepiava até meu último fio de cabelo, mas eu sabia que era necessário.
O filho da diretora, Jhonny, se juntou à equipe e quase implorou para que eu ficasse dentro da escola, mas a curiosidade falava mais alto do que o meu medo de morrer. Eu ia sair.
Tomamos um café muito reforçado porque não sabíamos que hora voltaríamos. A missão era extensa: observar as casas das redondezas, ir até o mercado mais próximos e coletar, especialmente, os alimentos perecíveis, como carnes, pães, leite, frutas, legumes e verduras, afinal eram coisas que se ninguém comesse, estragaria em algum tempo, depois que a força acabasse. Mas nós fomos abençoados com uma escola com fonte de energia infinita, painéis solares, ecológico e inesgotável. Também contávamos com dois freezers, o que seria de grande ajuda para estocar os mantimentos.
Apesar do foco ser os alimentos perecíveis, também buscaríamos alimentos não perecíveis, as folhas de sulfite, materiais de limpeza e higiene básica.
Mas esse não era todo o meu foco.
Eu tinha a esperança de encontrar pessoas saudáveis, e talvez, levá-las para a escola também. Meu único medo era de encontrar alguém e a diretora não deixar a pessoa ficar.
-Filha. -Minha mãe me chamou- Você sabe que você está indo lá fora contra a minha vontade, não é?
-Eu sei, desculpa.
-Se sabe, porque vai? Quer me matar do coração? Eu não vou ficar em paz até você voltar, sabia disso?
-Eu sei mamãe, mas eu não posso ficar aqui de braços cruzados enquanto as pessoas saem por aí tentando trazer mantimentos pra cá, para que a gente possa viver bem.
-Porque você não pode ser igual as suas amigas e ficar? Você pode ajudar aqui também, tenho certeza.
-Porque você não pode ser igual o papai e sentir orgulho da minha coragem? Poxa eu vou me sacrificar por todos nós.
-De fato filha, isso é sacrifício, é suicídio.
Minha mãe deu as costas e me deixou no corredor. Eu estava esperando a minha vez de fazer com que as minhas roupas ficassem mais seguras para sair.
Papai parecia com o boneco da Pirelli. Tantas camadas de roupas, revistas, e até enchimento de almofada para que uma mordida não fosse fatal. Eu não conseguiria me perdoar caso acontecesse alguma coisa com meu pai. Ele e minha mãe são minha única família por perto, os outros parentes estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo, e eu temo que agora sejam só meus pais.
Depois do Canadá ter sido tomado por zumbis, papai não conseguiu mais falar com o tio Joaquim, Deus sabe se ele ainda está vivo... mesmo com toda a sua habilidade em caça, não sei se ele foi capaz de sobreviver com a tia Laura e minha prima Amanda.
Eu estava focada. E também estava disposta a dar minha vida pela do meu pai se fosse preciso, mas lutaria para que voltássemos para a escola sãos e salvos. Todos nós.
-Papai.-Chamei o novo mascote da Pireli- Acho que seria prudente que nós usássemos máscaras e óculos. Não sabemos como a infecção começa. Se precisarmos bater em uma daquelas coisas, e o sangue espirrar, podemos contrair a doença.
-Eu não tinha pensado nisso, mas ainda bem que você pensou filha. Você é muito esperta. Estou orgulhoso, mas muito preocupado e com muito medo de te acontecer alguma coisa. Não acha melhor ficar na esola e ir em uma próxima vez?
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Diário do apocalipse: Não Deixe Que Te Mordam.
Science FictionO mundo caminha para seu fim assolado por criaturas resistentes e que agem somente com o instinto de se alimentar e infectar mais pessoas. O mundo todo acabando, e o Brasil, ao invés de se proteger, manteve todas as coisas funcionando normalmente. ...