Croassaint de Nutella

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Bruna depois da caminhada com a Flávia foi buscar Fernanda na escolinha e de lá ja foi direto para a natação. A menina era linda, de longos cabelos bem cacheadinhos, lindos olhos pretos como duas jaboticabas, pele morena,  puxou ao Ricardo, muito esperta e conversadeira como a Bruna.
No retorno da natação para casa, já era final de tarde, Fernanda conversava com a mãe no carro.
- Mamãe, Marcelinha pode dormir lá em casa?
- Quando filha?
- Hoje!
- Não hoje não meu amor, isso tem que ser programado comigo e com a mãe da Marcela... - Bruna deu uma pausa, olhou a menina de braços cruzados, contrariada pelo retrovisor.
- Então eu posso dormir na casa da Marcela?
- Filha isso é a mesma coisa, só que ao inverso.
- O que é inverso?
- Hum... Sabe quando vestimos uma roupa do outro lado? Lado que fica em contato com a barriga?
- Aham...
- Isso é vestir a roupa ao inverso.
- Não entendi...
- Quer dizer que você dormir na casa da Marcela ou a Marcela dormir lá em casa é a mesma coisa só altera o lado.
- Hum...
- Filha, vou conversar com a mãe da Marcela e vamos combinar um dia para vocês dormirem juntas, mas não hoje, tá bom? Porque a mamãe precisam combinar com calma. E além do mais, você sabe que a mamãe acorda de madrugada para ir ao trabalho e que só pode amiguinha la casa final de semana.
Então não é ao inverso! A mamãe da Marcelinha não trabalha de madrugada...- Bruna se surpreendeu com perspicacia da filha tão nova sorriu orgulhosa e falou:
- Nao é que você tem razão filha?! Você é muito esperta!
Chegando em casa, Bruna ofereceu o jantar para a criança, estudou com ela, brincou e finalmente a colocou para dormir. Em seguida foi ler um livro e mexer no celular. Ricardo não tinha chegado, já passavam das nove da noite. Ele estava assumindo turno da noite no cursinho pre vestibular, mas normalmente a aula acabava as sete e meia e no máximo oito ele ja estava em casa. Não costumava demorar tanto. Bruna respirou fundo, olhou para o relógio várias vezes e resolveu ir deitar. Ela precisava dormir cedo para acordar de madrugada. Acabou adormecendo e não deu conta do marido chegar. Só notou que ele estava na cama quando o relógio despertou as três da madrugada. Ele estava dormindo tranquilo, pesado. Ela levantou da cama e começou o ritual para ir trabalhar.

Chegou na redação e logo foi fazer o cabelo, antes da sala que se arrumava, tinha uma saleta, ela percebeu de relance que tinha uma pessoa chorando nessa saleta. Resolveu entrar para ver quem era e viu que era Taís, que estava sentada cabisbaixa numa poltrona, com um choro abafado. Assim que ela entrou, Taís se recompôs do choro e tentou disfarçar.
- Ei, Taís não é? - Bruna colocou a mão sob seu ombro, Taís afirmou com a cabeça e tentou esconder uma marca no seu braço.
- Está tudo bem? - Bruna sentou-se na poltrona ao seu lado.
- Está sim... Eu estou com uma alergia brava, já vai melhorar. - Taís fungou e colocou a mão no nariz ainda tentando disfarçar.
- Ok... - Bruna deu uma pausa, notou que havia algo errado, mas que Taís não queria abrir, então continuou: - Fiquei muito feliz com a sua chegada aqui na redação. - Taís não estava confortável, estava vulnerável. Em meio a sua fala, elas se olharam nos olhos pela primeira vez e Bruna sentiu algo diferente, assim que seus olhos se encontrarTaís olhou para ela. Sentiu algo como um frio na barriga, a fragilidade aparente da Taís mexia com a Bruna de alguma forma...

Assim que o jornal acabou, Bruna que tinha a manhã livre, ainda ligeiramente intrigada pelo comportamento da Taís mais cedo, vendo que ela ja estava de saída, deu uma breve corrida para aborda-la.
- Taís, tudo bem?
- Oi?! - Taís falou confusa.
- Você está livre agora pela manhã?
- Morrendo de sono... - Taís riu, pois ainda não havia conseguido se adaptar ao horário, mas continuou: - Mas sim, livre.
- Vamos tomar um café? Digo, para gente já um almoço...- elas riram
- Claro, tudo bem. Vou só pegar minhas coisas e já te encontro. - Taís se afastou e Bruna sentiu seu coração acelerar, era estranho aquilo, mas ela queria conhecer melhor a Taís.
Elas caminharam a pé do prédio da redação até a cafeteria que era muito acolhedor em seu estilo francês. Bruna indicou uma mesa para sentarem. Taís timida, logo pegou o cardápio. Bruna deu uma rápida conferida no celular e falou:
- Ultimamente ando de dieta... Quer dizer, vivo de dieta. - elas sorriram, e continuou: - Mas tem  croassaint de nutella aqui incomparável.... Quando estou estressada, ou então com tpm é para ele que recorro. - Bruna apontou o item no cardápio e continuou: - A não ser que não goste de chocolate.... - franziu a testa e olhou para o lado.
- Eu não gosto... - Taís falou séria, Bruna arregalou os olhos envergonhada e em seguida Taís soltou um sorriso e completou: - Não gosto pouco de chocolate. Sou uma "chocólotra" incorrigível, fanática por nutella. Será esse para mim. - Bruna respirou aliviada. Fez o pedido, acompanhando os croassaints Bruna pediu uma água com gás e Taís um refrigerante.
Enquanto aguardavam o pedido, elas se olharam nos olhos com alguma timidez, Bruna desviou o olhar e corou. Taís perguntou:
- Tudo bem? Quer dizer...
- Sim sim. Te chamei aqui para conversarmos, nos conhecermos já que vamos nos ver quase todos os dias no trabalho. - Bruna sorriu ainda tímida.
- Eu queria perguntar se vai ter um momento em que vou me acostumar com esse horário doido. Chega a noite estou com os olhos tão vermelhos que parece até que fumei uma... - ambas riram.
- Acostuma... Na verdade você vai ter que criar uma rotina para ajudar o seu corpo a se acostumar. Vigiar teus horários, conversar com o marido sobre... Você tem filhos? - Bruna perguntou.
- Não somos só nós dois. Arthur não quer filhos... - Taís falou cabisbaixa, parecia um assunto mal resolvido no casamento.
- Você quer? - Bruna franziu a testa curiosa, ela não conseguia desver do braço marcado da Taís, ela tentava esconder, mas pareciam sim marcas de violência doméstica, principalmente pelo comportamento retraído da Taís.
- Não sei.. Quer dizer, já quis. Mas já estou com quase quarenta. As coisas ficam difíceis, principalmente com o Arthur. - Taís desabafou.
- Taís, sei que nos conhecemos agora, mas se quiser conversar comigo, sabe que nós mulheres devemos nos apoiar, não é? Sororidade. - Bruna colocou a mão sob a mão da Taís que se sentiu desconfortável e recolheu a mão.
- Você tem filhos? - Taís desviou da conversa.
- Sim, Fernanda, vai fazer quatro anos. Uma princesinha esperta e tagarela. - Bruna mostrou a foto para Taís que sorriu.
-Que linda!
- Obrigada, ela é minha vida... - Bruna ficou reflexiva.
- Tenho uma sobrinha, da mesma idade. Ela é tão levada que já abriu a testa umas duas vezes. - Taís falou.
- Minha nossa! Mas elas são mesmo. Fernanda está na idade de questionar tudo. É cansativo e tem que articular o tempo todo.
- Não deve ser difícil para você... - Taís falou. Bruna franziu a testa confusa. Então Taís continuou: - Eu li sobre sua trajetória no mundo jornalístico, você tem uma baita caminhada, pos graduação e mestrado, li que você tem se dedicado a jovens jornalistas na parte de oratória. Além do mais, tem que ter muito conhecimento e arguição para conduzir um jornal sozinha.... - Taís tinha feito o dever de casa e parecia ter admiração pela Bruna. Aquilo mexeu com a Bruna de alguma forma. Taís tinha um olhar triste, mas ao mesmo tempo intrigante, envolvedor, eram vivos, carismáticos, cheios de emoção.
- Não sabia que conhecia meu trabalho assim, tão a fundo... - Bruna falou corada e ligeiramente tímida. Taís também corou. O café chegou e elas comeram sem trocar muitas palavras.
Ao terminar, Bruna pediu a conta e fez questão de pagar, Taís exitou por um segundo, mas cedeu. Elas saíram então juntas do café.
- Eu fico aqui... Vou pegar um táxi. - Taís falou inclinando para se despedir.
- Você não tem carro? - Bruna estranhou.
- Está na oficina... - Taís falou desconcertada, parecia mentir, olhou para baixo sem graça.
- Quer uma carona? Quer dizer, você mora em que local? Se for caminho para minha casa, posso te levar sem problemas...
- Não! Não, obrigada... - Taís recusou sem muitos floreios.
-Tudo bem... - Bruna parecia procurar algo na bolsa e sacou o celular. - Você pode me passar seu "whats app"?
- É que... - Taís pareceu exitar.
- Ok... Se não puder passar, tudo bem. - Bruna insistiu: - Pelo menos anota o meu celular. - ela pegou um papel e uma caneta na bolsa e anotou seu número. Ela sabia que tinha algo de errado ali e que talvez Taís estivesse precisando de ajuda.
- Muito obrigada. - Taís sorriu pegou o papel com o número escrito das mãos da Bruna e colocou dentro da bolsa. Ao pegar o papel, suas mãos se tocaram e rolou alguma energia naquele toque. Elas se olharam nos olhos e ficaram desconcertadas.
- Bom, eu preciso ir.... - Bruna se recompôs e continuou: - Você vai ficar bem?
- Claro. - Taís sorriu sem graça.
- Se precisar, pode me ligar. - Bruna falou tentando passar confiança, em seguida se virou para ir embora. Taís ficou ali no mesmo local e chamou um uber.
Bruna dirigiu para casa pensativa, ela queria fazer algo pela Taís, mas precisaria fazer ela confiar nela primeiro. Dali para frente, não tirava Taís da cabeça.

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora