01. Meu Eu de 25 anos.

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Meu eu de 25 anos está feliz por eu ter continuado viva, pois, agora, eu encontrei razões pelas quais o sol pode ainda se mostrar brilhante em dias nublados.

Pule! Pule!

Pule.

Pule.

Eu repito a cada segundo, enquanto encaro o córrego forte do rio que corre a metros abaixo de mim, e ele me encara de volta. Ele está nervoso ali embaixo, e parece estar me chamando. Me desafiando a desafiá-lo. Me intimidando. E, mesmo que eu odeie admitir, ele está conseguindo.

Mas eu não vou desistir. Não agora. Não agora que estou tão perto.

Minha vida já estava acabada, qual o problema de tornar aquilo oficial agora?

Minha mão está apoiada no poste de luz, e eu não sei o porquê meus dedos o seguram com tanta força. Eu me encorajo, lembrando de tudo o que está acontecendo na droga que eu chamo de vida, e quando me solto, ficando completamente a mercê do equilíbrio para não despencar lá embaixo, percebo o quanto o vento também está forte, colidindo com tudo contra minhas costas. Eu não tenho me alimentado bem, então, se o vento for forte o suficiente para me fazer cair, talvez seja melhor. Assim, eu posso colocar a culpa nele, e não na minha fraqueza.

Pule!

Pule!

Quem diria... Lauren Jauregui, que virava noites e noites em baladas, que saía com os amigos todo final de semana, que tem seu nome registrado em diversas capas de livros que agora estão sendo queimado em forma de protesto estava ali, em pé encima do parapeito, encarando o rio no qual pretende se jogar.

Engraçado como as coisas podem mudar em questão de minutos. Como a vida que você vinha construindo pode despencar. O que eram anos foi-se destruído por minutos. Pela maldita internet.

Fecho meus olhos para suspirar fundo, e então, encaro a água de novo. A quantos metros eu devo estar? Já deve estar quase dando meia-noite, o que significa que a escuridão lá embaixo é real e me assusta, e talvez, por isso, eu esteja com a respiração pesada, mesmo que ardesse minha garganta puxar o ar gélido com tanto descuidado. Eu não conseguiria distinguir a água da margem senão fosse pelo poste de luz. E também não conseguiria ver o pássaro que voou veloz para debaixo da ponte. Um Gavião-peneira.

Seu gralhar é único para meus ouvidos, e isso porque minha melhor amiga -em sua época antissocial- tinha uma obsessão secreta por pássaros, e passava o dia estudando eles, quando não estávamos na escola. Sinto falta dessa época.

Ashley...

Ashley!

Hoje era dia 28 de setembro. Dia 29 é seu aniversário.

Droga!

Minhas lágrimas voltam a cair, porém, com mais insistência dessa vez. Um suspiro vem forte, e eu preciso encostar no poste para suportar a dor que atingiu meu peito. Tampo minha boca para o choro não ser audível, por mais que não tenha ninguém ali quando olho pra baixo de novo. Eu não posso fazer isso com ela.
Ashley é minha melhor amiga desde que éramos crianças, e morávamos uma do lado da outra. Fomos para a mesma escola juntas. Formamos juntas. Decidimos nos mudar juntas -por mais que não morávamos juntas. Ela é a única pessoa realmente importante pra mim desde muito tempo.

Ela é mais importante que eu, nesta situação.

- É o aniversário da sua melhor amiga amanhã - me lembro, percebendo o quanto minha voz estava gasta pelo choro desde o trajeto do meu apartamento até aqui -, você não pode saltar dessa ponte agora. Talvez depois de manhã, mas hoje, não.

Tento engolir o nódulo na minha garganta, me convencendo de novo que não posso fazer isso. Meu olhar se encontra com o rio que ainda me desafia por uma última vez, soltando outro soluço forte.

Você ganhou. Mas ganhou dessa vez.

Quando desço, e começo a caminhar na outra direção da ponte, sinto que uma parte de mim ficou no parapeito, e que essa parte está me chamando. Meu peito dói novamente, e eu fecho os olhos, cravando as unhas na minha própria palma para canalizar essa vontade.

Você precisa continuar andando.

Mas eu estava tão perto!

Você vai ter outras oportunidades.

A cada dia que se passa, eu me sinto pior!

Você precisa fazer isso por ela. Por Ashley.

Suspiro fundo. Eu preciso fazer isso.

Mesmo que minha condição física não esteja me permitindo fazer isso, eu começo a correr. E corro sem parar, até que eu me afastasse o suficiente da ponte. Eu estava cruzando o primeiro quarteirão quando não aguentei mais, e precisei apoiar a mão na parede de uma loja fechada para tomar ar e me equilibrar nos meus pés novo. Me repreendi por não ter trago o carro, mas como eu poderia prever que não iria saltar e ter que voltar andando para minha vida maravilhosa?

Enxuguei minhas bochechas, que estavam quentes, mesmo com a neblina gélida e a garoa irritante, e foquei o olhar no Hunter's, um bar que eu conhecia muito bem na cidade. Estava aberto, emitindo aquela música gostosa que não fez meu coração vibrar como normalmente, do outro lado da rua. Pensei várias vezes em entrar nele, e pegar uma bebida com o resto de dinheiro que ainda me restava. E à essa vontade, eu cedi.
Mas não fora nada demorado. Eu entrei, comprei uma garrafa de tequila barata, saí com o coração apertado, por não conseguir sentir a excitação que aquele lugar me causava, segui meu caminho e raciocinei algo que não tinha pensado até então, enquanto dava o primeiro gole.

Já eram 11:30PM, o que teria aberto à essas horas senão bares e baladas?

- Ótimo.

Sussurrei comigo mesma, parando de andar. Desde que tínhamos doze, iniciamos uma mania de entregarmos os presentes na primeira hora do dia, e essa mania não se desprendeu até hoje. Normalmente, passamos a virada para o aniversário em festas com nossos amigos, no Hunter's, ou em baladas, porém, desta vez, somada à minha angústia contínua, a vontade de fazer absolutamente nada senão ficar deitada na minha cama e a viagem que Ashley teve de fazer a trabalho, não marcamos festas. Parece que tudo caminhou perfeitamente para meu momento na ponte.

Expulsei os pensamentos quando a palavra "ponte" surgiu na minha mente, e comecei a dar passos automáticos na direção para qual já estava seguindo. O que eu poderia comprar?

Bebidas alcoólicas em bares? Mas eu não tinha dinheiro suficiente para pagar por uma que Ashley merecia.

Chocolates em lojas de conveniências 24horas? Trágico demais.

Dei mais um gole considerável no tequila, como se isso fosse me ajudar a pensar melhor. Eu odiava ter perdido o meu dinheiro. Eu odiava o motivo ser ela. Eu odiava ter confiado demais. Eu odiava todas as pessoas que ficaram contra mim, por mais, que, no fundo, eu as entendo. Eu odiava a droga da Internet. Eu odiava ela. Eu me odiava, porque...

Espera, aquilo era uma floricultura aberta?

Eu já estava chorando de novo por relembrar todos os meus pesos quando enxerguei uma loja toda delicada, enfeitada por flores de ponta a ponta na rua paralela ao qual eu estava prestes a atravessar. Era a única loja reluzente no meio da escuridão da cidade à essas horas, e isso a fazia se destacar.

Eu já a vi inúmeras vezes quando passava por aqui, mas nunca fora significante o suficiente para chamar minha atenção por completo. Bom, até agora. Agora, aquela loja era a única coisa que meus olhos viam.

Ashley gostava de flores. E eu podia dar flores como um presente meia-boca, apenas para não "passar em branco". Era a única coisa que eu conseguiria para seguir nossa tradição, e eu já estava vendo uma moça lá dentro enquanto me aproximava, então, estavam realmente abertos.

A ideia de encarar outras pessoas naquele momento me assustava um pouco. O que elas pensariam se soubessem o que eu estava prestes a fazer a alguns minutos? O que pensariam se soubessem que eu ainda quero fazer? O que pensariam se soubessem as razões? Elas sabiam sobre mim? Sobre aquela maldita polêmica? Era algo que eu teria de enfrentar por Ashley, e, em todo caso, obrigada pela luz acesa, floricultura.

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