Ele queria isso... ele me queria. Demais.

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MAGNUS

Hora após hora, eu fiquei lá.

Contei todas as marcas d'água no teto. Duas vezes. Haviam 47, o que me deixou profundamente preocupado com um problema de mofo nas paredes.

Observei uma aranha tecendo sua teia no canto da sala. Em um ponto, ela desceu em um fio de teia bem quando o ar começou a soprar. A rajada repentina balançou a aranha como um pêndulo e ela desapareceu.

Durante a próxima hora, esperei para sentir o roçar sussurrante das pernas de aranha em mim. Toda a minha paranóia foi em vão. A aranha nunca reapareceu, pelo que eu poderia dizer.

Ouvi a faxineira no quarto ao lado, tendo uma conversa unilateral em espanhol por um tempo indeterminado. Minha tentativa de chamar a atenção dela foi infrutífera. Não importou o quão forte eu me joguei contra a cabeceira da cama, que por sua vez bateu na parede, ela não veio investigar.

No final do dia, eu estava exausto pra caralho.

Meus ombros estavam pegando fogo e meus pulsos estavam machucados. Além disso, eu tinha um fio de cabelo ou algo no nariz que não conseguia pegar, não importava o quanto tentasse. Foi como se minha perna estivesse engessada e eu só pudesse aliviar a coceira empurrando um ferro no interior, exceto que não havia ferros à vista.

E se ele me deixou aqui?

Alec nunca tinha partido por tanto tempo. Mesmo quando eu estava na gaiola do cachorro, parecia que o via a cada duas horas.

Há quanto tempo ele saiu? O dia todo? Pareceu o dia todo.

Imaginei a manchete quando alguém finalmente encontrasse meu cadáver, enrugado e amarrado a uma cama.

"O FILHO SEM VALOR DO BANQUEIRO, SEQUESTRADO E DEIXADO PARA MORRER! NEM MESMO OS SEQUESTRADORES O QUISERAM."

O funeral seria ótimo. Mamãe se certificaria disso. Meus nojentos restos mortais seriam enterrados no caixão mais caro disponível, coberto por uma lápide absurdamente grande.

Eu duvidava que papai estivesse lá, a menos que Dot conseguisse anotar na porra de sua agenda e disfarçar como uma reunião de negócios.

Catarina seria provavelmente a única que realmente sentiria minha falta. Ela poderia pagar o resgate? Eu a reembolsaria, com certeza, mas era melhor do que esperar por uma esmola do meu pai.

Se Alec voltasse ou me deixasse falar por mais de um segundo, eu tentaria descobrir.

Foi o pequeno balão de esperança ao qual me agarrei até que a porta finalmente se abriu.

As mãos de Alec estavam cheias com um saco de comida e mais água. Eu não conseguia ver seus olhos por trás dos óculos de sol, mas sabia que ele estava olhando para mim.

Era a mesma sensação que eu tinha antes de ser sequestrado, uma sensação que estupidamente escolhi ignorar porque "isso não pode acontecer comigo". Que ingênuo. Tudo pode acontecer a qualquer pessoa a qualquer momento.

Colocando o material sobre a mesa, ele caminhou até a cama e tirou os óculos escuros.

— Não fale ou não há comida.

Baixei o olhar, o que ele deve ter interpretado como um "sim", porque destravou as duas algemas.

Esfregando um pulso depois do outro, tirei a fita adesiva assim que voltei a sentir em minhas mãos.

Alec, entretanto, arrastou a mesa para mais perto da porta e sentou-se em uma cadeira bem em frente a ela.

Como eu não tinha permissão para falar, não pedi permissão para ir ao banheiro. Não que houvesse outro lugar para ir. Ele não disse nada quando fechei a porta, nem quando a abri novamente.

De Joelhos (Malec)Onde histórias criam vida. Descubra agora