and i stand still.

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A porta velha de madeira e tinta descascada, as ferrugens das dobradiças, o olho mágico com uma imagem de péssima resolução, eu me encontro sempre dentro de casa, protegida a um passo de todos os problemas do mundo explodirem sobre a minha face. Posso ouvir gritos, pessoas que simplesmente não conseguem mais reter tudo aquilo que sentem dentro de si ou já teriam fisicamente explodido em mil pedacinhos. Ouço milhares de pessoas gritando que é o fim e que vão embora para sempre, estranhos, um punhado aleatório de seres humanos quebrados como qualquer outros que pelo azar do destino vieram parar na minha vizinhança.

Espio pelo olho mágico, olho de longe o mundo desabando, pessoas imploram por socorro mas não as deixarei entrar. Minha casinha protegida não passa de uma clínica pessoal sem verba suficiente do governo, não há vagas, não há macas, não há espaço, há apenas a culpa de que deixarei todos ao caos para morrerem. Eles não me veem nem buscam ajuda diretamente, mas eu os vejo, eu estou sempre lá fadada a ver o sofrimento alheio enquanto nem consigo consertar a mim mesma.

Minhas garras afiadas e minha mente preocupada não conseguem entrar em coesão, sangue jovem respinga no lado de fora da minha porta, estranhos cortam tudo com suas facas e tesouras e giletes e dentes e unhas e me resta bater a cabeça na parede para não cometer nenhuma loucura.

Não gosto de imaginar que eles estão perdidos, mas aceitar um dentro de casa para apenas passar um analgésico e mandá-lo embora não seria igualmente injusto? Suas dores vão muito além de tudo o que eu posso imaginar, então permanecerei aqui dentro, assistindo.

OLHO MÁGICOOnde histórias criam vida. Descubra agora