Capítulo 19

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tw (?): esse cap tem referências a Grande Fome Chinesa, apesar de serem apenas menções, podem ser grotescas. Também faço referência à Era Maoista, que também foi extremamente violenta e perturbadora.

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Xiao não sabia por quanto tempo ficou inconsciente antes que fosse forçado a voltar a realidade, incapaz de controlar seu próprio corpo. E foi por esse mesmo motivo que, ao ver seu antigo mestre, não esboçou reação alguma fisicamente, porém, por dentro estava aos cacos.

Moraxx disse que ele estava morto. Moraxx... Mentiu?

Xiao tentou não pensar nisso. É claro, houve a vez em que os restos dele haviam atacado o Porto de Liyue, mas era apenas isso: restos. Sem contar que ele não estava os enfrentando sozinho.

Ele não esperava ver o próprio homem.

Osial, um d̶e̶m̶ô̶n̶i̶o̶ deus derrotado por Moraxx na Guerra dos Arcontes. Tinha longos cabelos azuis, as pontas eram serpentes marinhas. Seus olhos eram turquesa e todo seu rosto rodeado por escamas, suas orelhas eram pontudas. Suas roupas eram principalmente quimonos azuis e pretos. O mesmo deus que o nomeou 'Alatus'.

Milênios atrás, quando era apenas uma criança inocente, Xiao foi levado sob a asa de Osial. A princípio, o adeptus não pensou que seria tão ruim, mas esse pensamento logo se desintegrou com o passar dos tempos. Osial o forçou a cometer atrocidades que o assombram até a atualidade.

Xiao teve sorte por não ter morrido de fome quando era mais novo. Seu mestre costumava usar a comida como arma: era necessário seguir suas ordens corretamente, caso contrário, passava fome. Xiao, tendo sido bem rebelde no início, permanecia dias a fio sem se alimentar. Felizmente, ele havia encontrado um jeito para fugir e chegar até a borda da Espinha do Dragão, mesmo que a única coisa para comer naquela área fosse neve.

Ele não era o único que 'trabalhava' para Osial. O homem havia trazido outras crianças, adolescentes e até mesmo adultos para serem seus servos e soldados. Muitas vezes, o yaksha presenciava alguém sendo executado ou punido por não cumprir uma ordem direito. Também via muitos cederem a fome, comendo ratos, insetos, terra e cadáveres de seus próprios colegas.

O território do Deus do Vórtice era um lugar nojento e brutal, onde o ditado 'o mundo é dos mais fortes' era levado literalmente.

Xiao tem certeza que foi abençoado, porém, quando Moraxx derrotou Osial e o acolheu, dando-lhe o nome que hoje usa. Ele era um dos únicos que havia sobrado, um dos únicos que não havia sido esmagado pela mão de ferro de Osial.

Naquela época, ele confiou no Deus dos Contratos com todo o seu ser. Então...

Por que Osial estava aqui novamente, em sua frente, lhe dando ordens?

"Volte a ser Alatus.

Mais importante. Por que ele estava com a irmã de Aether?

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Quando abriu os olhos, Xiao estava em um espaço vazio, o que ele presume ser sua consciência, ou a consciência de seu corpo. Era simplesmente um chão cinza sem graça, céu totalmente negro com nuvens de cor cinza claro.

Claro, ele deveria ter imaginado que "Voltar a ser Alatus" era virar a máquina de matar que uma vez fora. Porém, dessa vez não era ele. Parecia um alter ego.

Mesmo que fosse obviamente esse outro ser controlando, Xiao conseguia vê-lo claramente, porém era incapaz de tocá-lo.

O alter ego era, previsivelmente, idêntico a si em termos de formato e estilo. O que mudava eram as cores: seus olhos eram de uma cor esmeralda, suas mechas eram vermelhas em vez de verde água, ele estava sem camisa e sua calça e acessórios eram pretos. Suas tatuagens também eram um pouco mais escuras e se estendiam até seu abdômen. Xiao resolveu se referir a ele como Alatus.

O que mais surpreendeu o yaksha, porém, foi perceber que o alter ego não parecia estar se divertindo por ter o controle total de um corpo. Muito pelo contrário: estava com as sobrancelhas franzidas e um beicinho irritado no rosto. Xiao não entendia por que, já que o alter ego provavelmente fora fruto das vontades de Osial, que era alguém bem sanguinário para seu gosto.

"Ei, estou no controle do corpo agora, consigo ouvir você pensando muito." – Zombou Alatus, assustando Xiao. Ele não havia se movido da posição que estava, mas mesmo assim o adeptus entrou na defensiva.

O alter ego parece ter suspirado, antes de se virar e começar a se mover em sua direção.

Ele parou em frente a Xiao e cruzou os braços, a carranca parecendo estranha em seu rosto. "Olha, eu sei o que parece."

O yaksha lhe deu um olhar sombrio. "É exatamente o que parece. Você vai matar alguém, quero saber quem."

"Parece que você não se lembra de mim, né?" – O outro riu, antes de balançar uma mão. "Não faz mal, faz muito tempo mesmo."

Xiao abriu a boca para responder, mas foi interrompido por uma mão se levantando.

"Antes que você continue a me atacar verbalmente, quero dizer que eu sou uma parte de você e que também não estou feliz com isso." – Alatus fez uma careta. "Digamos que, antes de Osial me dar uma forma física, eu era suas emoções. Seu ódio, seu desgosto. Sua tristeza, seu desespero. Sua paixão, seus desejos carnais. Tudo que você trancava lá no fundo do seu ser." – Deu uma respiração profunda. "Você entendeu o que aquela mulher quer, certo?"

"A irmã de Aether?" – Perguntou Xiao, seu tom de voz ainda cotinha uma pitada de desconfiança.

Alatus rosnou e lhe dirigiu um olhar sujo. "Vamos lá, Xiao. Você não é estúpido. Sei que você percebeu os olhos."

Um silêncio desconfortável reinou por alguns momentos.

"Não pode ser..."

O alter ego riu. "É a deusa que trouxe nosso precioso solzinho até nós!"

Xiao estava ansioso para arrancar seus dentes por usar o pronome possessivo 'nosso' para se referir a Aether - mesmo que fossem, tecnicamente, a mesma pessoa -, mas se segurou, já que poderia se tornar um aliado.

Alatus logo voltou a seriedade. "Não quero machucar Aether. Não queremos machucar Aether. E nem a fadinha que ele adotou como irmã."

Xiao cruzou os braços. "Nã-"

O outro o interrompeu novamente. "Esqueceu que eu sou o que você sente? Admitindo ou não, você se aproximou daquela fada e ouso dizer que se importa com ela. Acho que o único que você realmente mataria por boa vontade é o décimo primeiro mensageiro do Fatui." – Comentou a última frase com um sorriso malicioso. "Mas enfim, voltando aos assuntos sérios, gostaria de fazer um acordo."

O yaksha suspirou, mas assentiu. "Sou todo ouvidos."

"É o seguinte, Osial está contando que eu tenha mais ódio do que amor, e isso me faz ser um 'monstro mortífero', o que prova como a mentalidade do homem é arcaica." – Começou Alatus, antes que Xiao começasse a vaiar.

"Direto ao ponto!"

"Sempre tão apressado!" – Chorou o alter ego, mas logo voltou a uma calma assustadora. "Osial é tolo, não burro. Ainda estamos sob magia abissal que nos força a atacar tudo que não contém a mesma energia. Ou seja, a pressão toda dessa magia estará em mim. É aí que você entra. Aether tem aquele bule, certo?"

Xiao assentiu. "Mas não conseguimos acessá-lo quando tentamos abrir." – Disse.

"Isso é porque todas as formas de comunicação com Teyvat estavam bloqueadas enquanto a deusa se estabelecia em uma posição favorável. Não sei qual é seu plano, mas sei que ela não queria outras pessoas de Teyvat intervindo." – Explicou. "Mas agora, a conexão está de volta, você deve conseguir entrar no bule de Aether e tentar comunicação. Vocês devem descobrir uma forma de retirar a magia abissal desse corpo, já que é essa parte que eu não sei."

"E como eu posso confiar em você?" – Questionou Xiao, cruzando os braços.

Alatus deu um sorriso falso, com as bordas dos olhos meio molhadas, estendendo a mão direita e olhou-o nos olhos. "E que outra escolha nós temos?"

Embora relutante, Xiao retribuiu o aperto de mão.

Um novo contrato foi assinado.

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