Capítulo 50

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- Seth – dona Mia chamou da cozinha da minha casa. Suspirei e ele me olhou meio se divertindo e meio pedindo desculpas ao mesmo tempo.

- Vai lá – dei um empurrãozinho nele com o ombro de brincadeira, e ele se levantou.

- Ela só quer ajudar – disse baixinho, em pé à minha frente.

- Ah, eu sei. Eu já desisti de falar que não precisa. Vou apenas deixar ela ser feliz – sorri um pouquinho.

Depois de todo o estresse do fatídico dia e tudo o que rolou ontem, hoje eu já me sinto bem melhor. E por melhor eu quero dizer que pelo menos a minha cabeça não parece que vai explodir. Eu também não estou mais com tontura e não me sinto mais em um estado de confusão, então... yay...

Lucy acabou dormindo no quarto de hóspedes, mas deixou um aviso para mim e para Seth porque ela teve que sair, mas voltaria mais tarde...

E, como prometido, a mãe do Seth veio nos ver, parecendo mais aliviada do que preocupada, embora seu semblante mostrasse nitidamente que ela não conseguiu dormir por nem sequer um minuto na noite anterior.

Para a surpresa geral, o pai do Seth realmente veio. De início, tudo o que ele fez foi ficar calado enquanto estava sentado na sala, observando a interação do filho comigo. Diferente de antes, porém, seu olhar não parecia nos atravessar e ele não parecia incomodado conosco. Nem mesmo quando o filho me puxou para um beijo – que eu acabei interrompendo rápido demais por causa da vergonha – ele pareceu ligar.

O homem apenas nos observava, como se tivesse entendido algo muito importante. Após o período de silêncio – e quando a esposa voltou para a sala depois de preparar o almoço e, claro, nos obrigar a comer – ele finalmente começou a falar e, surpreendendo ainda mais a todos, a primeira coisa que ele disse foi um pedido de desculpas.

O homem parecia realmente pesaroso sobre o tratamento que ele vinha me dando, embora levando em consideração várias coisas, o pior que ele fazia comigo era me ignorar quando eu estava por perto e ele não estava no clima de fingir cordialidade...

- Eu fico feliz em ter ganho uma filha – completou, ao se levantar, parando à minha frente. Seu rosto até então sempre sério estava passivo e sereno e um sorriso largo adornava seus lábios enquanto seus olhos brilhavam, úmidos com as lágrimas.

Seth me cutucou, me arrancando do meu torpor, então eu me levantei do sofá e o homem me abraçou forte, porém com cuidado.

Hesitei por uns instantes em abraça-lo de volta. A sensação que eu sentia era a mesma que eu tive quando meu pai me abraçou pela última vez, pouco antes de se despedir no aeroporto, quando ele foi mandado para longe da gente...

Quando eu finalmente voltei a mim, retribuí o abraço, trêmula, muito incerta se o motivo era o abraço em si, ou o que ele me lembrava: carinho paterno. Eu nunca pensei que eu sentisse falta... Não... Eu nunca quis admitir, até esse exato momento, o quanto eu senti falta disso.

- Me desculpa – disse de novo. – Me desculpa por precisar que quase acontecesse uma tragédia para entender que, se eu não for o porto seguro de vocês, ninguém vai ser, porque o mundo é cruel – confirmei com a cabeça enquanto lutava contra a vontade de chorar. Eu sinto falta de quando eu não sentia vontade de chorar por qualquer coisa... – Eu mantenho o que eu disse antes: eu me faço disponível para vocês em qualquer coisa. Mas eu quero mudar algo – o mais velho fungou, também emocionado. – Eu gostaria que vocês fossem mais presentes. Eu não vou mais bancar o machão rígido. Eu sinto falta do meu filho e eu também quero poder conhecer melhor a garota que ele tanto gosta.

Confirmei de novo, incerta do que aconteceria se por um acaso eu abrisse minha boca.

- E eu sei que eu não tenho esse direito, mas... – hesitou. – Mas eu ficaria muito feliz se eu pudesse ser a figura paterna que foi negada à você desde nova – ele se afastou pra poder olhar meu rosto e aí eu já não consegui mais segurar lágrima nenhuma. Tudo o que eu consegui fazer foi esconder o rosto com as mãos, me sentindo mais fragilizada do que verdadeiramente embaraçada.

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