Capítulo Único

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Honestamente, deveria ter sido muito fácil. E foi, no começo.

Ela sempre soube sobre ele. Havia tantos rumores e histórias, mesmo do outro lado do canal. Por isso, quando ela finalmente o conheceu, foi tão anticlimático e, principalmente, tentador. Ele parecia apenas a exata mistura entre vulnerabilidade e utilidade.

É claro, ela era melhor do que isso, ou, pelo menos, pensava ser, e não agiu imediatamente. Havia resistência, moral. As primeiras impressões tinham um hábito horrível de serem enganosas. Neste caso, no entanto...

Ele simplesmente não era o que ela, ou qualquer um dos seus colegas franceses, pensava que seria.

Esse garotinho era um herói nacional?

Rindo envergonhado entre seus pares, muito mais exuberantes, e, surpreendentemente, tentando se esconder na massa fria de rostos e robes indistinguíveis.

Apenas não parecia certo.

A imagem não encaixava com o personagem e nem mesmo com os boatos que a própria escola escocesa parecia disseminar.

Ela ouviu sobre ele ser um ímã de problemas, um caçador de glória, um quebrador de regras, trapaceiro infame, aprendiz de senhor das trevas, arrogante, entre outras mais diversas teorias coloridas. O mais surpreendente é que essas opiniões pareciam vir de alunos que nem demonstravam ter um excessivo desgosto pelo menino.

Não parecia verdade.

No entanto, isso não a impediu de descartá-lo, quase que de imediato, como sem importância.

Na pequena sala, em meio a gritos e uma possível crise diplomática, ela viu o primeiro indício de que havia se equivocado, de que havia algo a mais.

A princípio ele parecia assustado e confuso. O que condizia com a impressão que ela tinha dele até aquele momento. No entanto, quando Harry Potter foi pressionado contra a parede, figurativa e literalmente, ele não hesitou.

Nem por um maldito momento.

Um fogo de rebeldia brilhou em seus olhos verdes quando alguém desprezou-o. Esse alguém, amaldiçoado seja seu temperamento volátil, era justamente ela.

No mínimo, ela deixou uma primeira impressão ainda pior do que a dele. E isso, sem dúvidas, era dizer algo.

O incidente, por outro lado, não mudou as coisas. Ele seguia sendo uma peça estranha ao quebra-cabeça.

Dócil, temeroso e vulnerável.

Com exceção do breve brilho após a seleção de campeões, era apenas isso que ela conseguia ver. Muito diferente da miríade de opiniões, da mais baixa a mais alta conta, que o restante do corpo estudantil parecia ter em relação a ele.

Esse garotinho era mesmo digno de toda aquela comoção?

Apesar de sua infâmia considerável, era muito fácil esquecer que ele era, de fato, uma celebridade. Até mesmo ele parecia surpreso quando era lembrado desse pequeno e significativo fato. Como na ocasião em que foram convocados para a realização da pesagem das varinhas, onde ele foi tão facilmente emboscado pelos tubarões famintos da mídia.

Dia após dia, de encontro a tudo que ela esperava ver, ele reforçava suas cores iniciais. Escancarando a fragilidade e inexperiência, enquanto se esforçava para equilibrar sua relação, que parecia cada dia mais tensa, com seus poucos amigos.

Eventualmente, ela finalmente se convenceu, sem sombra de dúvidas, de que não havia nada de especial em Harry Potter.

No entanto, como em um Déjà vu, sua mais nova convicção não demorou a, outra vez, ser abalada.

A Bela e Ambígua Natureza dos LíriosOnde histórias criam vida. Descubra agora