Às 3:00 da madrugada, Leôncio dirige-se para o mangueiro com o balde prata na mão esquerda. Mococa está deitada a alguns metros, embaixo do pé de manga, mastigando a grama noturna. Ao ver Leôncio aproximando-se com uma vara na mão, Mococa começa a levantar e em poucos minutos já está a encher o balde prateado com seu córrego branco. Ao terminar, Leôncio retira a cerca entre Mococa e seu filhote.
Nos últimos 52 anos, dá para contar nos dedos quantas foram as vezes que Leôncio não se dirigiu para o mangueiro com o balde prata. Nunca deixou de ir duas ou mais vezes seguidas.
Após fazer a primeira refeição do dia, Leôncio despede-se da amada e põe-se no caminho à roça levando consigo uma enxada, a lima, a marmita e a garrafa d’água. Às 16:00, ele retorna para casa e o ócio inicia-se. No outro dia, a rotina encarrega-se de organizar sua vida novamente.
— Tchau, Alzira. Até mais tarde.
Era noite de junho e Mococa como sempre estava deitada embaixo do pé de manga. Às 23:26, ela avistou Alzira sair às pressas com o carro, mas rapidamente voltou ao seu ofício.
Três dias depois, Mococa interrogou-se às 3:00 da madruga: “não conheço aquele moço que está vindo com o balde prata, quem será que é?”.
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A pergunta de Mococa (um conto)
Short StoryDas perguntas inesperadas, dos lugares incontornáveis.