Capítulo 12 - Sua rota está sendo calculada

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Outra das instruções dadas por Chenle sobre o tal funcionamento da casa, era que o café da manhã dos Zhong era algo sagrado. Como seus pais trabalhavam o dia inteiro, não tinham muito contato com o filho durante a semana. Sendo assim, a hora do café era mais do que essencial para preservarem o diálogo.

Naquela manhã, prepararam a mesa com um lugar à mais, algo que não faziam desde que a filha mais velha havia se mudado. Jisung também havia passado algum tempo sem ver uma boa mesa de refeição, por isso, tentou conter o apetite quando viu tudo aquilo — mesmo que os Zhong não estivessem economizando nem um pouco na comilança.

— Então, Jisung-shi... — A mulher de cabelos curtos tratou de puxar assunto. A Zhong mais velha se chamava Meiyu. — Queremos saber como foi sua primeira noite. — Seus olhos traziam uma curiosidade simpática, assim como os do pai de Chenle, que dava um generoso gole em seu café.

Park engoliu a comida primeiro, antes de respondê-la.

— Tão boa que nem ouvi o despertador tocar. — Confessou, arrancando risadas da parte dos dois. Seus olhos pequenos evidenciavam que ainda estava sonolento, o que só deixou a frase ainda mais engraçada. — Chenle teve que bater na porta pra que eu não me atrasasse. — O rapaz em questão sorriu silencioso.

Zhong Wenxuan parecia muito feliz em saber que o mais novo havia tido uma boa noite.

— Sabe que pode ficar aqui pelo tempo que precisar, certo? — Ergueu uma sobrancelha. Jisung balançou a cabeça positivamente, junto a um sorriso tímido. Depois de alguns segundos mastigando, ele prosseguiu: — Então... vocês são amigos a quanto tempo?

Os dois se engasgaram na comida, em sincronia.

No fundo, se importavam um com o outro? Sim.

Uma tensão sexual completamente plausível pairava no ar sempre que estavam juntos? Também.

Mas... amigos? Eles não sabiam se já podiam ser chamados assim.

No entanto, para não precisar explicar aquela bagunça toda para o senhor e a senhora Zhong, ambos trocaram um olhar confidente.

— Uns anos, né? — Jisung crispou os lábios.

— É, uns anos. — Chenle confirmou, enchendo a boca com biscoitos doces.

Senhora Zhong franziu o cenho, confusa.

— É estranho... Posso jurar que nunca te vi entre os amigos do Chenle, por mais que vocês se vistam de um jeito parecido.

O metaleiro desatou a rir como se não houvesse amanhã.

Sabia que Jisung tinha explodido por dentro, mas ele não demonstrou na mesa do café. Deixou para fazer isso no caminho até o ponto de ônibus.

— Eu não tenho nada, nada haver com você ou os seus amigos! — Ele cruzou os braços, emburrado, encolhendo sua postura. Queria desaparecer embaixo do gorro que usava na cabeça.

— Eu sei, você sabe, mas por que caralhos a minha mãe saberia a diferença entre um headbanger e um emo? — Chenle acendeu um cigarro enquanto caminhavam. — Para os meus pais, desde que você use preto e ouça umas barulheiras, é tudo a mesma coisa. — Acabou se atrapalhando e deixando seu isqueiro cair, na tentativa de guardá-lo de volta em seu bolso.

Jisung abaixou-se para recolher o item. Entregou-o de volta nas mãos de Chenle, que reparou que o esmalte preto nas unhas dele já havia começado a desbotar.

— Eles curtem as suas músicas também? — Perguntou. Encostou-se em uma das estruturas que sustentavam o ponto de ônibus.

Chenle negou de imediato.

— Não. Queriam me levar pra igreja quando me pegaram ouvindo Anthrax. — Tragou fundo e abriu um sorriso.

— Aquele dos pentagramas na capa?

— Esse mesmo. — Assentiu, surpreso. Ouviu o ônibus se aproximar ao longe. — Você conhece?

Jisung confirmou com a cabeça. Fez sinal para o veículo encostar no meio fio.

— Tem que ouvir primeiro pra descobrir que não gosta, né.

Ele subiu no ônibus. A mochila cheia de chaveiros, bottons de bandas e animes, pendia em suas costas esguias.

Chenle o seguiu, pensando no quanto aquele garoto era uma caixinha de surpresas.

Num instante, foram consumidos pelo caos de todos os dias. Aquele lugar era sempre insuportavelmente ruidoso, mas era impossível negar que os percursores da bagunça tinham nome e sobrenome.

— Jisung! — Um coro de vozes chamava, vindo direto do fundo do ônibus. A voz de Donghyuck sobressaía a dos outros dois. — Vem aqui, bebê!

Park sentiu seu rosto esquentar. Eles pareciam realmente felizes em vê-lo, em saber que estava seguro pela primeira vez em tempos. Um pensamento curioso gostaria de saber qual havia sido a reação dos mesmos ao saber que Chenle havia oferecido sua casa como lar temporário.

— Oi, gente.

— Senta aqui no fundo hoje. — Jaemin pediu com um bico infantil, que deixava seu piercing no lábio ainda mais aparente. — A gente tá com saudade.

Jisung ajeitou seu corpo entre jaquetas de couro e braços tatuados. Antes de se perder na conversa dos quatro, assistiu pela janela a casa onde havia passado a noite ficar para trás, conforme o veículo dava partida. Também olhou de canto para o garoto com sorriso afiado que lhe dirigia olhares cada vez mais gentis.

Aquela era mesmo sua nova rotina. As coisas podiam ser simples, assim.

Ele levaria um tempo até se acostumar.

— Jisung, você não precisa responder se não quiser, mas eu tô um pouco curioso. — Donghyuck debruçou-se sob o colo de Renjun, para se referir diretamente ao garoto mais novo. — Tipo... ir assim pra casa de alguém não é fácil. Como você conseguiu pegar suas coisas e tudo mais? Digo, imagino que seus pais não te deixariam ir embora numa boa.

— Mas como é enxerido, hein? — O gremista o acertou no ombro com um tapinha. — Deixa de cuidar da vida do menino.

— Eu falei que ele não precisa responder se não quiser! — Justificou o tatuado.

— Deixa, não tem problema. — Jisung sorriu para tranquilizá-los. — Eu esperei até um horário que não ia ter ninguém lá. Aí, peguei o máximo de roupas que cabia na mochila, dois sapatos, escova de dente, remédio pra dormir, lápis de olho e... — Fez mistério. — Não vou dizer a última coisa.

— Aposto que é um poster do Brendon Urie. — Jaemin chutou, em tom de provocação. Todos os olhos se voltaram para Jisung, quando perceberam que ele havia ficado em silêncio, num ato que confirmava implicitamente o que havia sido falado. — Meu deus... é um poster do Brendon Urie?

O rapaz assentiu devagar. No fundo, ele também não se orgulhava disso.

— Tem um poster do Brendon Urie na casa do Chenle! — Donghyuck anunciou para o resto do ônibus. Praticamente, assinando seu homicídio - pois o Zhong voou em cima dele rápido demais para ser contido.

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