05. A fuga...

116 5 0
                                    

   Nem todos os "eu te amo", ditos no calor do momento são sinceros e verdadeiros, apesar de lindos e encantadores, como as mais lindas flores da primavera. Pois, as paixões de verões, infelizmente existem, essas não duram até o outono. Quem dirá, até o inverno, a estação mais fria, e também, feia, do ano.

Nos braços de um orgulhoso anjo, eu me sentia, a mais feliz de todas as criaturas de Deus, seus toques, seus beijos, suas carícias, tudo nele era simplesmente perfeito. Cada linha e expressão de seu belo rosto, de nariz aristocrático, e lábios carnudos e macios, tudo naquele ser de beleza celestial, era magnífico, ele sabia, e muito bem, como fazer amor. Sempre colocando o meu prazer acima do seu, como o mais generoso e ardente dos amantes. Alguns anos depois, bem, eu ainda tentei achar amantes como ele, porém nunca encontrei, e nem tão pouco poderia, Lucifer era único, e eu mais do que ninguém, deveria saber disso. Mas voltando ao presente meu corpo nu junto ao dele, igualmente sem roupas, era divino, sublime em todos os sentidos, mesmo sendo um grande pecado.

Eu me sentia amada, protegida, e querida abraçada aquele anjo tão misterioso e lindo, que insistia em me chamar, de "meu amor". Nos braços dele, do meu mais novo amor, eu quase nem me lembrava mais do meu marido, bem, pelo menos era assim, que eu desejava. Mas uma parte de mim, por menor que fosse, sabia que o que eu estava fazendo, era mais do que errado, e constantemente, me pedia para parar com toda aquela loucura. Mas o meu desejo era mil vezes maior do que, a soma de todos os meus medos e inseguranças, por isso, eu continuava ali, nos braços de Lucifer, mesmo sabendo que aquilo, era mais que um pecado, uma abominação aos olhos do meu Senhor e criador.

Dizem que amar, é saltar de um penhasco sem paraquedas, mas eu vou bem mais além, dizendo que o amor em si, é o próprio penhasco. Pois nos olhos claros daquele anjo rebelde, orgulhoso e cheio de soberba, eu finalmente me sentia viva de novo, depois de tanto tempo, tentando agradar a quem não estava mais nem aí para mim, que não me amava, há muito tempo, além de, não sentir mais sequer, um pingo de respeito por mim, por menor que, ele fosse. O amor é uma linda armadilha, em que as pessoas se jogam com vontade, acreditando que assim, serão felizes. E naquela época, eu não era muito diferente de muitos dos filhos de Eva, sendo ingênua e tola, acreditando em coisas impossíveis, sendo o amor em si, a principal delas.

- Ah Lilith, eu, com certeza, sou o anjo mais feliz deste mundo; diz acariciando minhas costas nuas, enquanto isso eu sinto o vai vem de seu peito debaixo de meu corpo, sua respiração, e também as batidas frenéticas de seu coração, que certamente estava batendo mais acelerado por minha causa, pelo menos, era o que eu pensava, naquele época, tão fatídica - Eu te amo tanto, venha comigo para longe dessa vida cheia de sofrimento.

- As vezes eu acho que, o que tivemos não passou de um sonho. O mais lindo sonho de amor, que ninguém mais teve, ou poderis ter; suas asas cobriam nossos corpos nus, que estavam entrelaçados um no outro, como se fossem apenas um só, cheios de desejo, paixão e amor - Foi tão magico e perfeito, o que aconteceu aqui, que, eu tenho muito medo de, acordar deste sonho tão perfeito, para uma realidade ainda mais cruel, do que, a que eu estou vivendo, quando não estou nos seus braços. Nunca senti tanto prazer, como senti nos seus braços, sendo amada por você, e ganhando as suas carícias, que me enlouquecem de prazer, me fazendo acreditar no impossível.

- O que houve foi mais do que real. Muito mais, pode acreditar nisso, minha princesa de cabelos de foo; coloca meu rosto entre suas mãos, o aproximando ainda mais, do seu, me olhando muito internamente, quase como se, pudesse ler a minha alma, descobrindo para si, todos os meus segredos - Lilith, eu te amo, e isso, minha princesa, nunca vai mudar.

- Queria poder acreditar nisso; me afasto dele e me levanto com apenas meus cabelos cobrindo meu corpo, como uma cortina de fogo - Mas no final das contas você é um anjo... Um dos arcanjos, que começou como um querubim... E eu não passo de uma simples humana, Lucifer, essa é que, é a verdade, e nós dois sabemos, e muito bem, disso...

- Eu não me importo; me abraça por trás e sinto a maciez de suas asas em minhas costas - O que sinto por você, é verdadeiro e sincero, o amor mais puro que sinto, depois do que tenho por meu pai, e isso me basta, pelo menos, por enquanto.

- Eu queria muito acreditar nisso Lucy, de verdade; percebo o modo como o chamei - Me desculpe eu, simplesmente, não deveria...

- Tudo bem minha princesa; me silencia com um beijo cheio de ternura - Gostei deste apelido carinhoso...

- Você gostou mesmo?

- Bem, talvez isso a convença, melhor da sinceridade de minhas palavras de agora, minha amada princesa - Beija os meus lábios de leve - Minha princesa, meu amor, dona do meu destino, ah, Lilith, você é a estrela mais brilhante e linda de todo o céu dos meus pensamentos.

- Também te vejo como uma estrela, mais do que isso - O encaro, cheia de sonhos e esperanças - Eu te vejo como o meu sol, me aquecendo e iluminando todos os meus dias, desde que me acordo, até um tempinho antes, de dormir, porque você me faz feliz, me amando, como eu sou.

Me beija mais uma vez e depois que ele se veste vamos embora do Éden, para bem longe... Mal sabia eu que o que, é bom sempre acaba, e da pior maneira possível. Principalmente agora, que eu havia pecado pela primeira vez em minha vida, mesmo não sendo a última, naturalmente. Afinal de contas, alguns pecados são bem mais irresistíveis e sedutores, do que outros.

Eu estava deixando uma vida para começar outra, acreditando que tudo poderia ser diferente, e que, quem sabe, eu pudesse ser muito feliz, ao lado de um homem que me amava de verdade. Não que eu tivesse esquecido todo o amor que eu ainda sentia pelo Adão, e que aos poucos foi se minguando, como as fases da lua, que em determinado tempo, nem chegava a aparecer no céu. Mas acontece que, eu queria ser feliz ao lado de alguém que me amasse, e me fizesse voar, acreditando no impossível. Lucifer parecia ser, esse alguém, essa pessoa que me faria mil vezes mais feliz do que o meu primeiro marido, aquele que haviam escolhido para mim.

Eu me sentia bem, tendo o direito a escolher, quem eu poderia amar, e não apenas mais um joguete nas mãos de um Deus invisível, que havia me criado, e que insistia em mandar em meu destino. Mas o que eu, certamente não sabia, era que, eu seria apenas mais uma nas mãos de um anjo, que além de muito orgulhoso, também era vingativo, em especial contra os filhos de Eva, os humanos, no geral, incluindo eu, que para ele, não passei de um passatempo, e nada, além disso.

Lilith, a história não contada... (reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora