O Sonho

75 4 1
                                    

- Prometo que não vamos demorar para te buscar. - Disse meu pai com uma expressão triste no rosto - É um lugar muito legal e divertido. Você irá amar.
O vento estava forte e eu começava a sentir frio, porém eu não queria entrar lá dentro. Dentro daquele enorme edifício nomeado "Scuola privata di Lamon", ou melhor "Escola Privada de Lamon", uma grande escola localizada em uma cidadezinha no norte da Italia, Lamon. Eu tinha apenas 6 anos e estava morando na Italia com meus pais faziam 6 meses, antes disso eu morava em São Paulo, capital do estado também nominado São Paulo, no Brasil, país onde eu nasci e estava levando uma vida boa e calma até 6 meses atrás.
- VOCÊ DEVERIA TER ME AVISADO! VOCÊ NÃO ME AVISOU! - Berrou minha mãe direcionando as palavras ao meu pai, cortando todo o silêncio no qual eu estava organizando os meus pensamentos momentos antes. - ELA TAMBÉM É MINHA FILHA, VOCÊ NÃO PODE FAZER O QUE BEM ENTENDE COM A VIDA DELA!
- Maria, por favor, nós podemos conversar sobre isso mais tarde, e SEM gritaria. - Disse meu pai, que agora focava seu olhar em meus olhos azuis claros cheio de lágrimas escorrendo. - Você só vai assusta- la desse jeito. - Papai se aproximou e me envolveu em seus braços, cochichando em meu ouvido que "estava tudo bem".
Minha mãe, agora mais calma, me chamou e eu corri para os braços dela.
- Silena, nunca se esqueça que EU TE AMO - Ela enfatizou muito bem essas três palavrinhas - E que estarei aqui assim que possível. - Ela apontou com a cabeça em direção ao papai - Seu pai tem razão, essa escola é um lugar divertido, onde você vai fazer novos amigos e se divertir muito.
Havia dois seguranças, um homem e uma mulher, parados em frente a grande porta de entrada. O homem, de cabelos pretos e olhos de um azul intenso chamou meu pai e disse "Le porte si chiuderanno in cinque minuti.", As portas se fecharão em cinco minutos. Isso me fez entrar em desespero e mais lágrimas cairam. Eu definitivamente não queria entrar naquela escola, que se localizava literalmente no meio do nada, na parte medieval e abandonada da cidade de Lemon, onde todos os imóveis que costumavam existir, hoje estavam abandonados e demolidos. O porquê dos meus pais me deixarem lá, eu só vim à descobrir anos mais tarde.
Dei um forte abraço e um beijo na bochecha dos dois. Lágrimas escorriam no rosto de minha mãe, fazendo com que seus fios de cabelo preto grudassem em seu rosto. Olhei no fundo dos olhos castanhos dela e percebi o quanto eu me sentia segura olhando para eles. Meu pai me encarou pela última vez antes de me entregar aos seguranças e disse "Ti amo".
....................

" Hai intenzione di essere in ritardo per la scuola, ragazza! Svegliati !"
Acordei assustada, olhando para os lados, tentando entender o que estava acontecendo, quando a voz da minha fiel babá, Lucinda, que cuida de mim á 8 anos, disse "Você vai se atrasar para a escola, menina! Acorde!".
- Que horas são? - Perguntei enquanto me levantava da cama.
- Sete e meia! Você tem apenas trinta minutos para se aprontar e ir tomar café da manhã.
Coloquei meu uniforme, camiseta polo; blazer; saia; e meia calça preta o mais rápido que consegui, dei uma penteada rápida nos meus cabelos, que são pretos, lisos na raiz e levemente ondulados na ponta, e provavelmente a coisa que eu mais gosto em mim, apesar de ser desligada e nunca realmente cuidar direito dos meus fios. Voei para a cozinha. Olhei no relógio, sete e cinquenta, dez minutos para o ônibus da escola chegar ao ponto de ônibus que fica á cinco minutos de casa, o que me deixa 5 minutos para tomar café, então eu simplesmente peguei um pacote de bolachas recheadas de chocolate, mais conhecidas aqui na Inglaterra como "Digestives", e fui comendo durante o caminho até o ponto. O clima estava frio, como sempre, e o vento forte, fazendo com que o meu cabelo se bagunçasse todo. 
Cheguei e o ônibus chegou um minuto depois, entrei e cumprimentei o motorista, um senhor que aparentava ter uma idade por volta dos sessenta anos "Good morning sir!" e fui retribuída com um grande sorriso e um "Good morning little girl!". Eu estava pretendendo sentar no andar de cima de ônibus, porém quando subi as escadas até lá em cima, percebi que só havia um lugar disponível, porém era ao lado de um menino da escola que eu não me simpatizava, então desci e acabei sentando em um dos bancos da frente, ao lado de uma loirinha chamada Chloe, uma das poucas pessoas nesse colégio que tem sido legal comigo.
O ônibus entrou em movimento, e eu não conseguia parar de pensar em quão legal é ir pra escola em um ônibus vermelho de dois andares tradicional da Inglaterra, porém não pude deixar de lembrar da época em que eu ia para a escola no Brasil no carro de minha mãe, e como eu sinto falta disso.

O Planeta SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora