Eu amo o mundo humano. É tão mais tranquilo e diversificado do que Elfhame. E tem All Star. Amo All Star. E pizza. Coisas pequenas que me fazem tão bem.
Óbvio que o Reino das Fadas deve parecer muito mais interessante, com as criaturas, lugares e plantas saídos dos livros de fantasia, mas não para mim. Talvez tenha a ver com o fato de eu ter sido obrigada a crescer naquele lugar.
Minhas irmãs não precisam mais tanto de mim, posso ir. Elas sabem que só continuo na casa de Madoc por elas. Mas, agora, vou fazer minha vida.
Neste exato momento, estou no banheiro de um prédio cheio de escritórios, pensando no passo que dei.
Comprei um apartamento, minha própria casa, no mundo humano. Acabei de assinar os documentos.
Me olho no espelho. Meus cabelos loiros estão presos em um rabo, estou vestindo um blazer cinza, minhas orelhas pontudas e olhos de gato estão escondidos com magia. Sorrio para meu reflexo e saio do banheiro.
Entro no elevador e ela está lá. A menina de pele escura e cabelos cor-de-rosa que vi algumas vezes pela cidade. Ela é linda. Muito linda.
-Térreo? -ela pergunta, e confirmo, hipnotizada com sua voz.
Paro do outro lado da cabine e olho para o chão. Ela veste um vestido rosa estampado com flores, e um All Star rosa personalizado com borboletas. Seu cabelo tem uma trancinha do lado direito. Ela tem uma pasta cheia de papéis.
Ela.
Estou totalmente atraída por ela e não sei nem seu nome. Penso em perguntar. Humanos são educados e amistosos uns com os outros, não?
Antes que eu consiga abrir a boca o elevador dá um tranco e para. Os papéis dela se espalham. As luzes desligam, deixando o ambiente na semi-obscuridade. É dia, mas essa caixa de metal não tem acesso ao sol.
-Está bem? -pergunto, agachando para recolher os papéis. Meus olhos estão acostumados com a noite, e consigo ver claramente sua expressão assustada. Também admiro os desenhos espalhados. Ela quem fez?
-Sim, sim. Foi só um susto. Acho que deu pane. -ela responde, abaixando também. -E você?
-Também. Aqui -digo estendendo os desenhos que ajuntei para ela -São muito bonitos.
-Obrigada. Eu que fiz -ela fica meio tímida, e não me olha nos olhos. A observo enquanto guarda tudo na pasta.
Quando termina, simplesmente se senta no chão e dá dois tapinhas no espaço ao seu lado. Sento ali, e não sei o que dizer. Ela resolve isso:
-Provavelmente vamos ficar aqui um tempo. Qual seu nome?
-Vivienne -respondo -mas prefiro que me chamem de Vivi. E o seu?
-Heather -a menina bonita agora tem nome -Prazer te conhecer de verdade, Vivi.
-O prazer é meu, Heather -então raciocino o que ela disse -Me conhecer de verdade?
-Ah -ela fica meio corada. É adorável -Já te vi algumas vezes por aí. Você chama atenção. Fiquei curiosa pra te conhecer, mas não tive a chance de puxar conversa.
A informação me surpreende um pouco. Ela também me notou? Abro um sorriso com a ideia.
-Também reparei em você -digo, e olho para Heather, que abre um sorrisinho de lado.
Caímos em um silêncio confortável. Então reparo que ela mexe as mãos em cima da pasta, parece nervosa.
-Você realmente tá bem?
-Sim -ela responde rápido -Não sei. Não gosto muito de lugares fechados.
-Ah -e agora? Talvez distraí-la ajude -Foi você que personalizou os tênis?
-Sim -ela mexe os pés, olhando a própria obra -Comprei o par especialmente pra isso.
-Você é muito talentosa -ela fica corada de novo. Fofa -Faz por encomenda?
-Adoraria, mas não tenho tempo. Trabalho de freelancer, em vários lugares. Sou designer, caso queira saber -Heather completa com uma risada suave -E ando com bastante trabalho ultimamente. Mas se te achar interessante o suficiente te dou um de presente.
Rimos juntas. Adorei a risada dela. É melodiosa.
-Espero ser digna dessa honra -falo, cruzando as pernas -Mas como vou provar ser merecedora?
A cabine se ilumina repentinamente, quase grito com o susto. Heather ri alto. O elevador começa a descer, e levantamos.
No térreo, as portas se abrem, e caminhamos juntas para a porta.
-Respondendo sua pergunta -ela olha para mim -precisarei te analisar a sério. Está livre no sábado à noite?
-Sim. Por?
-Porque vamos jantar juntas. Me manda mensagem com teu endereço que te busco -ela e estende seu cartão -Espero que você não seja a assassina da machadinha.
Rimos de novo. É fácil conversar com ela. Esse jantar vai ser interessante.
-Prometo que não vou te matar. Não no primeiro encontro -Ela fica corada de novo, então percebo o que falei. Não é um encontro -Desculpa. Eu... eu... mando mensagem.
-É... tchau, Vivi.
-Tchau, Heather.
Ela sai caminhando. Acompanho seu cor-de-rosa, dos cabelos até os tênis All Star.

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Ela -oneshot Viviheather
FanfictionVivi acabou de assinar a compra de seu apartamento, e acaba presa no elevador junto com a menina de cabelos cor-de-rosa que ela já vinha observando há um tempo. Uma oneshot de como imagino que Vivi e Heather se conheceram. Se passa no mesmo universo...