02| Um Coreano Loiro

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Caminho ao lado de Maria pelos corredores do estúdio, tagarelando sobre a apresentação. Minha irmã não é do tipo falante, então nós fazemos o par perfeito, eu falo sem parar e ela só escuta. 

Eu acho, pelo menos. 

Provavelmente ela esteja pensando em como arrumar o código para fazer seu programa finalmente rodar no computador, mas tudo bem, eu não me importo. Só dela fingir que está me escutando é válido para mim. 

— Vou procurar um banheiro, já venho — diz, já se afastando. 

— Certo! Vou estar na sala de espera! — elevo a voz, acenando um tchauzinho rápido com a mão. 

Ando em direção à sala de espera, passando por várias pessoas pelo caminho. Os bastidores do programa são bem movimentados. Tiro meu celular do bolso para olhar as horas e o guardo de volta em seguida.

São...?

Espera, eu esqueci de ver que horas são. Suspiro, irritada com minha própria burrice, e pego o aparelho novamente em meu bolso traseiro, me certificando de olhar bem para o horário marcado no visor dessa vez. 

— Ai! — deixo o celular cair com o impacto da batida — Me desculp-

— Woah! Me desculpa! — o garoto diz apressadamente, sua fala soando um tanto desesperada — Você tá bem?!

Levanto as sobrancelhas, surpresa com sua reação. Reparo no garoto, ele é mais alto que eu e tem olhos bem puxadinhos, imagino que seja descentente de asiáticos. Seus cabelos loiros se encontram um pouco bagunçados pelo esbarrão e uma expressão exasperada toma conta de seu rosto. 

— Não se preocupa, eu tô bem — respondo gentilmente. — Me desculpa também, tava olhando pro celular e não te vi. Você se machucou? 

— Ah, não, eu estou bem — ele se agacha, pegando meu telefone do chão e me entregando-o em seguida. — Mas não sei se posso dizer o mesmo do seu celular... 

— Ah... — olho para a tela do aparelho, estava completamente arruinada. — Acidentes acontecem, tá tudo bem. 

— Eu vou pagar — diz rapidamente. — Digo, o conserto. Vou pagar por ele. 

— Se eu fosse uma pessoa má eu te deixaria pagar — brinco. — Mas sério, não precisa, meu celular tem seguro. 

Sorrio amistosamente para o garoto.
Ele ficou tão assustado quando viu o celular quebrado no chão, parecia até uma criança que fez algo errado e estava só esperando sua mãe chegar do trabalho para ficar de castigo. 

— Tem certeza? — pergunta, e eu aceno com a cabeça. 

— Christopher Bang? Você é o próximo — um dos produtores do programa se aproxima. — Vamos?

O loiro me olha, antes de seguir o rapaz. 

— Então me deixa retribuir de outra forma — estende seu celular, pedindo que eu anote o meu número e eu assinto. 

Já que ele quer tanto retribuir, eu que não vou ser a chata que recusa gentilezas. 

— Certo — entrego o telefone de volta para ele. — Se eu demorar pra responder suas mensagens, você sabe o motivo — rio, mostrando a tela toda espatifada novamente. — Ah, quase esqueci. Boa sorte na sua apresentação! 

Ele se afasta enquanto ri da minha "piada", caminhando de costas, sem desviar o olhar de mim. Aceno com a mão, sorrindo amigável. 

— Hey, Maya! — diz, elevando a voz, me fazendo olhar surpresa por ele saber meu nome — Vi sua apresentação na TV da sala de espera, você foi incrível! 

Agradeço, um pouco envergonhada, sentindo minhas bochechas esquentarem com o elogio, enquanto Christopher some por entre os corredores. 

Caminho apressada para chegar na sala de espera. Confesso que estou curiosa para ver a apresentação do garoto que esbarrou em mim.

O cômodo estava relativamente vazio, fui uma das últimas do dia a cantar, então não havia mais muitos competidores ou acompanhantes por ali. Sento no sofá branco, acompanhando a gravação do programa transmitida na grande TV. Alguns segundos depois, o loiro aparece na imagem, subindo os degraus do palco, o microfone bem seguro em sua mão direita. Diferente de mim, ele não parecia nada nervoso. Imagino que esteja confiante sobre seu próprio talento. 

Queria me sentir confiante em relação a algo na minha vida. 

A música começa a tocar. De cara reconheço a melodia mais que familiar da canção. É I'm Yours do Jason Mraz. 

A voz do garoto surge e, na primeira nota cantada por ele, sinto meu corpo inteiro se arrepiar. Sua voz é linda e doce, quase como um carinho para os ouvidos, o timbre suave e encantador me fazendo imaginar que, se anjos existem, certamente têm uma voz igual a dele. 

Ouço o som particular do botão da primeira cadeira sendo pressionado. Logo após ele, os outros três igualmente. Não tinha nem como ser diferente, a voz de Christopher é simplesmente maravilhosa. 

Sinto uma pontinha de ciúmes ao ver que a Ivete virou para ele. 

Aprecio o restante da apresentação, observando o semblante alegre do garoto na tela. Sorrio involuntariamente, me sentindo feliz por ele ter virado todas as cadeiras. 

— Por que todos os corredores daqui são iguais? — Maria diz, se esparramando no sofá ao meu lado — Quase não consigo voltar. 

— Não me diga que esqueceu de fazer o rastro de migalha de pão?! - zombo. 

— Sério? João e Maria? Suas piadas já foram melhores — ela revira os olhos, rindo sarcástica. 

Maria detesta seu nome, mas eu adoro. É ótimo provocá-la com piadas idiotas sobre isso e vê-la revirar os olhos todas as vezes. Tenho certeza que no fundo ela acha pelo menos um pouquinho engraçado. 

Me ajeito no sofá, passando a mão pelos cabelos. 

— Maya! O que foi isso?! — pergunta alterada, olhando para minhas pernas. 

Me assusto, olhando para baixo instantaneamente. 

— Ah, isso...? Você me assustou — olho para o celular que estava em cima de minhas pernas. — É, meu celular novinho, parece que já era. 

— O que aconteceu? 

— Aquele garoto ali — aponto para a televisão, onde Christopher conversava com os técnicos. — Nos esbarramos e eu deixei cair. 

— E agora? — questiona, pegando o telefone nas mãos para ver o estrago mais de perto — Você acabou de comprar!

— Eu sei... péssima hora pra eu ter me demitido — comento baixo. — Todo dinheiro que guardei vai embora no conserto. 

— O coreano devia pagar — aponta com a cabeça para a TV. 

— Não. E eu disse a ele que o celular tem seguro — cruzo as pernas. — Mas espera, como sabe que ele é coreano? 

— Não é tão difícil identificar — ela me lança um olhar de desprezo. 

— Esqueci que nerd sabe tudo — retruco. 

Volto minha atenção para a televisão, Christopher já desceu do palco e eu não vi o Time que ele escolheu. 

Droga. 

Agora vou ter que aguentar a curiosidade martelando na minha cabeça até o próximo dia de gravação.

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora