Durante os últimos mil anos, toda a humanidade esteve sob a mira dos deuses. Com constantes guerras, massacres e destruição, todos os dias os humanos se provaram cada vez menos merecedores do dom da vida aos olhos dos seres superiores. Hoje, no grande conselho de deuses do Valhalla, a discussão que decidirá se a humanidade deve ou não continuar a existir, acontece.
— Silêncio! — Proclama um homem velho e barbudo. Sua aparência decadente somadas a sua voz murcha e rouca dizem muito sobre sua idade. — Como o último tópico da nossa discussão de hoje, temos a humanidade! No grande conselho de mil anos atrás, decidimos que eles deveriam continuar a existir, mas e agora?! Vamos fazer uma votação. Todos aqueles a favor da destruição imediata dos humanos, levantem suas mãos!
Com o término da fala do velho no centro do salão oval, todos os deuses ali presentes, sem exceção, levantaram suas mãos. A multidão vasta que misturava criaturas míticas e nomes famosos gritavam suas reclamações sobre a raça inferior humana, proclamando motivos atrás de motivos e atropelando uns aos outros enquanto falam o por que aquelas criaturas nojentas que destroem a Terra dia após dia não merecem continuar vivendo. Depois de alguns segundos de baderna e barulho generalizado, o velho sentado no centro de todos bateu seu martelo de juiz em sua mesa, calando a todos imediatamente. Com uma rápida avaliação dos arredores, ele continuou a falar.
— Novecentos e noventa e nove votos a favor de extinguir a humanidade. Agora, apenas por burocracia, alguém aqui vota a favor da raça humana continuar existindo? — Ninguém ali ousou abrir a boca, e nem sequer queriam fazer isso. Para qualquer um ali, ter o mínimo de apreço pela raça humana era considerado um absurdo. — Certo. Então está decidido. Com novecentos e noventa e nove votos a zero, eu, Zeus, proclamo aqui e agora que por voto majoritário, a humanidade foi sentenciada à EXTINÇÃO.
O velho se preparou e ergueu seu pequeno martelo de madeira, já pronto para batê-lo em sua mesa e tornar oficial tudo aquilo que foi dito durante o comitê, porém, antes que pudesse fazê-lo, outra coisa ali chamou a atenção de todos. As grandes portas do salão oval foram abertas bruscamente por um pontapé, atraindo os olhares de todos os deuses e criaturas dali para ela. Uma figura feminina surgiu da escuridão, carregando consigo um ar de inspiração e ousadia. Ninguém ali entendia direito o que estava acontecendo, mas em pouco tempo algumas das figuras ali acabaram a reconhecendo, e todos os que o fizeram, criaram um olhar de raiva e desprezo em suas faces. A mulher deu alguns passos à frente, ergueu seu braço direito e apontou afrontosamente para o homem sentado na mesa principal, aquele à frente de todos os outros deuses.
— Um momento, vossa excelência! — A Valkíria proclamou. — Já que irão mesmo extinguir a humanidade, tenho uma proposta a fazer!
Zeus, por mais que nitidamente estivesse se sentindo enfurecido com a intromissão da mísera Valkíria na reunião do Valhalla, deu espaço de fala para a mulher, curioso sobre o que poderia ser tão importante a ponto dela decidir tomar tal atitude.
— Eu não vim aqui dizer para não fazerem isso. Nos últimos tempos, a humanidade se mostrou cada vez menos digna de misericórdia... — A pausa na fala da valkíria serviu de espaço apenas para um enorme e folgado sorriso surgir em seu rosto. — Mas se vão mesmo fazer isso, que seja de maneira justa, dando uma chance aos humanos de provarem seu valor!
Do topo das escadas, a mulher arremessou um pergaminho empoeirado até as mãos do velho. Ele o agarrou, abriu e, lendo somente o título, chegou a desabar de sua cadeira de tanto rir. A risada durou por muito tempo, foram constrangedores longos minutos de pura gargalhada de um homem tão velho que estava gerando poeira em sua cabeça. Quando ele finalmente acabou de rir, respondeu a mulher com a voz ainda risonha e surpresa.
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Ragnarok
ActionUma releitura da obra Shuumatsu no Valkirye com personagens e roteiros de luta novos.