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Gaivs Caecilivs Octavianvs saúda Lucivs Iulivs 

[I]  Tu me pedes que seja contada a história do reinado de meu pai, o Imperador Cassius Octavianus. A verdade, meu caro Lucius, é que não sei ao certo como os fatos se desenrolaram. Minha memória de seu tempo como imperador é bastante vaga, e portanto não confiável. Tudo o que sei é que, após um reinado turbulento e polêmico, meu pai foi morto por sua guarda. 

[II]  O falecimento de meu pai foi a causa de meu exílio. A guarda que o  matou estava ávida por mais sangue. Assim, nas semanas que se seguiram à morte de meu pai, os membros da guarda se dedicaram a matar todos os membros da família imperial que pudessem encontrar. Além da guarda, quem também estava por trás de tudo era o senado, que meu pai havia tentado rebaixar durante seu governo. Conforme me contaram, durante esse sombrio período, os deuses foram gentis o suficiente para me deixarem viver, mas ainda assim, cruéis o suficiente para permitirem as mortes de meus tios, tias, mãe e outros parentes. 

[III]  Logo após o falecimento de minha mãe, fui trazido em segurança para esta ilha, onde vivo até hoje, em uma bela villa, com escravos à minha disposição. Os habitantes da ilha na qual habito a chamam de Ruomamni. É um local calmo, com pessoas trabalhadoras e gentis. A vida aqui é bastante simples, e o exílio não é nem de longe tão doloroso quanto pensam as pessoas comuns. Não sofro muito com o fato de ser um exilado, ou com o fato de que meus parentes mais próximos estão mortos. A população de Ruomamni não me incomoda. Pelo visto, não sabem que sou filho de Cassius, o Imperador Louco. 

[IV]  Isso é tudo, Lucius. Te darei liberdade para que seleciones o mais importante. Apenas te peço que não menciones a minha localização ou o fato de que estou vivo. Os deuses sabem do que o senado e o atual imperador são capazes. Também desejo que os deuses o auxiliem na escrita de teu livro sobre meu pai. Adeus. 

Epistula (conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora