Stereo Hearts

Capítulo 1 - Recomeços

O chacoalhar da caminhada floresta a dentro fez o vampiro nos braços de JungKook adormecer de cansaço, ainda sentindo as sequelas de sua quase morte... ah, JungKook não gostava nem de pensar. Relembrar trazia a dor de volta, parecia rachar o coração brevemente cicatrizado.

Não, melhor esquecer, focar-se nele em seus braços, protegido.

Parecendo reter sua atenção, Jimin suspirou longamente, aconchegando-se ao peito lupino como se fosse habitual aquela troca mutua de conforto e carinho. O Jeon bem sabia que não era o mais delicado dos imprintings e reconhecia o erro. Trataria melhor sua alma-gêmea de agora em diante. Não esperaria outra tragédia vir para finalmente seguir seu coração sem pensar em mais nada.

Beijou os cabelos tão negros quanto a noite, sentindo o cheiro maravilhoso que deles exalava. Seu lobo, escondido dentro de si, arranhando para sair, não fazia com que seu nariz coçasse pela essência doce de vampiro mesmo com a lua cheia brilhando altiva no céu. Na verdade, até mostrava certo apresso pelo perfume, acalmando-se um pouco ao senti-lo tão perto, aliviado.

A energia que corria como uma descarga elétrica entre os corpos era nova para si, como se estivesse tão profundamente ligado a Jimin que conseguia sentir a fluidez da magia dos dois se tornando uma. A pele de seu antebraço repuxou numa dorzinha chata quando ajeitou seu vampiro nos braços, ainda não dera tempo para seu corpo se recuperar por completo. O Park espelhou sua careta em trejeitos mais leves e coçou o próprio braço, bem onde a marca do corte estaria em JungKook. Seria aquela uma sequela da magia que o salvara? Um sentir a dor do outro? Porque o Jeon desconfiava e muito das dores em seu corpo. Tinha certeza que não eram suas.

O lobo avistou a vila silenciosa e suspirou, agradecendo à Hécate por terem conseguido sair daquela enrascada, por poder ir pra casa com seu lar nos braços. Sabia que ainda teriam uma discussão enorme pelo que havia acontecido, pelo imprinting escondido, pela decisão de sair da matilha e seguir seu Jimin, mas não tinha medo algum, nem sequer o mínimo receio. Aquela madrugada parecia ter sido o divisor de águas na vida do lobo, como se houvesse um Antes do rito de sangue e Depois do rito de sangue. Não era mais o garotinho Jeon e se precisasse ser sua própria matilha para conseguir viver com seu vampiro, então ele seria.

—Onde estamos? - Murmurinhou o vampiro. JungKook não sabia se ele estava acordado ou dormindo pelos olhos fechadinhos e os suspiros delicados. Concluiu então que ele estava em algum estado entre os dois. Faltava pouco para amanhecer e JungKook não sabia até quando a luz do sol machucaria seu vampiro. Era um desleixado como imprinting, assumia, pois não tinha conhecimento nenhum da magia que possibilitava Jimin de andar na luz sem ter o corpo queimado.

—Chegando na minha casa, amor.

A feição relaxada se repuxou em uma careta descontente. O narizinho de botão franzido, confuso entre o cheiro de lobisomem estranho, giz de cera, amaciante barato e o aroma de JungKook perto.

—Sua casa? Mas, meu cheiro... sua matilha vai...

—Não ligue para eles, ficará seguro em meu quarto. Estarei com você em todo momento, ninguém se atreverá a te machucar. Confie em mim, meu bem.

—Você me mandou embora aquela vez... pela matilha... - A expressão voltou para a calma sonolenta. JungKook considerou que ele não estava tão no mundo dos sonhos assim e se preocupou pelo cansaço que ele exalava. Ainda não estava bem.

—Não foi pela matilha, Jimin, ainda precisamos conversar devidamente sobre isso. Pare de falar agora, não se esforce, estamos chegando.

—Não posso dormir, tenho minhas obrigações com meus familiares... meu clã... os que restaram estão sem abrigo... preciso... preciso... - Gemeu dolorido ao se mexer, buscando se soltar. Uma pontada incomoda se espalhou por sua lombar, sutil o suficiente para que o lobo soubesse ser um espelho da dor de Jimin. Provavelmente, onde a estaca se alojara. Apertou o passo, já vendo sua mãe preocupada do lado de fora, andando de um lado para outro, mesmo que não fosse seguro para uma humana. Jimin precisava de conforto e, talvez, se alimentar um pouco. Não se importava de servir de bolsa de sangue, apesar de sentir um certo medinho.