32: Ao meu lado na cama

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Algo em torno de mil e quinhentos dias.

Quase cinco anos.

— Esse... É Áster bem ali?

Sua aparência tinha sido mantida em segredo, e seus motivos eram óbvios.

Salomão era um Magnata, e se quisesse tê—lo como alvo assim como esse homem foi contra Elói que era o próprio filho, os primeiros aspectos que o denunciariam seriam seus cabelos, seus olhos. Segundo, seu último encontro com Santiago foi carregado de ódio, vindo de ambas as partes. E ele melhor que ninguém saberia reconhecer Áster, porque esteve esmiuçando detalhes de seu corpo enquanto abusava da integridade de uma criança para o que quer que estivesse fazendo em função de seus próprios interesses.

Por isso o de cabelos longos ignorou Jânio completamente, se concentrando em se manter como estava, afinal seus esforços foram jogados ao vento, e tentar recuperá—los só o tornaria mais suspeito; não podia mais se dar ao luxo de ser tão descuidado, esse foi o maior ápice que poderia alcançar.

Sua expressão raivosa reservada para Jânio se dissolveu, enquanto ele tentava organizar seus pensamentos confusos ouviu as portas do trem se abrindo, e apertando os olhos se amaldiçoava por dentro.

— Áster... — Quimera chamou quando ele tentou passar pelo grupo, mas seus olhos não se voltaram para ela, e sim para a xícara vermelha que Narciso aparentemente tinha acabado de deixar quebrar, caída no chão.

Esforços jogados no lixo, o que ele deveria fazer agora?

— Ei! Eu tô falando com você, branquelo! — Jânio ainda gritou a alguns passos deles, e o de cabelos longos suspirou, fechando os olhos para que pudesse revirá-los, antes de olhar por cima do ombro para baixo.

— E eu terminei essa conversa. Desça logo, vá ficar debaixo da saia da Abigail e me deixe em paz. Quer os brinquedos que ela mesma deixou aqui? Leve nas costas.

🎪

Ao contrário do dia anterior, o sol já nasceu forte naquela manhã de verão, e antes mesmo das nove já fazia bastante calor. Os vidros brilhavam reluzindo as faixas de luz, e os brinquedos de metal pingavam o restante da chuva da madrugada, secando rapidamente com a temperatura alta.

Na mesa de café da manhã, algumas pessoas estavam agindo estranhamente, mas Dálio já tinha disparado uma série de perguntas e comentários sobre os últimos acontecimentos, o que acabava fazendo com que Jade e Quimera falassem alguma coisa, fosse sobre o cabelo de Áster, fosse sobre Jânio, os brinquedos, Abigail ou Emília, até que às nove ouvissem algo do espaço ao lado.

Aquela pessoa albina ainda tinha uma das mãos na porta do vagão amarelo, e sentiu os quatro pares de olhos em sua direção, e um murmúrio de "uah" vindo do ruivo.

Seus passos descalços acabaram sendo um tanto quanto robóticos até a mesa, e os olhos baixos evitando encarar os amigos deixava claro que postura e pompa estavam completamente prejudicadas ao ocupar seu lugar.

Mas ele parecia estar dando seu melhor, derramando água quente em sua xícara com a mesma calmaria velada.

— Ei — Quimera resolveu cumprimentar, lhe lançando um sorriso. Os olhos castanhos se ergueram na direção dela por apenas um momento. Os outros quatro se entreolharam na mesa, talvez três, porque Narciso parecia focado em seu próprio prato e apenas isso. Então ela continuou — Eu realmente gostei do seu cabelo. Como se sente assim?

Áster olhou para frente encontrando Jade, e então resolveu olhar para cima, fingindo ou realmente pensando, antes de enumerar.

— Nu. Sem sal. Desconfortável.

A Queda de ÁsterOnde histórias criam vida. Descubra agora