All To You - Serie Paradise City - Livro 1.5

Capítulo Único

Kieran

Quando tudo o que nos resta é esperar, esse é o momento que sentimos que, por mais que tentemos, não temos o controle sobre tudo. Que por mais que façamos as coisas certas, em algum momento alguma coisa sairá do controle. Só que é impossível nos prepararmos pra esses momentos. Por que eles chegam no momento mais inesperado possível.

Eu fiz tudo que estava ao meu alcance. Abri mão de muitas coisas para ser capaz de estar sempre lá quando fosse necessário. Entretanto, sentado nesse corredor de hospital, não me resta nada mais a fazer, a não ser esperar.

Assim que portas se fecharam, e eu vi a médica de Aimee, e algumas enfermeiras cercando a cama onde ela estava deitada, eu soube que precisaria manter a calma.

Nós dois planejamos por meses e fizemos tudo o que foi necessários para que eu acompanhasse Aimee durante o parto. Queríamos isso. Ela queria que eu fosse o primeiro a ver o rosto do nosso bebê. Mas como eu disse, em algum momento as coisas fogem ao nosso controle.

Eles não me deixaram ir com ela. O motivo? Aimee teve um aumento súbito de pressão. Eles chamaram de pré-eclâmpsia. O mais estranho é que Aimee nunca teve problemas com sua pressão arterial. Porém, segundo a Dr. Johnson, isso pode acontecer com qualquer pessoa e não se sabe exatamente as causas. Ela tentou me acalmar, dizendo que faria todo possível para que os dois, Aimee e o nosso bebê, saíssem bem dessa. Só que ela não sabia do meu passado, e que eu já tinha visto de perto o que acontecia quando não se conseguia "sair bem dessa".

Eu me sinto entorpecido com a dor e o medo. Minha vida e a promessa de um futuro haviam acabado de adentrar aquelas portas. Fico apavorado de pensar que alguma coisa ruim possa acontecer com as duas pessoas que eu mais amava.

"Kieran você precisa manter a calma, e não pensar em nada negativo." Eu repetia sem parar, até que minha mente finalmente conseguisse absorver isso. Eu tinha que esperar aqui. Foi tudo o que a Dr. Johnson havia dito.

Aimee estava desacordada quando a levaram. Não consegui ver seu sorriso perfeito, me garantindo que tudo sairia bem, como ela sempre fazia. Nem mesmo o estreitar dos seus olhos azuis, que acontecia quando ela estava feliz. Aquele seria o melhor momento das nossas vidas, quando finalmente veríamos todo o nosso amor estampado em um pequeno rostinho.

Já havia duas horas desde que levaram minha garota lá pra dentro, e até agora eu não sabia nada. Nada, exceto que todos os meus pensamentos e meu coração estavam com Aimee.

Memórias flutuam em minha mente, me aquecendo em meio ao frio que o temor me faz sentir.

Comecei a recordar o dia em que Aimee disse as palavras que fizeram que meu coração explodir dentro do peito, ou quase isso, de tanta felicidade.

***

Eu estava nervoso. Já havia ensaiado o que diria diversas vezes. Pensei em fazer isso grande, mas depois de conversar com Josh, decidi que simples tinha mais a ver com a gente.

Aimee estava em meu antigo quarto -que passou a ser nosso- quando entrei. Eu podia ouvi-la lá dentro. Depois do casamento de Josh, aquele dia em que nós finalmente decidimos que nada nunca mais iria nos separar, eu a trouxe pra morar comigo. E ela não teve outra alternativa. Era isso ou eu me mudaria para o pequeno quarto no prédio de alunos onde ela morava.

Eu estava andando pela sala, de um lado para o outro, pensando e repetindo as palavras que diria a Aimee, e como pediria que ela finalmente se tornasse a Sra. Powell.

Fui até lá, e abri a porta sem bater, pois eu queria surpreende-la. Mas eu fiquei estagnado com a mão na maçaneta, quando Aimee ergueu rapidamente a cabeça, assustada. Ela estava sentada na cama, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos. Tinha algo em sua mão, mas eu não prestei atenção a principio, ela foi totalmente atraída para seu rosto. Seus olhos estavam vermelhos e marejados, e sua pele havia perdido um pouco a cor. Alguma coisa estava errada. Em milésimos de segundos comecei a imaginar o que eu poderia ter feito. Eu estava tentando fazer tudo certo dessa vez, mas obviamente eu havia deixado escapar alguma coisa.