Ainda sentia seus dedos quentes em contato com minha pele pálida...
Mesmo agora, horas depois e deitado sem qualquer sinal de sono naquela cama dura de enfermaria, eu ainda sentia seu toque...
Quando aquela maldita miniatura de Sol me convenceu a passar três dias naquela enfermaria eu não havia parado para pensar que em algum momento aquilo aconteceria.
"Tire sua blusa" suas palavras, apesar de já passadas, estavam quentes na minha memória. Seu tom não havia qualquer conotação a mais, era somente um médico tentando fazer seu trabalho.
"O-o que?" Perguntei em completa confusão e desespero enquanto escutava o loiro fechar a cortina ao redor da cama hospitalar. Chiiiiiiii. Aquele barulho parecia infinito em minha mente enquanto pensava em todos os cenários que poderiam acontecer naquele momento.
"Sua blusa. Sei que ela provavelmente está grudada ao seu corpo e que você parece amar essas caveiras estampadas, mas ainda assim eu preciso fazer meu trabalho e cuidar dos machucados nas suas costas. E não me diga que não tem, pois você não consegue mentir pra mim." Enquanto ele fazia seu monólogo bem humorado, as palavras pareciam distantes para mim.
Perguntas passavam rapidamente pela minha cabeça... Qual a última vez que tomei banho? Quantas cicatrizes devo ter? Será que estou magro demais? Machucado demais? Feio demais? O que ele pensará sobre mim? Sentirá nojo?
Apesar de usar poucas palavras ao falar, minha mente parecia um labirinto feito de dicionários. Veja o que aquele garoto faz comigo.
Respirei fundo e senti meus lábios secos tremerem enquanto levava minhas mãos magras até a barra de minha camiseta. Pare Nico, você está sendo ridículo. Eu repetia sem parar na esperança de controlar minha respiração e tremedeira enquanto lentamente me despia.
Apesar de estar de costas para o loiro, com o olhar vidrado na paisagem do acampamento meio-sangue pela janela, eu conseguia sentir seu olhar azul como o céu percorrendo minhas costas como fogo.
Ouvi seus passos se aproximarem de mim com o ranger do chão de madeira polida. Perto... Perto... Perto... Apesar do outro ainda não ter encostado em mim, eu nunca havia sentido alguém tão próximo.
No momento em que a ponta de seu dedo indicador tocou uma de minhas cicatrizes, logo abaixo da quarta vértebra, eu senti meu mundo virar de cabeça para baixo. Não da forma que eu sentiaquando viajava nas sombras, mas quando eu saia delas. Eu nunca havia me sentido tão vivo, o que era estranho para um filho da morte.
Minha boca se abriu involuntariamente e eu senti todos os pêlos do meu corpo se arrepiarem quanto mais seu corpo se encontrava ao meu. Foi a melhor sensação que eu senti desde que a minha irmã fez a passagem para o submundo, mas mesmo assim uma parte do meu cérebro se esforçava em me deixar para baixo com tudo aquilo.
Como você não sente vergonha, Di Angelo? Não sente vergonha de ficar feliz com o toque de um homem? Não sente vergonha de querer sentir mais? De querer segurar sua mão grande, calosa e quente? De querer contar aquelas sardas como contava as estrelas na Itália tantas décadas antes? Que o tártaro o queime por ansiar tanto o toque daqueles lábios rosados, Di Angelo.
Eram tantos pensamento conturbados que minha única reação ao sentir aqueles dedos percorrerem pelas minhas vértebras marcadas como se fossem montanhas foi sugar a vida daquela pobre flor de Jacinto que jazia no vaso da janela.
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Pineliés (one-shot Solangeo)
FanfictionNico Di Angelo nunca foi fã de contato físico, até aparecer um filho de Apolo que virou seus sentimentos de cabeça para baixo. (Os personagens e universo não são meus)