Me leve para casa

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So one last time
I need to be the one who takes you home
One more time
I promise after that, I'll let you go

.

Yui não queria fazer aquilo mais uma vez. Achou que tudo estivesse resolvido, mas a clara tensão entre os dois lhe causava uma pressão desconfortável no peito. Por mais que tentasse resistir, o olhar de filhote perdido de Oikawa lhe causava um efeito inquietante, sufocante. Seu sorriso era demais, seu perfume era demais, ele era demais. Ela não sabia explicar o que aquilo significava e não gostaria de saber. Não gostava de sentir-se tão vulnerável perto dele, não gostava daquelas sensações. Suas mãos tremiam e os cabelos invadindo o rosto lhe irritavam.

O sol desaparecia no horizonte, brilhando em dourado e laranja, pintando o céu com cores quentes. Era um belo fim de tarde.

— Então? — ele se aproximou, sorrindo como uma criança.

Tudo era tão familiar, o perfume, os olhos, as sensações. Ela suspirou e cruzou os braços enquanto organizava os pensamentos. Aquela situação era tão confusa. Yui não sabia o que dizer, o que era certo sentir. Era difícil lidar com tudo o que vinha acontecendo desde sua transferência. Tantas experiências e pessoas novas lhe deixaram alheia aos problemas – ao problema, mesmo que ela estivesse convicta de que não eram mais problemas.

Ela respirou fundo, o ar fresco da tarde e o perfume do ex-namorado lhe fizeram estremecer. Reencontrar Oikawa reacendeu algo dentro de si que ela preferia apagar, ignorar, tanto pelos desastres anteriores quanto pelos novos momentos descontraídos que vivia na Karasuno.

Ela soltou o ar, lentamente, os raios dourados iluminando-lhe o rosto. O gosto do passado na boca, memórias que ela já havia enterrado voltando a vida. Caso não tivesse se transferido, Yui  voltaria atrás. Os olhos castanhos de Oikawa brilhavam num tom acobreado, seu sorriso era branco e tenro. A lembrança de seu calor a abraçou, confortando-a e fazendo seu coração doer. Os momentos eram doces, tinham gosto de néctar. Como ela deveria resistir a aquilo?

 Mas Yui não queria voltar atrás e a razão estava mais clara do que ela gostaria.

— Tooru... — ela murmurou. — Por favor, nós já conversamos sobre isso.

— Uma segunda chance — ele disse e alisou a bochecha da garota com o polegar. — É a única coisa que eu peço, por favor, só mais uma chance.

— Você sabe que não podemos — ela virou o rosto, sentiu algo quente e molhado nos olhos. — Eu não posso mais, Tooru. Não depois de tudo o que aconteceu. Sua cabeça está nos jogos e isso não é um problema, mas eu precisava de você. Tentei te dar todo o apoio possível e ser compreensiva, mas você parecia dar mais atenção as suas fãs do que a mim.

Num gesto rápido, mas gentil, ele inclinou-se, colando sua testa com a dela. Ele soltou o ar pelo nariz como se fosse uma tarefa extremamente dolorosa. Os olhos fecharam-se, ele aproveitava o aroma intoxicante que ela nem imaginava que tinha. Oikawa Tooru nunca imaginou sentir   tantas saudade de alguém como sentia de Yui. Havia sido imaturo e descuidado com algo que ele percebeu, tarde demais, ser tão precioso para ele. A perdera num piscar de olhos. Não ouvi-la gritar seu nome na quadra era doloroso e amargo, mas ouvi-la torcer para seu adversário, o seu maior rival, era pior. Muito pior. Talvez estivesse sendo castigado por ser um namorado tão negligente. Ela não sabia, não compreendia, mas também não desejava compreender.

O vento soprou fresco, o céu tornava-se um laranja vívido, lentamente dando lugar a um azul abissal.

Yui sentia-se mal por magoá-lo, mas ela fazia aquilo por si mesma, reunindo toda a sua coragem e o que lhe restava da dignidade. O que sentia por Oikawa não sumiria tão fácil, ela mesma não gostaria que fosse, mas o garoto era ocupado demais com a escola, o vôlei e ela não suportava o atrevimento de algumas fãs. Achou que poderia, mas descobriu que não conseguia lidar com tudo aquilo. Ele era especial, seus momentos foram especiais, mas ela precisava se afastar porque aquilo a machucava. Não fazia sentindo tentar se encaixar onde não havia espaço para ela. E ela havia encontrado isso na Karasuno. Mais que um espaço, era algo que ela queria explorar.

— Por favor, Yui — ele a abraçou e ela achou que fosse quebrar em mil pedaços. — Não é a mesma coisa sem você. Eu te-

— Eu não te amo mais, Oikawa.

Por um momento o tempo pareceu não existir. Os carros pararam de buzinar, os pássaros não cantaram mais, tudo ficou mudo. O último brilho dourado perdeu a cor, o céu tornou-se cinza assim como tudo ao redor. Apenas os dois existiam, alheios a qualquer evento externo, como se estivessem presos num loop entre o vazio e o desconforto. Algo partiu-se e talvez jamais pudesse ser consertado. Nenhum dos dois conseguia respirar.

Yui se afastou. Os olhos embaçados e quentes, as bochechas ardiam e molhavam-se com as lágrimas que insistiam em cair. As mãos tremiam, sentiu uma pressão no peito que ela achou infinita. A garota fungou, tentou secar as lágrimas, mas não conseguia fazê-las parar. Escondeu o rosto de vergonha.

Oikawa sorriu de modo triste, mas não conseguiu tirar os olhos de Yui. Ele a achou a coisa mais linda do mundo. Havia perdido a coisa mais linda do mundo. Jamais voltaria a chamá-la de sua. Seu peito também doía, meio sufocado, uma sensação estranha, como se tivesse dado mil voltas na quadra. Um gosto amargo preencheu seus lábios e ele aproximou-se mais uma vez, afastando as pequenas mãos, tão macias, do rosto da garota. Ele não resistiu e beijou a testa da garota, tentando acalmá-la. Queria abraçá-la, mas se conteve.

— Não chore quando estiver terminando comigo de novo, idiota — ele disse, a voz quase falhando. — Vamos, eu vou te levar pra casa pela última vez.

Yui engoliu o choro, soluçando como uma criança. Limpou as lágrimas com as mangas do uniforme e encarou os olhos castanhos de filhote perdido. Eles deram as mãos pela última vez e caminharam. Ela não tinha certeza de onde tudo aquilo surgira, mas, mesmo que não acreditasse muito, iria passar.

O último raio de sol tocou o mundo e o céu escureceu.

Me leve para casaOnde histórias criam vida. Descubra agora