Personagens entram com um cartaz escrito "FILHO DO MAR" e colam no mural de giz.
Glória entra vestida de luto.
Glória: Por Deus, justo Escobar que sempre nadou tão bem? Parecia filho de peixe de tanto que nadava. Mas a chuva foi muito forte, senhora. Todo mundo sabe que quando é assim, melhor não nadar. Escobar nadava tão bem que nenhuma onda o levava para longe. Forte como um touro, o mar nunca foi capaz de levá-lo. Até agora.
Bentinho entra.
Glória: Meu filho, a desgraça recaiu sobre nós. Escobar, meu filho. Foi levado pelo mar na chuva de ontem, a ressaca do mar devolveu o corpo hoje cedo para a praia.
Bentinho: Não é possível, não é possível! Ontem mesmo conversei com ele em meu escritório pela manhã. E Escobar nada tão bem, como um filho do mar!
Glória: E é mesmo um filho do mar, meu filho. E o mar o levou de volta, por respeito a ressaca trouxe o corpo para que pudéssemos velar.
Bentinho chora.
Capitu entra.
Capitu: O que está acontecendo nesta casa? Acabei de fazer o Ezequiel dormir e precisamos de silêncio.
Glória: É Escobar, pequena. Escobar morreu de afogamento na noite passada. O corpo estava na praia essa manhã.
Capitu: Como? Como pode ser? Não, não. Não acredito que isso possa acontecer! Escobar é o melhor nadador desse mundo! Escobar não pode estar morto.
Encaminha-se e Bentinho abraça. Capitu chora copiosamente e a expressão de Bentinho vai mudando para resignação e ciúme.
Capitu: Como pode Deus levar para si o anjo mais puro desta terra? Que fosse eu, que fosse eu levada pelo mar, mas Escobar não merecia.
Bentinho solta Capitu e vai para o canto do palco, Glória abraça a moça e Bentinho olha sempre desconfiado.
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Escobar - Uma história sobre ciúme, olhos e mar
RomantizmPeça teatral livremente inspirada na obra de Machado de Assis, Dom Casmurro, de 1899. Nesta releitura em forma de roteiro para teatro, o ciúme, os embates familiares e a dúvida de Bento Santiago são embalados pelo mar para mostrar o quão destrutiva...