Cena 12 - Dom Casmurro

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Personagens entram com um cartaz escrito "DOM CASMURRO" e colam no mural de giz.

Barulho de criança pela casa. Bentinho já transformado em Casmurro. Capitu mantém-se bonita.

Bentinho: Esse moleque não tem paz, não? Não para um minuto.

Capitu: Assim como nós éramos.

Bentinho: Eu não era assim. Sempre fui calmo, acanhado. Ele puxou teu gênio.

Capitu: É uma criança, Bento.

O vendedor de flores passa na frente e oferece a Capitu, ela sorri e nega.

Bentinho: Carecia arreganhar esse sorriso, Capitu?

Capitu: E eu deveria negar sorrisos agora?

Casmurro levanta e vai até Capitu.

Bentinho: Como pode? O tempo passa e você continua bonita.

Capitu afasta o rosto das mãos de Casmurro.

Capitu: Eu queria poder dizer o mesmo. Mas está sempre tão preso em suas casmurrices que sequer um sol você toma. Está pálido, triste e arcado.

Bentinho: Capitu, tua presença que me acaba. A sua e a do moleque.

Capitu: Ezequiel.

Bentinho: Nome de falecido.

Capitu: Você escolheu.

Bentinho: Que tolo eu fui, não é.

Capitu: Bento, chega disso, Pelo amor de Deus, você está nos acabando. Já não dorme mais comigo há tantos anos, o menino está crescendo sem seu carinho, Bento.

Bentinho: Eu me reviro de ver vocês. Quero que vão pra Europa. Vá esbanjar sua mocidade para longe de mim. Leve esse moleque filho do mar, leve sua malícia e sua maldade. Leve esses olhos que matam e devolvem os corpos à praia.

Capitu magoa-se, vai até o muro de giz e tira o cartaz "FILHO DO MAR".

Capitu: Eu vou porque não me acabo aqui. Meu livro é extenso, Bento. Você é um capítulo. Podia ter sido o mais bonito, mas foi o mais doloroso. Fique aqui você, com sua vida fraca, seu dinheiro e sua solidão. Por respeito a ti, pode apresentar-se como Dom Casmurro. Avisa a todos de seu orgulho e sua natureza desconfiada. 

Escobar - Uma história sobre ciúme, olhos e marOnde histórias criam vida. Descubra agora