Casmurro sentado com um copo de uísque. Escobar afogado entra em cena.
Bentinho: Eu sabia que viria, meu velho amigo.
Escobar: Sabia e me desejava, há muito tempo.
Bentinho: Sabia, desejava e rezava para que fosse você que viesse. E não ela.
Escobar: Não se engane, amigo. Capitu está ótima. Melhor que nós dois.
Bentinho: Isso não é difícil.
Escobar: Esse teu ciúme, Bentinho. Esse teu ciúme te destruiu. Nem todas as mulheres que você teve te fizeram ou fariam esquecer de Capitu.
Bentinho: O que eu não sei, Escobar, o que eu não sei é se Capitu sempre foi a mesma ou mudou em algum momento. Não sei se já estava dentro uma da outra, como fruta que tira a casca.
Escobar: Não tenha ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar você com a malícia que aprender de ti. As mulheres, Bentinho, são mil vezes mais espertas que nós, e Capitu, mil vezes mais esperta que qualquer outra.
Bentinho: A minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e me enganando...
Escobar: Você não aprende, Bento Santiago. Não aprende como jamais seria capaz de aprender. E agora, não lhe resta tempo.
Bentinho: Um brinde com seu velho amigo?
Escobar: Um brinde com um pobre desgraçado.
Capitu entra de fundo, dançando a passos rápidos, carregado uma fita que rodeia os dois.
Encosta a cabeça no colo de Casmurro.
Capitu: Eu tive um sonho essa noite. Sonhei que podíamos respirar embaixo da água. Mergulhávamos no mar e os peixes brincavam conosco.
Bentinho: Capitu sempre teve os sonhos mais bonitos.
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Escobar - Uma história sobre ciúme, olhos e mar
RomancePeça teatral livremente inspirada na obra de Machado de Assis, Dom Casmurro, de 1899. Nesta releitura em forma de roteiro para teatro, o ciúme, os embates familiares e a dúvida de Bento Santiago são embalados pelo mar para mostrar o quão destrutiva...