Sente seu fôlego fraco, como se a cada passo que dá mais o ar desaparece ao seu redor. O coração acelerado, como se pudesse sair pela boca a qualquer momento. Suas mãos tremem e soam frio, assim como suas pernas que parecem que não vão aguentar com seu peso. A visão turva, embaçada pelas lágrimas que se acumulam a cada segundo. Sua mente um turbilhão de pensamentos gritantes, desgastantes, sufocantes. Nem escuta nada ao seu redor, está abafado, completamente abafado, só consegue ouvir com clareza as vozes em sua mente.
- Andi! - o grito vem de longe, muito longe, pode até jurar que não passa de uma invenção de sua cabeça. - Andi!
Enquanto o exclamo pelo seu nome persiste cogita a possibilidade de ser real, mas o barulho em sua cabeça é tão alto que não a deixa pensar direito. É quando sente a mão em seu braço, a segurando e virando, que é trazida aos poucos de volta a realidade. Uma realidade distorcida e embaçada.
- Andi tá tudo bem? - reconhece a brasileira a sua frente, a encarando com olhos preocupados. - O que aconteceu?
Sente tudo piorar dentro de si, como se cada molécula de seu corpo sentisse a raiva e a irritação crescendo cada vez mais. De repente seu único desejo é explodir tudo a sua frente, socar quem estiver em seu caminho e descontar no primeiro pobre coitado que ver.
- Vou te levar pra enfermaria. - Emilia diz, tentando apoiar o braço da mexicana em seus ombros.
- Não, eu não vou pra enfermaria nenhuma. - rapidamente se desvia, dando dois passos pra trás.
- Andi você precisa ir pra enfermaria. - Alo diz com paciência mas firme, genuinamente preocupada.
- Eu preciso é do meu pod. - é o que diz respirando fundo, tentando controlar tudo dentro de si.
- Tá brincando? - Emilia a olha descrente. - Olha o estado que você tá Andi e é nisso que você pensa?
- Eu tô ótima. - força um sorriso. - Agora pode me devolver?
Emilia nega com a cabeça, encarando a mão estirada em sua direção.
- Não Andi, você precisa de ajudar médica...
- Só me dá a porra do meu pod, Emilia! - seu exclamo irritado chama a atenção dos adolescentes passando pelo corredor.
Alo a encara numa mistura de surpresa e chateação, confusa com como a Andi sorridente de dez minutos atrás se tornou isso. Hesitante tira o cigarro eletrônico do bolso e entrega para a morena com os olhos pegando fogo.
- Obrigada por nada. - diz bruta, saindo o mais rápido que pode dali.
Emilia permanece parada no meio do corredor, encarando atônita o caminho que a morena traçou, questionando se iria ou não atrás dela.
Sentido-se irritada pelas mãos tremendo enquanto tenta abrir a porta, finalmente adentra seu quarto. A porta de correr de madeira é fechada de forma bruta atrás de si, fazendo certo barulho pelo atrito das madeiras.
Praticamente corre até o segundo andar onde fica sua cama, depois de jogar tudo que tinha em mãos em qualquer canto. Bagunça novamente o que havia arrumado anteriormente, a procura dos malditos remédios que sempre somem quando ela mais precisa.
Assim que os acha o pequeno resquício de felicidade que a invade some tão rápido quanto surgiu, pensa o quanto o universo está de brincadeira com sua cara quando vê uma única pílula em meio as cartelas vazias.
Após pensar o quanto está fodida de qualquer jeito, pega a garrafa de água em sua escrivaninha e o toma, esperando que ele faça efeito na hora.
Enquanto espera tenta fazer os exercícios de controlar a respiração que está cansada de repetir, se tornando frustrada e cada vez mais irritada quando o mesmo não faz efeito nenhum em sua ansiedade.
Sente seus olhos se encherem novamente e transbordarem sem permissão. Sente o inundar dentro de si, o sufocamento, a falta de ar, o tremor, a fraqueza, os pensamentos, tudo vindo a tona com mais força.
Olha ao seu redor em busca de algo. Algo para esquecer aquilo, algo para parar aquilo, algo para acabar com aquilo...
Mas tudo parece simplesmente sumir de sua vista, sua cama, as roupas no chão, as cartelas vazias, a lâmina, o esqueiro, tudo.
As coisa parecem se tornar irreais, como se ela flutuasse em meio a bolha de ansiedade. Quando dá por si está descendo as escadas.
Gira em torno de seu próprio eixo em busca de qualquer coisa que a tire daquilo. Seus olhos pescam o pod jogado sobre o sofá e praticamente se joga em sua direção, endireitando sua postura com o cigarro já em seus lábios.
Sente a fumaça invadir sua boca, passando pela garganta até chegar nos pulmões, antes de fazer o mesmo caminho da saída. Encara a pequena fumaça pelo ar, sentindo por milésimos como se o mundo tivesse parado, antes de sentir tudo voltar mil vezes pior.
Sua irritação só aumenta quando percebe que o cigarro faz tanto efeito quanto os exercícios de respiração e os remédios.
O grito deixa profundamente sua garganta enquanto joga o pod contra a parede. O vê se despedaçar no concreto e pelo chão ao mesmo tempo que a porta se abre.
- O que é isso? Andi?!
Com o peito subindo e descendo rapidamente seus olhos caem na cacheada parada na porta, a encarando com olhos arregalados e o coração acelerado por quase ter sido atingida.
Então tudo desaba de uma vez só, todos os muros e mulharas, todas as forças e fraquezas, todo o fingimento e as máscaras. O choro é só um efeito colateral, assim como seu peito ardendo como se uma lâmina afiada o atravessasse.
- Andi!
MJ corre na direção da garota, a tomando em seus braços quando a mexicana ameaça cair ao chão, já que suas pernas não são mais capazes de suportar.
- Eu não aguento mais MJ, não aguento mais.
O choro a invade profundamente, enchendo todos os buracos e cicatrizes, toda a dor e sofrimento.
- Eu tô aqui, eu to aqui.
A estadunidense a abraça apertado, fazendo carinho em seus cabelos e costas. A reconfortado de formas que Agosti nem lembrava serem possíveis.
Se aproximando a garota consegue ouvir o choro e os murmuros contínuos, seu coração aperta no peito. Acelera seu passo, pronta fazer o possível e o impossível.
Mas assim que para em frente a porta aberta do quarto 206 seu mundo parece desacelerar. Definitivamente ver Andi e MJ abraçadas daquela forma é a última coisa que Emilia esperava ver hoje.
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Fake Dating - Endi
FanfictionAndi Agosti é a baterista rebelde, gênio forte e galinha, que não está nem aí pra nada e ninguém. Emilia Alo é a verdadeira rainha do EWS, a típica mean girl que todos amam ou odeiam, sem meio termo. As duas vivem em pé de guerra desde que se conhec...