À vontade tua
— Isso, uma garrafa, por favor. — vejo seu sorriso crescer ao terminar de fazer o pedido ao garçom, me olhando em seguida e piscando para mim.
Algo sobre Gabriela pedindo uma garrafa do meu vinho favorito num jantar no meio da semana mexe profundamente comigo. Não sei se é por ouvir sua voz rouca pronunciar o nome francês com tanta naturalidade, ou apenas por ser mimada da forma que mais gosto por essa mulher que entende muito bem e compartilha de meus gostos mais refinados e, confesso, esnobes.
— Uma garrafa? Quais são os seus planos, Doutora Gabriela? Está tentando me conquistar? — começo em tom de brincadeira e minha perna encontra o meio das suas embaixo da mesa coberta com uma toalha de linho cinza.
— Achei que já tivéssemos passado dessa fase... Não sei... Quando você se ajoelhou na minha frente e me pediu 'pra casar com você. — ela responde sem esperar um segundo, abrindo seu sorriso grande e apertando minha mão em cima da mesa, se ajeitando na cadeira assim que sentiu minha provocação por baixo da mesa.
O toque de meu celular nos puxa para fora do clima de flerte e logo penso ser Thais com alguma emergência de Maria, olho para Gabriela e vejo que pensou o mesmo pois me olha aflita, alcanço rapidamente o aparelho em minha bolsa. Vejo o nome de Rebeca na tela e respiro aliviada, mostro o celular para Gabriela antes de atender rapidamente. Vejo a mulher à minha frente se preparando para levantar e quando comecei a questioná-la, ela explica.
— Vou ao lavabo, podem conversar mais tranquilamente. — me diz baixinho e me manda um beijo antes de sair.
— Ilana, meu amor, tudo bem? Que música de fundo é essa? 'Tá onde? — a voz cansada de Rebeca toma meus ouvidos.
— Oi, Rebeca, tudo bem sim, pode falar. Aconteceu alguma coisa? — acho que não consegui disfarçar a leve irritação em minha voz, pela interrupção.
— Não, 'tá tudo bem, só queria conversar, é uma boa hora?
— Oh, meu amor, 'tá tranquilo, mas não é ideal. Estou jantando com Gabriela, decidimos conhecer um francês novo aqui pertinho de casa.
— Mas, Ilana, hoje é quinta-feira!? Achei que estaria se preparando para deitar já. O que vocês tanto comemoram jantando fora no meio da semana? — ouço Rebeca dizer, terminando a pergunta já rindo, consigo imaginar perfeitamente a expressão que está fazendo agora, fingindo indignação.
— Ah, Rebeca... Há quase cinco anos que eu venho aprendendo que posso comemorar todos os dias por ter essa mulher comigo, você não tem ideia de como ela ainda me deixa...
— Ai meu Deus, mas não é possível que você vai me deprimir em todas as nossas conversas falando do seu casamento maravilhoso — ela fala rindo novamente, mal me deixando terminar.
— Ah, eu vou sim. Eu e ela merecemos... — digo, rindo junto — Mas me conta, ligou por algum motivo específico, ou apenas saudade da minha voz?
— Saudades, né, Ilana. Não aguento mais uma semana sem te ver, você pode me buscar no aeroporto no sábado? Podemos almoçar depois, leva a Maria que eu também estou cheia de saudade da minha afilhada favorita.
— Claro, meu amor, é claro que eu vou sim. Gabriela vai estar de plantão nesse sábado, eu estava mesmo tentando planejar algo para fazer sozinha com Maria... Mas você não voltaria daqui uns dias ainda? Acho que anotei errado na minha agenda.
— Não, é... mas eu adiantei porque consegui resolver tudo mais rápido que o previsto. E New York não tem a mesma graça sem companhia, lembra da última vez em que viemos juntas?
VOCÊ ESTÁ LENDO
À vontade tua
FanfictionIlana e Gabriela estão prestes a completar o quinto ano de casamento, Ilana deixa a esposa à sua vontade.