Primeiro ato - Perca de Memória

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"A vida é um piano.
Teclas brancas representam a felicidade,
e as pretas a angústia.
Com o passar do tempo você
percebe que as teclas pretas
também fazem música."

Desconhecido.

Boa leitura

O que era para ser apenas mais um dia feliz em minha miserável vida, se tornou um dos meus piores pesadelos. Por minha culpa, por minha maldita culpa acabei fazendo o amor da minha vida se envolver em um acidente. Era para eu estar naquela cama de hospital, inconsciente. Mas era ele, era ele quem estava ali. Dormindo tão tranquilamente, mas cheio de máquinas que estavam fazendo-o continuar à respirar.

Os médicos já quiseram por um momento retirar os aparelhos dele uma vez, mas eu insisti — Insisti para que deixassem por mais um mês pelo o menos. Espero que acorde logo. Estou com saudades. E preciso me desculpar o mais rápido possível, essa culpa está me sugando por completo.

Recentemente, eu também estava em uma cama de hospital, mas diferente de Xiao Zhan, eu fiquei apenas um pouco ralado em minha testa, braços e pernas, nada mais. Mas a pessoa que mais me importava era quem havia se machucado realmente, torcia tanto para que aquilo tivesse acontecido comigo e não com ele. Seria melhor assim.

Todos os dias, após eu melhorar, eu ia ao seu quarto vê-lo para conferir se ele não iria acordar mesmo, mas nada. Mesmo depois de quase dois meses, ele continuava do mesmo jeito. Nem um dedo ele movia em uma demonstração que estava acordado e bem. Infelizmente, nem um sinal de vida. Eu apenas queria vê-lo bem. Feliz. Saudável. Isso era tudo o que eu queria, se pudesse, eu trocaria de lugar com ele. Esse era o meu pior castigo.

Por quê? Por que eu não o ouvi quando me pediu para esperarmos mais? Por que eu não o ouvi quando ele me pediu para ir mais devagar? Por quê? Por que tive que ser tão estupido? Estava bêbado — ele não estava muito diferente —, mas isso não era motivo, mesmo assim... Por minha culpa agora ele está em uma cama de hospital, respirando apenas por causa dos aparelhos quase fundidos à ele após esses longos dois meses.

Todos os dias — todos os dias eu ia lá. Minha família mal me viam e viviam me ligando, mandando eu ir para casa. Mas eu não os ouvia. Não dava a mínima atenção; minha única preocupação agora era Xiao Zhan, não eles, nem ninguém mais.

Sei que estava sendo egoísta, afinal, eles apenas queriam o meu bem e não eu em uma cama de hospital por conta de um desmaio por falta de dormir e nutrientes em meu corpo, mas eu não conseguia. A enorme fome que antes me consumia, sempre guloso, agora se degradava pouco a pouco. As enormes olheiras presente abaixo dos meus olhos mostravam o quanto eu não havia dormido.

Estava eu junto a senhora Xiao, mãe de Xiao Zhan, sentados ambos no sofá dentro daquele quarto mais uma vez. Sentados, quietos, olhando fixamente apenas para o garoto dormindo em cima daquela cama dura à espera de um menor movimento que ele pudesse dar.

— Me desculpe — Disse. Sem controlar a língua ou aquela culpa que me invadia as entranhas sempre que à via, ou o garoto.

— Pelo o quê? — Voltando a sua atenção à mim, sentado ao seu lado, a senhora uns vinte anos mais velha que eu, olhou para mim com seus olhos marejados e a voz meio embargada mesmo que ainda tentasse a deixar firme.

— Por tudo. A culpa foi toda minha por ter provocado esse acidente. Eu devia tê-lo obedecido. Sei que devia ter falado isso antes, mas... Eu só não tive coragem o suficiente para isso. Me desculpa mais uma vez.

Com meu rosto abaixado, olhos fechados, segurando as lágrimas que insistiam em escapar dali e fungando fraco e baixo para não fazer barulho, acabei por sentir um toque inesperado. Quando dei por mim, ela estava com sua mão áspera sobre o meu cabelo, acariciando a área ali, provavelmente com ternura e talvez me desculpando mentalmente, ou apenas querendo tirar aquela culpa das minhas costas.

Para me fazer lembrarOnde histórias criam vida. Descubra agora