21.08.2011
Os domingos movimentados e barulhentos não eram novidade alguma na casa de Griselda.
A portuguesa fazia questão de ter a família por perto nos momentos de folga, quando se via longe do hospital em que trabalhava.
Amava muito sua profissão, seu cargo como cirurgiã ortopedista em um local onde era valorizada e todo o reconhecimento que conseguiu com tal, mas amava muito mais sua família – os três filhos, o netinho e a nora (é, podia-se incluir Teodora nisso).
Mas naquela tarde, em que já se passava das 17:00, ela agradeceu por ter um breve momento de paz e silêncio em sua casa.
Quinzé e Teodora decidiram levar Quinzinho para brincar um pouco na praia, logo depois do almoço. Antenor permanecia estudando em seu quarto, focado nos estudos para a 1ª fase de sua prova de Residência Médica. Amália saiu com o namorado, Rafael, para irem na festa de aniversário de um colega de trabalho dele.
E Griselda? Bem, ela estava tranquila na sala de estar, deitada preguiçosamente no sofá da sala enquanto assistia um filme qualquer na TV. Quase cochilava com o filme de comédia romântica já perto do final quando tomou um pequeno susto ao ouvir o som da campainha sendo tocada. Olhou para o relógio em seu pulso esquerdo, já imaginando quem deveria ser àquela hora.
– Cadê o povo dessa casa, Grisi? – Celeste logo perguntou assim que foi atendida pela amiga.
– Percebeu o silêncio, não é? – a portuguesa riu. – Quinzé teve a ideia de levar o Quinzinho para brincar um pouco na praia.
– Melhor ideia para fazer uma criança gastar energia – brincou.
Na mesma rua, algumas casas mais à frente, morava Celeste - a melhor amiga de Griselda. Geralmente, aos domingos, ela aparecia na casa da portuguesa, já que durante a semana elas conseguiam se ver bem pouco por conta de seus compromissos.
Na verdade, dizer apenas que Celeste era a "melhor amiga de Griselda" era resumi-la a bem pouco. Tinham se tornado praticamente irmãs em meio a muitas dificuldades que enfrentaram juntas, já que, em muitos casos, só podiam contar uma com a outra.
Quando ficou viúva, a portuguesa recebeu toda a ajuda do mundo da amiga, o que retribuiu anos depois, assim que a morena tomou coragem e denunciou o marido por violência física.
Por tantos anos de amizade, sabiam muitas coisas uma da outra. Sonhos, desejos, medos, decepções... coisas que não compartilhavam com mais ninguém.
– Como foi o movimento no restaurante essa semana? – a portuguesa perguntou, já de volta à sala de sua casa, com Celeste ao seu lado.
– Melhor do que na anterior – respondeu empolgada, enquanto se acomodava com a outra no sofá. – Já notei que alguns clientes estão se tornando frequentes.
– Fico feliz que as coisas estejam dando certo. E a Solange? Vocês discutiram de novo?
– Não. E por incrível que pareça, ela melhorou bastante desde a nossa última briga – falou. – Acho que ela percebeu que a vida não se resume ao bendito baile funk, e que ela tem responsabilidades.
– Claro. Mas não se esqueça que a sua filha acabou de fazer 17 anos – Griselda alertou. – Ela é adolescente, só quer fazer o que os amigos da mesma idade fazem para não se sentir deslocada e excluída – explicou. – Óbvio que você tem que proteger ela, mas cuidado para não sufocá-la.
– Às vezes é tão difícil perceber que a minha menininha cresceu... sei lá o que ela vai querer fazer depois de completar 18 anos. Tenho tanto medo dela querer ir embora...
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finer feelings | versão definitiva
FanfictionTrinta anos depois da última vez em que se viram, Griselda e Tereza Cristina se reencontraram de maneira inesperada - ao mesmo tempo em que tomavam conhecimento de que, a partir dali, seriam colegas de trabalho. Já mulheres feitas, com suas famílias...