Ela era o tipo de mistério que eu ansiava em desvendar.
Era bela, Deus, como era. Vestia sempre roupas que realçavam seu corpo - até quando era calça jeans e uma simples camiseta -, e o cabelo caía por seu rosto, fazendo com que, se quiséssemos olhá-la por inteiro, tinhamos que esperar para que colocasse-o para os lados.
Mas eu podia vê-la por trás das máscaras.
Ela sempre acendia um cigarro no final da aula, encostava-se em seu carro e me observava de longe. Era sexy, sabe. Sempre vê-la ali. A fumaça saindo de seus lábios, dançando com o vento. Seus olhos escuros encarando-me, mesmo as vezes por trás dos óculos. Convidando-me. Clamando-me. Ela nunca veio até mim, sempre tinha que ir atrás dela.
Pois era o tipo de mistério que sabia que eu queria desvendar.
Ela nunca aparecia sem maquiagem. Seus olhos castanhos estavam sempre envoltos por uma preta camada de delineador e lápis borrado, mas era algo bonito. Não parecia sujo, ou algo largado. Parecia ela. Fazia parte dela. As pessoas diziam que escondiam seu rosto, impediam de saber se sua beleza era natural.
Mas eu podia ver como era por trás das máscaras.
Sorria para mim com os lábios vermelhos, brilhantes e convidativos. Sussurrava palavras em meu ouvido; eletrizantes. Às vezes me beijava, e às vezes me obrigada a falar.
Sentava-se ou ficava em pé, calada, olhando-me atentamente como se tivesse medo que, se piscasse, pudesse perder alguma coisa. E sempre, sempre, sempre, tocava-me no rosto e sumia como fumaça, me deixando plantada lá. Querendo mais.Ela sabia que era o tipo de mistério que eu não descansaria até desvendar.
As poucas vezes que realmente cansava de ouvir ou de beijar, contava sobre seus filmes, atores e livros favoritos. Ou sobre as músicas que ouvia, que aprendia. Até como odiava comer ovos no café da manhã, mas os amava para o pão no fim de tarde - coisas do tipo. E eu, como companhia, escutava em silêncio, aproveitando seus raros momentos de se expressar. E, antes que ela achasse uma oportunidade de ir, roubava um pouco de sua fumaça e colocava dentro de mim.
Comecei a entender como era viver por entre máscaras.
Uma noite ela pulou para dentro do meu quarto, beijou-me as pressas e pediu para que não pensasse. Segurei a vontade de lhe questionar, mas suas mãos geladas logo puxavam minha camisa pra cima e beijavam minha pele ardendo em chamas. Quando terminamos, olhou-me nos olhos por segundos que pareceram eternos. Olhou mesmo, pela primeira vez. Seu castanho pareceu envolver o verde do meu e criar uma cor única, diferente de tudo que já tinhamos visto antes. Ela tremeu, pulou da cama e antes de ir, tocou-me no rosto uma última vez.
Ela era o tipo de mistério que eu começara a entender.
Nas semanas seguintes parecia um iô-iô. Às vezes sorria, às vezes calava, às vezes cerrava os olhos e desafiava-me para a vida. Tinha as horas que rebatia grossa, e outras que puxava-me para os cantos vazios e atacava meus lábios. Mas chorava também. Chorava e se recompunha rápido. Tocava meu rosto, beijava a pontinha do meu nariz e sumia como se nada tivesse acontecido. E eu sabia o que estava acontecendo.
Ela percebera que eu descobrira como era viver com máscaras.
Então, quando confessara seu amor por mim, ela não só entregara suas palavras, seu corpo, seus olhares, os cigarros, as histórias. Ela entregara as pistas que fechavam o mistério. Me entregara o que faltava, o que eu precisava para ter certeza.
Seu nome era Camila Cabello. E eu era completamente apaixonada pelo mistério que nos tornamos.
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