"What you think, you can become.
What you feel, you can attract.
What you imagine, you can create."
–Buddah
Faz muito tempo. Foi a muitos anos atrás.
Mas eu não consegui esquecer daquele rosto caricato, aquela máscara e vestimenta negra que ao mesmo tempo que destruiu tudo o que eu tinha construído, reinventou o mesmo tudo. Até mesmo o significado das palavras.
Nunca vi seu rosto, mas sua voz criava uma imagem dele para mim. Não uma aparência física, mas uma verdade ilusória que, de tanto acreditar, se fez real.
Eu via nele um reflexo. Reflexo de um povo calado e sufocado pelo medo, porém mais que como uma sombra, aquela interior de cada um, tão reprimida que mesmo escondida nunca era esquecida, quanto mais se negava mais forte ficava, esta um dia explodiria. A vingança. E logo mais como esta mesma bomba, virou pó.
Este fatídico dia não seria outro diferente daquele da qual o perdi. A dor por mais que não se transparecesse e eu a aceitasse, nunca ia embora. Estava ali, como um pequeno demônio que crescia sobre meus ombros e a cada cinco minutos me lembrava de que eu havia o deixado sozinho, de que talvez eu poderia ter feito alguma coisa. Mas será mesmo que poderia mesmo?
Sufocava-me viver num mundo onde ele não estava, e isso talvez era também um símbolo, mas este... Diferente daquele plenário, indestrutível. Laços são símbolos indestrutíveis.
Por mais que eu seque essas lágrimas exteriores, as que caem para dentro de mim não pretendem cessar. A saudade do inalcançável, do que nunca foi seu, dói muito mais do que aquilo que em algum momento te disse adeus. Eu não disse adeus a ele, mas eu o ajudei a partir.
O vejo mesmo quando ele não está ali, nos momentos mais cotidianos.
As vezes preparando meu café da manhã o vejo no cheiro da manteiga que percorre o ambiente, chego a ouvir sua suave voz citando trechos de livros da qual minha mãe lia para mim...
'Você era como minha mãe.'
Via ele ao voltar do trabalho e olhar o telão do prédio, quase podia sentir o cheiro de seu perfume. Doce... De rosas.
O vermelho das rosas da floricultura eram seu próprio retrato, sempre comprava uma rosa ao voltar para casa, apenas para lhe ver por mais tempo. Mas logo sumia novamente... Se explodia.
Aquelas ruas não eram mais as mesmas, nem mesmo reconhecia as pessoas. Todos foram enterrados naquele cinco de novembro, renascendo das cinzas como fênix que já estavam prestes a morrer.
Morreriam se não fosse por ele... Por sua audácia e paixão pela liberdade, esta que nenhuma outra alma sã teve coragem de reivindicar. Se não fosse por aquela persona dramática, como chamava a si mesmo em suas breves apresentações, que mundo estaria vivendo agora? Se é que estaria.
'Você mudou o mundo.'
E não apenas o exterior visível àqueles jovens olhos humanos, janelas da alma da qual, sim, havia mudado. Seu mundo interior, dentro de si florescera sentimentos nunca antes vistos, nascidos do primogênito ódio, amadurecido no fulgor de um martelo de ferreiro, que transformaram aquela pele numa armadura. Aquele ódio de fraqueza a fez enxergar um sentimento muito mais forte... Algo que superava a barreira da vida.
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EVEY | Um tributo de V de Vingança
FanfictionPor mais que eu seque essas lágrimas exteriores, as que caem para dentro de mim não pretendem cessar. A saudade do inalcançável, do que nunca foi seu, dói muito mais do que aquilo que em algum momento te disse adeus. Eu não disse adeus a ele, mas eu...