único

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Dar o seu melhor. Dizem que há dois caminhos, um do bem e outro do mal. O do bem é você se esforçar e vencer, já o do mal é você se entregar à tristeza porque esse se torna o caminho mais fácil de trilhar. Era isso que pensava um rapaz de cabelos loiros, que a cada dia se sentia mais descrente e a possibilidade de se entregar à loucura parecia ser possível.

Sanji se levantava cedo para quando Zoro acordasse, o café já estar pronto. Não havia muito dinheiro desde que fugiram de casa, moravam num apartamento apertado e caindo aos pedaços. A mesa do café era simples, Sanji nem ao menos colocava uma toalha. Mas Zoro sempre lhe dava um beijo que ainda tinha o gosto de café, isso fazia com que pensasse que valia a pena continuar.

No metrô, ao caminho do trabalho, Zoro adormecia sobre seu ombro e seu rosto se avermelhava de felicidade, tinha um namorado carinhoso e que não se importava com as pessoas cochichando ao redor. Por mais que fugissem, ainda haveria esses olhares opressores que dominavam o mundo. Zoro gostava de os responder segurando firmemente uma de suas mãos para provocá-los. E às vezes, Sanji achava um exagero Zoro querer mostrar que eram dois homens apaixonados um pelo outro. No fundo, desconfiava que tudo não passava de uma insegurança e que por isso precisava de se reafirmar tanto, até porque não era nada fácil seguir o caminho que decidiram trilhar e abrir mão de todo o conforto que a casa de seus pais oferecia. Sanji não o julgava, porque ele próprio se indagava se valia a pena ou não.

O trabalho lhe exigia ser rápido, era ajudante de um restaurante de lamen e nem ao menos assinavam sua carteira, mas Sanji precisava dar o seu melhor para poder continuar ao lado de Zoro naquela estrada cheia de buracos e que os levava para cima. Ele se perguntava o que haveria no topo e por conta dessa curiosidade, aguentaria até mesmo as provocações dos cozinheiros. Sanji ouvia chamarem-no de "afeminado", quando precisava se retirar do trabalho para fumar. Nessas horas sentia saudades do beijo de café para renovar sua fé.

Na volta, o metrô era mais vazio e a noite já dominava o céu com sua lua e mais as estrelas. As luzes da cidade passavam como flashs de uma câmera fotográfica em desuso, deixando um rastro como listras vermelhas, amarelas e azuis, que Sanji achava parecido com as marcas que Zoro fazia na sua pele alva depois de uma foda. Ultimamente, essas fodas têm sido tristes. Sanji ganhou o hábito de perguntar se ele iria lhe deixar algum dia. Uma pergunta um tanto chata de responder quando ambos sabiam que não estavam felizes com a nova rotina. Zoro costumava beijar suas pálpebras e uma lágrima descia quente em seu rosto. Apertava mais forte o seu corpo e Sanji lhe respondia com a mesma intensidade. Era chato chorar após um sexo quase toda noite, mas não tinha como reagir diferente, quando sentia que estava seguro em seus braços. Nesse momento, pensava que valia muito a pena trilhar o caminho mais difícil e saber o que haveria no topo daquele trajeto tão íngreme. 

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