the fall.

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Andejava ao topo de um enorme prédio aquele ser angelical; poderia ser praticamente imperceptível devido à escuridão do momento, mas graças às vestes brancas e um lindo par de asas de mesma cor a faziam se destacar. Yizhuo tinha o costume de descer dos céus para observar os humanos. Gostava muito destes seres feitos pelo seu criador, ao mesmo tempo que os invejava profundamente.

Humanos eram livres para fazer o que quisessem, sejam suas atitudes boas os ruins, uma hora suas vidas teriam um fim e seriam julgados por Deus.

Mas Yizhuo sendo um anjo, não possuía tal liberdade. Ela tinha que seguir todas as regras impostas a si, caso não quisesse desertar dos céus e ser punida ou na terra ou no inferno.

Se sentou na borda do prédio para poder apreciar a vista tanto dos veículos quanto das estrelas. Yizhuo se perguntava como era ter uma vida. Como era a sensação da morte? O que aconteceria depois? O que era a dor do luto que todos uma hora ou outra têm de encarar?

Em meio a tantas dúvida, literalmente o diabo surgia ao seu lado. Yizhuo não precisava nem se virar para saber de quem se tratava, mas mesmo assim o fez. "Céus, como aquela mulher era linda." pensava.

— Querendo ter uma vida mortal novamente, Yizhuo? — Riu o ser de cabelos negros, sentando-se ao lado da menor logo em seguida.

— É..talvez. — Voltou sua atenção as multidões abaixo de si. — O que faz aqui, Aeri?

— Apenas estava vagando e vi uma bela anjinha, ai decidi pousar aqui. — Explicou de maneira simples, porém carregava um tom levemente sarcástico. Aeri gostava de tirar onda com a cara de Yizhuo, mas fazia aquilo apenas porque queria sua atenção, talvez mais que isso.

Um silêncio tomou conta, mas nada que deixasse o ambiente muito caótico ou desconfortável, pelo contrário. Apesar de não poder ficar muito tempo ao lado de um ser pecaminoso como Aeri, Yizhuo tinha de admitir que gostava de sua presença.

Aeri era a única que a fazia se questionar se realmente eram justas as leis impostas a si. Como um anjo, Yizhuo não poderia amar ou demonstrar afeto à outros seres que não fossem o seu criador, muito menos ceder aos seus desejos impuros. Caso o fizesse, seria punida severamente e disso ela tinha certeza, pois não fora apenas uma ou duas vezes que vira seus companheiros desertarem os céus por estarem fartos de suas "vidas", acabando por caírem por terra e terem de viver uma vida comum como a de qualquer ser humano sem suas memórias de quando eram os mensageiros de Deus.

Sentiu a cabeça repousando em seu ombro. Sabia que não podia ter muito contato com Aeri, mas nada fez para poder mudar aquela ação, pelo contrário, pôs sua mão direita sobre o rosto dela e fez carinho, arrancando um sorriso da outra.

— Yizhuo. — Chamou-a.

— Sim?

Levantou a cabeça, puxou cuidadosamente aquele rostinho delicado que o anjo tinha para que pudesse lhe encarar e capturou os lábios com os seus, fechando os olhos em seguida.

Yizhuo paralisou por alguns segundos, mas depois fechou os olhos também, desfrutando daquela sensação maravilhosa que lhe preenchia internamente. Era extremamente boa e aquilo a assustava.

Não deveria estar fazendo aquilo.

Ao se separarem, voltaram a se encarar. Aos poucos Yizhuo foi abrindo os olhos, quando encarou Aeri novamente, sentiu suas bochechas queimarem, desviando o olhar rapidamente.

— Nunca mais faça isso. — Disse sem ter coragem o suficiente para olhar nos olhos de Aeri novamente. — Eu não posso fazer isso, Aeri. Eu nem posso ficar perto de você.

Yizhuo se levantou e continuou olhando para baixo. Estava nervosa, muito nervosa.

— Eu não gostos de coisas assim. Não sou como você. — Abriu suas asas, estava pronta para levantar voo, mas ao ver que a maior se levantou também, esperou.

Aeri nada disse, apenas foi se aproximando. Pegou nas mãos de Yizhuo e as acariciou com o polegar enquanto sorria.

— Por que está mentindo, Yizhuo? — Perguntou. — Não sabia que anjos não podem cometer pecados? A mentira se qualifica como um. — Riu de leve, atraindo o olhar de Yizhuo.

— Não estou mentindo.

— Não? Então repita o que acabou de dizer olhando nos meus olhos. — Ficou séria. — Diga que não gosta dos meus lábios, que não gosta da minha presença, que não tem vontade alguma de experimentar mais a fundo o prazer carnal que eu tanto te ofereço. — Silêncio. O anjo desviou o olhar novamente. — Estou esperando sua resposta.

Pôde perceber que os batimentos de Yizhuo haviam acelerado. Realmente era péssima em mentir, até porque não tinha este costume. Sempre que estavam juntas, Yizhuo sentia-se nervosa. Não entendia o porquê de ficar daquele jeito, o porquê de sentir vontade de pular nos braços do demônio e lhe encher de beijos pelo rosto.

Yizhuo recolheu suas asas desistindo de tentar fugir daquela situação, mas ainda sem saber o que responder.

Está tudo bem, Yizhuo. Você não precisa temer nada. — Aeri sussurrou e a puxou para um abraço. Yizhuo escondeu o rosto em seu pescoço, se permitindo chorar pela primeira vez em sua "vida".

Yizhuo assinou a própria sentença quando aceitou os lábios de Aeri novamente.

Sentiu suas asas arderem como o inferno, mas a dor tão pouco se comparava ao prazer que sentia quando os dedos de Aeri lhe penetravam.

Yizhuo foi expulsa do céu.

Foram recolhidas auréola, asas e suas memórias.

O anjo passou a vagar por terra como humana.

Ning Yizhuo era seu nome. 

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the devil knows your name. - ningselle.Onde histórias criam vida. Descubra agora