Recebi, durante a primeira noite, os meus possíveis protetores em minha sala de aula que não era mais uma sala de aula há um bom tempo. Eles eram cinco, farei uma breve descrição das peculiaridades de cada um que me chamaram a atenção, porém, já os informo que não mais me recordo de seus nomes, exceto o último.
O primeiro era um ex-mercenário de guerra que havia abandonado – ou sido abandonado? – o seu grupo e apresentava uma barba asquerosa. O segundo era um senhor de cabelos brancos, fiquei surpreso por Phelipe recrutar um homem dessa idade. A terceira, sim, a terceira era uma mulher, tinha um cabelo negro que estava praticamente raspado, além de uma roupa larga, com certeza escondia algo nelas. Confesso que estou com uma incerteza quanto as suas habilidades, até hoje nunca vi uma mulher que lutasse, mas confio em Phelipe. O quarto sujeito se tratava de um homem que se sobressaia pelo físico anormal, braços grandes, o suficiente para carregar dois porcos gordos, um em cada membro.
E, finalmente, Hélio. A primeira impressão que tive era que ele era desleixado e bárbaro, assim como Phelipe havia me descrito. Foi o único que não mostrou o rosto para mim, e eu não me contive quanto a isso.
– Você deve ser Hélio, o da armadura antiga, irei pedir para que tire o seu elmo enquanto tratamos de negócios, por gentileza – eu disse.
Ele se mexia pouco e falava pouco, levantou a cabeça de forma vagarosa e olhou para mim. Foi interessante que, apesar de sua armadura estar em um estado deplorável (sim, eu fui comedido com o termo armadura antiga), ela era silenciosa como um coelho caminhando pela neve.
– Não posso – respondeu ele.
Eu sou sempre a favor de manter a minha mente em um estado de tranquilidade, mas isso me aborreceu. Eu estava o contratando, ele pisava em minha propriedade e, ainda assim, se recusava a cumprir um pedido tão leviano.
– E por que não? – perguntei a Hélio.
E em silêncio ele permaneceu, posso dizer que me senti como um tolo. Aqui em Córdia há sempre espaço para uma discussão, mas essa pessoa simplesmente não... discutiu. O silêncio não durou muito, até que o da barba asquerosa se pronunciou.
– E por que não tirar ele do negócio e dar a sua parte para mim? Eu valho por três do que qualquer um aqui.
Nisso, o grandalhão forte também não ficou quieto.
– Se for aumentar o preço dele, também vai ter que aumentar o meu.
Phelipe estava no final da sala, próximo da porta e, enquanto todos estavam de costas para ele, com exceção da minha pessoa, Phelipe me deu o seu sinal, o seu aceno de cabeça. Dessa forma, eu reafirmei a minha proposta.
– Não haverá nenhuma mudança do que vocês conversaram com Phelipe. O que foi combinado, está combinado. O valor do pagamento permanecerá o mesmo.
Ouvi alguns murmúrios por parte daqueles que pediram mais dinheiro, tudo dentro do previsível.
– Pois bem, sejamos rápidos e vamos ao primordial. Farei uma breve apresentação e uma síntese do contexto geral, Phelipe irá tratar com vocês o restante. Meu nome, como já devem saber, é Eurípedes Nomikos, dono de uma pequena parcela das terras de Córdia, e serei julgado na primeira noite de amanhã. A partir disso, três cenários são possíveis. Primeiro, sou julgado como culpado e levado para morrer por cicuta como um criminoso comum, improvável. Segundo, julgado como culpado e a minha pena é o exílio de Córdia pelo período de dez anos, mas com uma considerável probabilidade de um assassino contratado me perseguir. Terceiro, sou julgado inocente e a probabilidade de um ou mais assassinos atuar é alta. Entendendo isso, o trabalho de vocês é apenas um, me proteger antes, durante e após a sentença do julgamento.
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O Diário de Eurípedes
FantasíaHá 300 anos o Sol se apagou e a lua tomou o seu lugar. Eurípedes, ávido pelo conhecimento, encontra um indivíduo peculiar, Hélio, conhecido como o guerreiro enferrujado. Juntos, eles partilham de um mesmo objetivo.