CAPÍTULO UM

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—Malessa—

Correr e fugir.

Acho que são as duas palavras que mais me definem. As duas coisas que são tão naturais quanto respirar. Deveria ser vergonhoso. Mas está de noite, e o inverno está chegando. Nada de bom vem com o inverno.

A lua brilha forte no meio do céu estrelado, e a floresta densa ameaça nos engolir enquanto corremos da morte quase certa. Quase. Porque por nós sermos nós, ainda temos alguma chance de sairmos vivos dessa e cumprir a missão sem mais nenhuma perda.

— Por aqui! — grito por cima das passadas pesadas e barulhentas sob as folhas, galhos e terra. De onde estou na frente, olho com rapidez para trás e indico o caminho entre a escuridão. — Rápido, venham mais rápido!

Tem, pelo menos, trinta pessoas ao todo junto a nós. Não pessoas normais. Lobisomens. Ou ao menos o que sobrou deles, da matilha praticamente massacrada que achamos a alguns minutos atrás. Se tivéssemos demorado um segundo sequer... Bom, claramente eu não estaria berrando para que os peludos corressem com o máximo de rapidez que conseguissem, se quisessem viver.

Por mais rápido que estejamos, as criaturas estão perto. Consigo sentir o cheiro pútrido de morte e enxofre se aproximando. Se chegarmos a Nêmesis a tempo, podemos salvar esses lobos.

A capital não fica muito longe, mas para não morrermos em questão de alguns segundos, temos que correr. Então, grito e corro o mais rápido que posso, sem deixar eles para trás.

Fico aliviada por termos chegado antes de ser tarde demais. Eram mais de quarenta pessoas, mas foram mortos pelas criaturas infernais que nos perseguem agora, decididas a terminar o trabalho.

Olho para o lado e vejo meu irmão guiando o caminho junto a mim, forçando as pernas para frente enquanto lidera pelo caminho mais rápida e de fácil acesso, já que as árvores chegam a ser um problema para quem não sabe os segredos e artimanhas dessa floresta.

Ainda bem que estamos familiarizados com cada centímetro desse lugar úmido e esquecido pelos Deuses. Rumo à segurança que nos espera a poucos metros, não me dou ao luxo de vacilar em um só passo.

Um grunhido gutural soa longe, mas perto o suficiente para me fazer avançar ainda mais a corrida. Com esse ritmo não vamos chegar onde precisamos. Não a tempo.

Meus instintos pulsam tão forte, que os sinto nos meus ossos, sangue e pele. Mesmo respirando ofegante sinto a mudança no ar. O mesmo fedor das criaturas lá atrás, só que mais forte e mais denso. Mais perto.

Paro de súbito, e os outros fazem o mesmo, quando um Feral surge à frente, empatando de seguir o caminho para a cidade. Ele respira tão profundamente, que me impressiono com o tanto de ar que ele consegue impulsionar para dentro do peito ossudo e seco.

As garras afiadas e curvas despontando de suas mãos enrugadas e pálidas, as mesmas se contorcendo como se já pudessem sentir a carne nelas. A respiração dele condensa no ar gelado da noite, alheio a tudo ao redor, pois sua total concentração estava inteiramente em nós.

Inclino a cabeça de lado, observando absolutamente tudo e analisando nossas opções. Mesmo no escuro consumidor da floresta, com apenas filetes de luz da lua vindo por entre os galhos espessos como companhia, vejo tudo com total clareza. Uma das alegrias de ser feérica. Escuto a corrida desajeitada e barulhenta dos outros três Ferais que estão vindo atrás da gente.

— Ele deu a volta. — meu irmão fala baixinho, olhando a fera à frente enquanto se aproxima do meu lado.

— Percebi. — se ele notou o sarcasmo, ignorou.

~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~Onde histórias criam vida. Descubra agora