Capítulo 35

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VH 🌪

O mundo caiu na minha cabeça quando a Maria Eduarda entrou no hospital correndo, dizendo que os cana estavam tentando subir pra pacificar.

Na hora eu enlouqueci.

Por que o Terror não tinha me avisado? Por que ninguém tinha me avisado?

Eu devia largar a Laís no hospital e vazar ou continuar aqui?

Duda: Não vai, Vitor - ela segurou o meu braço - Sei lá, liga pra alguém. Manda eles fazerem alguma coisa, mas fica aqui!

VH: É VH - corrigi a garota, tirando o meu braço do dela - Fica aí, eu volto em pouco tempo e tu és responsável por qualquer bagulho que acontecer com a Laís.

Ela me encarou toda xoxa e com o olho vermelho, mas assentiu.

Eu dispiei no meu carro pra entrada do morro, e já próximo eu vi vários canas saindo, em moto, carro, um caveirão e tinha até um helicóptero.

Foi fácil e tranquilo de entrar, eles já tinham vazado e aparentemente tínhamos levado a melhor mais uma vez, sem deixar que tomassem o que é nosso.

Agarrei o meu radinho, que estava no chão do carro.

VH: Tô entrando no morro, porra. O que que tá rolando?

LK: Invasão - a voz dele surgiu, e eu apertei o aparelho com força.

VH: Eles já foram, eu consegui entrar. Onde tu tá, LK?

LK: Na boca, mano. Tô na boca.

VH: Tô voando pra aí. Terror tá contigo?

LK: Não. Terror nem deu as caras.

Eu bati no volante, tentando manter a calma. Só esperava que os porco não tivessem pego o meu irmão.

VH: Qual é a situação no bagulho?

LK: Morador ferido pra caralho, mano. Dia de festa no morro e eles vem com essa putaria. Ninguém precisa deles aqui não, pô. Metem bala em todo mundo e saem como os bonzão! - falou boladíssimo.

VH: Jaé, cuida aí, LK. Já passa a visão pra família ter a assistência que precisa.

LK: Ainda, chefe.

Eu já tava chegando perto da boca quando uma voz diferente surgiu no radinho, fazendo o meu coração apertar pra caralho.

Pedro: VH? - a voz chorosa do outro lado da linha me fez parar o carro, e meu coração errou as batidas, parecia que nem funcionava mais.

Ele nunca me chamava assim.

VH: Oi, cara. Onde tu tá? Tu tá bem? E a Toya? - perguntei tudo de uma vez.

Pedro: Eu quero a minha mãe - soluçou e eu fechei os olhos, encostando a cabeça no banco - Traz ela pra mim?

VH: Onde tu tá, Pedrinho?

Pedro: Nando tá aqui. Junin também tá. A Toya tá com eles. Cadê a minha mãe?

VH: Onde tu tá? Tua mãe tá bem, ela só teve que sair daqui pra tomar remédio, só isso. Logo ela tá de volta, cara. Me fala onde tu tá que eu vou pra aí - a linha ficou em silêncio - Ou me deixa falar com os moleques.

Mais silêncio.

VH: Pedro?

Pedro: Eu acho que eles morreram, dindo. Eu não sei. Eu quero a minha mãe, traz ela!

VH: Quem, cara? Fala comigo. Quem morreu? 

Terror. DG. Laís. Vitória. Pedro.

A minha cabeça dava voltas e mais voltas, e tudo o que cercava eram esses nomes.

Pedro: O Vô e o meu pai - falou, chorando muito - Eu tô no posto. Acho que a polícia matou eles. Vem com a minha mãe e com o tio Terror pra cá, por favor.

Eu demorei um minuto pra conseguir retomar a realidade e ligar o meu carro, voando pra direção do posto. Chegando lá, eu vi como o bagulho tinha sido doido. Tava lotado. Gente correndo pra tudo quanto é lado, e de cara encontrei a Bruna sentada com o meu pivete na calçada. Os dois choravam, um abraçado no outro.

Pulei pra fora do carro, deixando a nave parada ali de qualquer forma. Quando a porta bateu, os dois me olharam. Bruna limpou o rosto e o Pedrinho correu na minha direção, eu me abaixei, sentando com a bunda no chão e ele apertou o meu pescoço com o seu abraço. Eu nem consegui retribuir direito, só rezava a Deus que fosse mentira.

VH: Tu tá bem? Tá machucado? - perguntei, vendo as manchas de sangue no corpo dele.

Pedro: Não é meu - murmurou chorando e voltando a me abraçar.

A Bruna se aproximou, e nem conseguia controlar o choro.

Eu tava com medo pra caralho de perguntar. Meu pai era o homem mais amado daquela comunidade, e a reação das pessoas enquanto me olhavam agarrados com o meu pivete ali não me deixava um pingo de esperança.

Bruna: Neguinho está bem. Acordou e está medicado. Ele levou um tiro de raspão no braço, ele segurava a Vitória no colo bem na hora, ela se ralou um pouco, mas já está bem. Só está chorando muito pedindo pelo pai e pelo DG - vi ela engolir seco, e desviar o olhar.

Eu soltei do Pedro, ficando em pé.

VH: Eu não quero saber do Neguinho, Bruna - respondi com o temor na voz - Me fala logo.

Ela negou com a cabeça, e me abraçou. Mas eu continuei parado.

Não. Não podia ser.

Bruna: Foram dois tiros no peito, VH. Eu sinto muito muito mesmo!

VH: Não - neguei com a cabeça, me afastando dela - Não, Bruna! Porra!

Eu tentei andar, mas cai de novo, sentindo o meu rosto molhar e o soluço vir pra minha garganta.

Pedro me encarou por um tempo, e depois se jogou no meu colo mais uma vez.

Vi o Nando sair de dentro do hospital, com o Junin do lado e com a Vitória no colo. Ela tinha um curativo na testa, e outro no joelho. Ele colocou a menina no chão, que correu ao meu encontro, pra também me abraçar.

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