Prólogo

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Harry bebeu mais um copo de whisky da mesma maneira que beberia um copo de água numa tarde quente de verão. Sentiu o líquido ardente atravessar sua garganta como fogo, incendiando seu peito dolorido e vazio. Não sabia quantos copos havia bebido, nem mesmo entendia o que as pessoas à sua volta diziam. Enxergava apenas silhuetas animadas conversando numa língua estranha, incompreensível, fazendo gestos confusos e sorrindo como se todos os males do mundo tivessem magicamente desaparecido.

Enquanto isso, Harry estava oco. Não existia nada em seu peito além de uma dor aguda e interminável. Não se lembrava de ter se sentido tão profundamente abalado daquela maneira antes na vida. Seus traumas de infância eram quase insignificantes quando comparados ao seu coração dolorido e despedaçado. O álcool conseguia aliviar o sentimento denso e sufocante, mas não o suficiente. No final da noite, a tristeza facilmente o dominava, como se Harry fosse apenas uma criança indefesa com medo do escuro.

Quando estava prestes a virar mais um copo, viu duas sombras aparecerem ao seu lado. A princípio pensou que fosse mais dois clientes, mas as poucas tatuagens que conseguiu — com muita dificuldade — enxergar não deixavam dúvidas; pertenciam a Zayn. Forçou ainda mais a vista quando sentiu o próprio corpo ser levantado do banco e conseguiu ver os olhos azuis e preocupados de Niall o encarando. Harry não sabia se os dois eram fruto de seus delírios ou pessoas reais, mas não fez qualquer esforço para impedi-los de o levar para o lado de fora do bar.

— Harry? Está me ouvindo? — a voz de Zayn soou como um zumbido.

Harry tentou responder, mas sua garganta não obedeceu. Seu corpo inteiro entrou em combustão no segundo seguinte e não demorou muito para que ele vomitasse tudo o que havia ingerido durante toda a noite. Seu estômago expulsou tudo que pôde até Harry perder brevemente os sentidos. Se não fosse por Zayn e Niall, provavelmente teria ficado inconsciente na calçada. Quando terminou de vomitar, sentou-se no chão e encostou as costas na parede de tijolos do bar para recuperar o fôlego. Tudo ao seu redor passou a girar menos, mas ainda se sentia completamente desorientado.

— Harry? — Niall deu leves tapas no rosto do amigo. — Está melhor?

— Vamos para casa. — Zayn murmurou, ajudando-o a se levantar.

Harry recuperou os sentidos o máximo que conseguiu e usou o resto de sua força para se afastar dos amigos. Cambaleou para trás até encostar novamente na parede de tijolos e respirou o mais fundo que pôde. Não sentia suas pernas e podia jurar que as estrelas do céu estavam dançando.

— Não. — foi a única coisa que conseguiu dizer.

— Harry, por favor... — Zayn suspirou pesado e tentou novamente se aproximar do amigo, mas Harry foi insistente em recusar seus toques.

— Eu não vou pra casa.

— Harry, são quatro da manhã! — Niall exclamou. — Passamos duas horas te procurando. Agora você precisa ir pra casa, tudo bem?

— E-eu não v-vou sair d-daqui. — murmurou ele, embaralhando as palavras. — Vão embora.

— Por favor. — Zayn murmurou.

— Deixa que eu cuido disso. — Liam, que até então aguardava no carro, apareceu.

Zayn e Niall suspiraram pesadamente, foram até a HB20 vermelha estacionada na calçada e adentraram no veículo. Harry os observou ir embora e depois encarou Liam. Sentia a cabeça explodir, mas permaneceu imóvel. Sabia que, assim que chegasse em casa, seria devorado pela tristeza profunda mais uma vez. Preferia beber até desmaiar do que provar o gosto amargo do desespero de novo.

— Harry, você não pode continuar assim.

— Vocês não entendem. — murmurou, sentindo o rosto molhado.

"Quando foi que comecei a chorar?", questionou-se, mas não procurou uma resposta.

— Você que não entende! — Liam exclamou. — Acha que é o único que está sofrendo? Acha que essa dor é exclusividade sua?

— Eu perdi ele, Liam. — gritou, tomado pelo desespero. — Louis está morto! Ele não vai voltar. — os soluços vieram tão implacáveis quanto a dor. — Eu não consigo suportar, eu...

— Você acha que só dói em você? Acha que nenhum de nós está sofrendo como você?

— O que você espera que eu faça?! — esbravejou.

— Que você lide com isso! Você não está sozinho.

— Eu não consigo.

— Você acha que Louis estaria orgulhoso disso? Acha que ele estaria feliz em ver o namorado se afundando na bebida e passando todas as noites se lamentando dentro de um bar como um bêbado?!

Harry não hesitou, deixando a raiva e frustração falarem mais alto, e proferiu um soco em direção ao amigo. Entretanto, sua coordenação motora já estava drasticamente afetada e tudo que conseguiu fazer foi se desequilibrar. Liam facilmente desviou do golpe e o empurrou para a parede outra vez.

— Louis amava Harry Styles, aquele ator sorridente, responsável e gentil. Ele jamais amaria esse bêbado que você se tornou. Para de agir como se você precisasse sentir toda essa dor sozinho e volte a ser o cara por quem ele se apaixonou. Estamos aqui. Somos seus amigos, porra! Você não está sozinho.

— Eu amava ele... eu... — soluçou. — Ele era tudo.

— Eu sei. Vai ficar tudo bem.

Harry não conseguiu mais dizer nenhuma palavra, pois se rendeu ao abraço apertado de Liam. O choro não cessou nem por um segundo e as imagens de Louis dançavam em sua mente como uma doce tortura. Naquele momento, seu coração vazio e despedaçado desejou com todas as forças ter Louis de volta. Desejou desesperadamente, como se fosse a única coisa que precisasse fazer.

Maniac  (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora