Londres; Oxford Street; Sexta-feira; 8:50 da manhã;
O clima estava seco, tudo bem que fosse quase inverno, mas não era apenas o clima físico, e sim o simbólico. Não teria aula na sexta-feira, aliás, provavelmente a aula não voltaria naquela semana. Aquilo seria impossível. Juliette se olhou novamente na frente do espelho. Suas vestes negras espelhavam perfeitamente como estava seu humor e a coloração embaixo dos seus olhos. Não conseguia dormir e era capaz de apostar um dedo que ninguém tinha feito. Prendeu parte dos cabelos para trás, deixando à mostra o seu pescoço. Observou-o durante alguns segundos. Quando o vento gelado vindo da janela lhe tocou a pele da nuca, ela repensou e soltou-os novamente. O pescoço a mostra só a tornaria mais indefesa. Mais do que já era... Seu vestido preto cheio de babados nunca fora tão triste. Fechou o blazer cinza com risca de giz que usava por cima, vendo pela janela que a árvore já estava coberta por uma fina camada de gelo. Sua meia-calça protegeria suas pernas do frio. Resolveu passar um pouco mais de blush para que seu rosto não ficasse tão pálido: pálido de susto, medo e desaprovação...
Ouviu duas fracas batidas na porta, virou apenas as suas íris para olhar, seu corpo permaneceu imóvel. A cabeça de Gil adentrou o quarto, seu semblante era tão chateado e assustado quanto o dela. Talvez até mais... Vestia um terno preto bem passado.
- Ju, vamos? - perguntou com a voz baixa. Provavelmente pela impossibilidade de elevar seu tom. Ela apenas consentiu e seguiu com passos lentos até o primo, que a abraçou pelos ombros.
- Não tenha medo, minha baixinha. - sussurrou pra ela, tentando parecer convincente. - Eu não vou deixar que nada lhe aconteça. Eu te amo.
Juliette também tentou abrir os lábios para manifestar o quanto o amava, mas foi incapaz. Seus olhos apenas se encheram de lágrimas e ela agarrou o terno do primo, ficando ainda mais próxima a ele.
Londres; Cemitério West Norwood; Sexta-feira; 9:10 da manhã;
Toda a Highgate tinha comparecido, era impossível para Juliette enxergar o padre que falava, ainda mais o caixão da senhora Paskin, que a uma hora dessas já devia estar descendo rumo ao lugar onde ficaria durante um longo tempo. Vários alunos vestidos de preto escondiam essa paisagem nada agradável. Gil, Ju, Thais, Pocah e Kerline preferiram ficar um pouco mais afastados do grupo, embora ainda ouvissem a missa. Apesar de estarem juntos, não tinham trocado palavras significativas, apenas um silêncio melancólico e uma compreensão mútua de que não seria o último incidente como esse. Juliette e Gilberto estavam abraçados, como se compartilhassem a dor do outro. A garota nunca se sentiu tão grata por ter um primo tão atencioso e carinhoso. Ele era tudo o que ela precisava no momento. Ficaram mais alguns minutos em silêncio, apenas ouvindo o padre.
- E com a graça do Senhor, - ele disse. - que agora a senhora Amélia Joane Paskin descanse em paz. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...
Todos completaram em uníssono:
- Amém.
As pessoas deixavam o local enquanto os coveiros eram encarregados de jogar a terra sobre o caixão. Juliette sentia o vento gelado no rosto, mas nem isso a fazia ter vontade de fechar os olhos, mais do que nunca queria ver. Observou Lumena passar por ela, com a sua cara de abobalhada mais deprimida do que de costume. Pouco atrás vinha Karol, com seu aspecto imutável de completa indiferença, ju sentiu asco dela por isso. Ela passou pouco antes de um rapaz magrelo, amarelado e de aparência doente, que a garota nunca tinha visto, mas que virou seus olhos para ela com um interesse no mínimo digno de nota. Segundos depois vinham Flay e Vih. As duas conversavam leves, como se estivessem apenas fazendo um passeio pelo shopping. 'Patéticas', Juliette pensou. Algumas pessoas desconhecidas passaram, até que Ju avistou Bill, juntamente com um rapaz de cabelos crespos formando um lindo black power. A expressão dos dois era praticamente a mesma: olheiras e semblante de pânico, de quem seria capaz de gritar com o passar de uma folha. Não os julgou, pois ela e os amigos passavam a mesma impressão. Queria acenar para o moreno e mostrar que estava ali, mas foi incapaz de fazer qualquer movimento nesse sentido, ainda mais porque avistou mais a frente, atrás de uma cruz de mármore, uma garota solitária em seu vestido negro. Um vento ainda mais gelado passou, trazendo alguns cabelos para frente dos olhos da menina. Para algum supersticioso, talvez, aquilo significasse um mau presságio, mas não pra ela.
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GHOST - SARIETTE | ADAPTAÇÃO
Mystery / ThrillerE se de uma hora pra outra você se visse envolvida em um mistério num lugar que mal conhece? Você correria? Se esconderia? E se todos os seus amigos estivessem envolvidos? Se em todos os lugares por onde você passasse, as pessoas te olhassem torto?