Flashback
Acordei escorado na parede, encima da cama, naquele quarto enorme. Senti um leve peso no meu colo e observei em silêncio Tharn com a cabeça deitada lá, parecia estar apagado. Me desesperei por um instante, preocupado, mas assim que coloquei a mão sobre seu peito, o percebi subindo e descendo; ele estava respirando.
Respirei profundamente junto a ele, aliviado. Passei meus dedos sobre o cabelo escorrido dele, alisei sua testa e sorri com o coração quente. Tão lindo. Fiquei mais alguns instantes na mesma posição, até que decidi me levantar.
Mas antes, pousei meus lábios em sua testa, senti-a morna, foi tão leve que por um momento curto, éramos um casal aleatório e normal. No entanto, assim que deixei sua cabeça no travesseiro e desci da cama, a sensação passou e o amargo da realidade me fez fechar os olhos junto com um suspiro.
Nem tudo que queremos, podemos realmente ter. E sinto que fingir que as coisas são como queremos, sem ser, nos afunda ainda mais nos nossos delírios ilusórios de uma vida que não temos. No momento em que comecei a pensar sobre o quanto eu queria namorá-lo e termos algo sólido, a realidade bateu em mim como nunca antes. E juro, sempre fui 'pé no chão' com meus objetivos, nunca fantasiei nada, nem teria como.
Carregando o peso do corpo, fui bisbilhotar o quarto. As duas poltronas com cores ultrapassadas, como aquelas poltronas Reais ou muito velhas, o quarto pintado com o mesmo tom amarronzado claro. Penteadeira, mesinha de centro, todas espalhadas pelo grande espaço.
Esse quarto deve ter uns 200 anos, sério, ou mais. Apesar disso, não estava tão acabado, o papel de parede estava bem conservado, os objetos também. Só tinha uma aparência de velho. Bem velho.
Resolvi sair para conhecer mais, e ao abrir a porta dei de cara com um corredor consideravelmente extenso, com quatro portas, duas de cada lado do corredor, o que me pareceram ser outros quartos, já que o tamanho do espaço de uma para a outra era exatamente o do que me encontrava. Eu estava no último deles. Fui tentando abrir as portas, e só consegui abrir uma delas, a primeira, do lado direito do corredor, bem no início dele.
Dei uma olhada para baixo, na longa escada que descia para o que parecia ser a sala e enfim, empurrei a maçaneta, entrando no quarto. Era bem parecido com o outro, velho do mesmo jeito, com os mesmos móveis e um guarda-roupas enorme que cobria quase toda a parede. A cama grande me parecia atrativa, era enorme e visivelmente confortável. Por um instante senti vontade de deitar nela e rolar, talvez dormir mais um pouco, descansar a coluna...
Pensei nisso por um bom tempo, parado de frente para ela, e só me dei conta disso quando um galho de uma árvore bateu no vidro da janela, ao ver sua sombra e o barulho de ranger. Balancei a cabeça e continuei caminhando até o guarda-roupas. O abri, me sentindo um pouco estranho por está sendo tão enxerido.
Havia poucas peças, comparado ao grande espaço daquelas duas primeiras portas; apenas alguns casacos de pele, veludo e um roupão vermelho vinho. Era lindo. Extremamente lindo, fofo, pude senti-lo escorrendo pelo meu corpo e ver o quão bonito ficaria em mim. Isso só de encará-lo. Prendi o lábio nos dentes por um instante, um pouco confuso e incerto, antes de pegar a peça e tirá-la do cabide, com pressa. O cheiro era quente, tão caloroso quanto a cor extravagante, como se fosse novo. Nem de longe tinha a aparência dos móveis daquela casa.
Por algum motivo quis tirar toda minha roupa e vestir aquela peça, como se fosse loucura não fazer isso. E então eu fiz. Fiquei apenas com minha cueca preta e me cobri com o roupão, sem pensar duas vezes.
Juro por tudo, que quando vesti senti como se estivesse no ápice da minha beleza, no ápice da minha segurança, no ápice da minha inteligência, habilidades, no ápice da minha... da minha gostosura, pra ser bem claro. E talvez soe deselegante, mas a sensação era perto o bastante de um orgasmo mental e corporal. Eu me senti um deus, um daqueles da Grécia que ninguém toca. Eu sabia, naquele momento, que nada poderia me abalar.
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My Body, Your Soul (MewGulf-TharnType)
ParanormalTudo que sou Nunca poderei ser sem ser você Pois Somos tudo que nunca fomos sozinhos Uma parte de nós Construída sem nossa permissão Somos um conjunto que nunca poderá coexistir Éramos pra ser? Também disponível no *Spirit Fanfic*