O Julgamento - Parte I

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O Julgamento – Parte I

Hoje o meu julgamento foi efetuado e escreverei aqui os seus primeiros detalhes.

Eu estava ansioso, acordei durante a segunda noite, com o brilho da lua quase ausente, assim como são as segundas noites, escuras e frias demais para qualquer um sair de casa. Ainda não consigo imaginar em minha mente esse ciclo de dia e noite que existia no mundo antigo. A areia da ampulheta estava perto do fim, um pouco antes de a primeira noite iniciar e a lua começar a emitir a sua branca luz, o mais perto do que temos de um sol.

Um sol, uma bola de fogo vermelha, uma junção do que seria um número infinito de lamparinas a óleo, não consigo conceber. E como é curioso pensar que era isso o que aquecia o dia a dia de todos, esse sol que trazia a luz e o calor para as pessoas. Tal fato me faz questionar a sua verdadeira posição. Ele realmente apagou? Sua luz desapareceu da mesma forma como uma lamparina a óleo faria quando sem óleo? Se sim, porque ainda conseguimos viver nessa terra sem congelarmos? A segunda noite é sempre mais fria que a primeira noite, momento esse em que a lua brilha com intensidade, é ela que nos aquece? Não sei, tenho poucas ou quase nenhuma resposta e muitas dúvidas, será meu trabalho pensar sobre todas essas ideias quando o meu destino em Córdia for decidido, então falemos sobre ele.

Phelipe me cumprimentou como de costume depois de eu sair de meus aposentos, ele estava ali guardando a minha casa junto com aquele senhor que recrutei. Perguntou a mim se eu estava bem e respondi que estava ótimo e preparado. Tento nunca de fato deixar transparecer aos outros o que sinto, mas Phelipe sabia me ler bem.

Indaguei a ele onde estava o restante das pessoas que havia contratado.

– Bétrys e Hélio estão nos aposentos próximos do jardim, aqui ao lado. O Mael e o Tudur ficaram no aposento de quarto único perto da saída da propriedade, assim como foi pedido pelo senhor.

– Perfeito, Phelipe. Foi óbvio que seriam esses dois a ficarem lá. Agora devemos ir à praça central, Timur e os outros já estão se reunindo, provavelmente. Quero que todos me acompanhem, inclusive, esses dois, Miel e Tador.

– Mael e Tudur, senhor.

– Sim, esses dois – respondi. – Vamos logo.

O julgamento foi feito em praça aberta, no mesmo lugar em que discutimos a política. Trata-se de um local que também é usado para peças de comédia e tragédias – e como eu odeio as tragédias. A construção tem um palco com um nível superior onde ficaram Timur e os outros em suas cadeiras. Os curiosos que queriam assistir o que seria do meu futuro ficaram nas arquibancadas de concreto. E lá estava eu, de pé e no meio entre esses dois. Hélio, Bétrys, Phelipe e aquele senhor do qual não me lembro o nome ficaram próximos de mim, enquanto o da barba asquerosa e aquele forte homem ficaram distantes, próximos da arquibancada.

Havia realmente muitos curiosos, acredito que cerca de mais de cem pessoas apareceram para assistir ao julgamento. Fiquei surpreso ao ver alguns de meus alunos na arquibancada, avisei há algumas noites para não virem, poderia ser perigoso a eles. No alto, Timur e os outros seis aristocratas mais influentes de Córdia.

Timur era muito mais velho do que eu e havia cultivado uma grande barba grisalha, esta em tranças. Além disso, tinha um adorno que nunca o vi sem, um brinco de ouro em sua orelha esquerda na forma de um octaedro. Sempre reluzindo e balançando conforme Timur dava um passo. Destaco ainda as suas vestes brancas, pareciam deixar ele mais limpo moralmente do que era de verdade.

– Vamos começar – disse Timur. – Eurípedes Nomikos, filho de Caradawc Nomikos, você é um cidadão de Córdia que jurou prezar sempre pelo bem de nossa cidade, correto?

– Sim – respondi.

– Muito bem. Você será julgado por mim, Timur D'Graof e pelos outros seis integrantes da aristocracia de primeiro nível de Córdia: Elydir Erin, Grigor Leig, Urien Duwtim, Andras Cairo, Brynn Qaifor e Arvel Veidig. As suas acusações consistem em corromper a juventude de Córdia e atitudes subversivas contra as leis da cidade. Você compreende as suas acusações?

– Sim.

– Nesse caso, iremos decidir nesse momento o seu futuro na cidade de Córdia. Declaro aberto o julgamento.

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