Depois disso, eu e Allifer continuamos amigos, porém o que mudou é que estávamos ficando. Em segredo. De vez em quando ele ia até minha casa e ficávamos nos beijando. Nossa relação não era séria, estávamos apenas deixando as coisas acontecerem no seu devido tempo.
- Você não acha que o Allifer anda muito próximo com aquele tal de Diego?
Ouvi vozes ao redor cujas me chamaram a anteção, era a Laura e mais uma amiga sua. Ao perceber que aquilo se tratava de mim e do Allifer, me escondi antes que elas pudessem me ver.
- Sim, ouvi boatos de que Allifer brigou com seus amigos por conta dele, achei muito estranho. - Respondeu Laura enquanto bufava.
- Você sabia que o Diego é gay? - A amiga de Laura disse em um tom de voz nada baixo.
- É sério isso? - Laura aparentava estar misturada de raiva e nojo.
- Sim, eu estudei com ele no fundamental. O boato se espalhou por diversas pessoas, foi um caos.
- Eu tenho certeza que ele gosta do Allifer. Coitado do Allifer, com certeza nem deve saber disso, até porque o ele nunca se envolveria com garotos, e com o Diego então? Credo.
Ao ouvir aquilo tudo, me aproximei delas:
- Com licença, sim? - Ambas se assustaram ao ouvirem minha voz. Passei por elas e parei. - Próxima vez que forem falar mal de alguém, tenham certeza de que ninguém vá ouvir. - As duas ficaram em silêncio.
Ao chegar na sala, sentei ao lado de Allifer e deitei na carteira enquanto suspirava.
- Você está bem? - Perguntou Allifer enquanto me olhava no fundo de meus olhos.
- Estou sim. - Achei melhor não contar para ele sobre o ocorrido. - Apenas não dormi direito essa noite.
- Entendi. - Allifer assentiu. - Estava pensando, quer ir na minha casa hoje?
- Na sua casa? - O convite que Allifer fizera me fez esquecer totalmente o que acontecera antes com Laura.
- Sim, eu sempre vou na sua, mas você nunca vai na minha.
- Teus pais não vão ficar incomodados?
- Eu moro com meu pai e meu irmão, só tem homens na casa. Eles não vão ligar.
- Tudo bem então. - Aceitei e sorri com esperanças de que isso mudasse meu humor melancólico.
Allifer nunca havia comentado sobre ter um irmão, então acabei ficando curioso de como ele seria. Mas talvez eles não se dessem bem e por isso preferi ficar quieto.Depois da aula, fomos direto para sua casa. A casa era grande e bonita, algo que não me surpreendeu.
- Por alguma razão estou nervoso. - Falei enquanto segurava sua camiseta.
- Não precisa ficar, meu pai não é bravo e ele pensa que somos apenas amigos. - Allifer me deu um selinho.
- Não faça isso aqui fora. - Fiquei bravo. Allifer apenas deu risada e abriu a porta de sua casa.
Ao entrar nela, seu pai me recebeu bem. Seu irmão não estava em casa, então não pude o conhecer.Logo depois de almoçarmos enquanto eu escutava silenciosamente as bobagens que seu pai dizia, fomos para seu quarto.Como adivinhei, seu quarto tinha vários fatores que revelavam o quanto era viciado em jogos. Me sentei em sua cama e Allifer sentou em cima de uma almofada no chão:
- Posso te fazer uma pergunta? - Perguntou Allifer, e antes que eu pudesse lhe responder, ele foi direto à pergunta. - Aconteceu algo no seu passado? Digo, em relação a você ser gay? Se foi incômodo, não precisa falar, mas lembro de você ter comentado sobre várias pessoas saberem que você é gay.
- Acho que se for pra você, não há problemas. - Sorri. - No 6° ano eu comecei a gostar de um garoto, e como eu era muito inocente, contei de meus sentimentos para ele. Não me lembro de seu nome, mas lembro exatamente o rosto de nojo que ele fez na hora. Depois daquilo, o rumor se espalhou pelo colégio, e como ele era o único quem sabia, eu sei que foi ele quem espalhou. Eu sofri bullying durante anos e eu não tinha com quem conversar sobre isso, sempre fui ruim em amizades. Mas agora que cresci, aprendi a conviver com isso e é algo que não me incomoda mais.
- Isso é realmente horrível. - Allifer se sentou do meu lado.
- E você, como descobriu que era demi?
- Quando eu tinha 14 anos, tive uma melhor amiga pela qual eu me apaixonei, eu achava que eu era estranho por nunca ter gostado de alguém até eu conhecer ela, me apaixonar e começar a namorar com ela. Mas descobri que ela tinha um caso com outro e que só namorou comigo pela minha aparência e fama.
- Nossa, foi díficil?
- De início doeu muito, foi a primeira vez que me apaixonei em 14 anos da minha vida e o impacto foi muito grande. - Allifer apoiou sua cabeça no meu ombro. - Depois de um tempo, eu me tornei próximo de um ex colega de classe, tão próximo que nós não desgrudávamos. Eu me apaixonei por ele mas guardei para mim mesmo com medo de como ele poderia reagir. Pra superar ele eu tentei me relacionar com outras pessoas aleatórias, mas eu não conseguia gostar de ninguém com quem eu não tivesse um vínculo. - Ele sorriu olhando para o nada. - Eu achava que tinha algo de errado comigo, até que eu descobri a demissexualidade e percebi que era ali onde eu me encaixava. Foi reconfortante ter um rótulo e deixar de me sentir sozinho e perdido.
- Eu fico feliz por você ter encontrado um termo que te defina e te deixe confortável. - Segurei sua mão e entrelacei nossos dedos. - Eu estaria escondendo meus sentimentos por você se eu não soubesse que você gostava de mim. Aquele acontecimento no passado realmente me traumatizou.
- Eu imagino, e fico feliz por se abrir para mim. As únicas pessoas em quem eu confiava eram meus amigos, mas parece que acabei me decepcionando com eles também.
- Que bom que confia em mim depois de tudo o que já aconteceu.
- Você é o único que gostou de mim pelo meu jeito de ser, e é o único que continua gostando mesmo sabendo minhas fraquezas. Então... - O mesmo segurou minhas duas mãos com força. - Saiba que independente de tudo o que falarem ou fizerem com você, eu vou estar do seu lado, você não está mais sozinho.
Eu deixei escapar um enorme sorriso em meus lábios. - Obrigado, eu também. - Segurei seu rosto e lhe dei um beijo longo, porém calmo.
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Não somos estranhos se nos conhecemos
Roman d'amour"Não fale com estranhos na internet!" - Minha mãe me alertava quando eu era mais novo. Decidi bancar o adolescente rebelde e ignorar esse alerta (desculpa, mãe). Diego costumava jogar todo sábado a noite trancado em seu quarto, era uma rotina normal...