Precipício

17 2 0
                                    

Tomo Sol na praia,
Meu rosto avermelhado,
Minha pele quentinha,
Meu cabelo ao vento,
Meu sorriso,
Minha face ilumina.

Tudo tão belo,
Com um tão bom calorzinho.
Tudo tão perfeito,
Perfeito demais,
Não é mesmo?

Sim,
Até ouvir-se um trovão,
Ver as nuvens escurecendo,
O céu azul,
Agora cinza.

O vento,
Antes brisa,
Agora cortante.
O ambiente,
Antes quente,
Agora gelando-se.

O mar some,
A areia escurece
E perde a cor.
O Sol,
Muito bem escondido.
As árvores,
Antes verdinhas,
Agora mortas,
Sozinhas.

Tudo cinza e vazio.
Vejo ao longe,
Pela neblina encoberto,
Uma faixa elevada de terra,
Um enorme precipício.

A neblina se abre,
Como uma cortina.
Percebo,
No do precipício topo,
Um em movimento ponto.
Magicamente minha visão se amplia,
No ponto se foca,
Vejo o que há pouco não via.

Vejo, agora, nitidamente:
É uma garota magrinha,
Raquítica,
Que anda,
Calma e decidida.
Em direção à borda do precipício,
Caminha.

Ela, de olhos fechados,
Murmurando, baixinho,
Uma calma melodia.
O vento, forte,
A empurrando,
O vento, forte,
A desequilibrando.

Olho em volta desesperada,
Procurando uma forma de pará-la.
Tento correr em direção a ela,
Mas caio para a frente.
Meus pés, no chão fincados,
Com o solo, mesclados.

E a garota,
Para o fim caminhando.
Tento gritar,
Minha voz não sai.
E se saísse,
Se misturaria ao vento.

Impotente e desesperada,
Toco minha garganta.
Meus olhos arregalados,
E por quentes lágrimas,
Meu rosto molhado.

Tudo o que me resta é assistir.
Desolada,
Desabo em meus joelhos.
Caio com o corpo curvado,
A cabeça baixa,
E minha testa,
Na areia encostada.

Observo a garota,
Dando seus últimos passos.
Quando seus pés
Não encontram mais o chão,
Ela cai pelo vazio.

Em algum momento,
Na queda ela se vira,
De costas, seu cabelo ao vento
O seu rosto envolvendo.
Atingindo o chão, morta,
Seu impacto é silencioso,
Como sua morte...
Doloroso.

Sinto meus pés se libertando,
Ouço minha voz
Soluçando
Lágrimas pela pobre garota morta.
Algo em mim,
Estranhamente também se foi.

Corro até ela,
Me abaixo ao seu lado,
Tiro o cabelo de seu rosto,
Olho-a um pouco e ofego,
Assustada:
A pobre garota que morreu...
Aquela garota...
Sou eu.

Da Alma Para Palavras- PoesiaOnde histórias criam vida. Descubra agora